Lisboa, 26 de Abril de 1994 - Júlia Kristeva, romancista e ensaísta francesa de origem búlgara, afirmou há anos que todas as obras literárias são filhas da sua época. Quer a autora dizer que, de uma forma ou de outra, a literatura sofre inevitavelmente a influência do tempo histórico em que é produzida; “mutatis mutandis”, por mais asséptica que a literatura pretenda ser do ponto de vista ideológico, há-de reflectir sempre, sejam quais forem os processos retóricos ou os códigos simbólicos utilizados, as grandes linhas de força da sociedade.
Lisboa, 13 de Maio de 1994 - Apesar de pequenino, o nosso mundo literário é muito mesquinho e mexeriqueiro. Outra das vítimas da nossa pequenez mental, indiscutivelmente mais dramática do que a física, é José Carlos Ary dos Santos. E no entanto, poucos poetas terão tido um coração tão grande. A quase totalidade dos críticos e dos académicos ignoram-no ostensivamente; outros, decerto os mais cínicos, acusam-no de espontaneidade excessiva e de historicamente datado.
Trovador de rara inspiração, com uma veia satírica próxima da de Bocage, terá escrito, frequentemente, sob a pressão do momento; mas, sem perder o rigor formal e sem deixar de escolher a palavra mais adequada e expressiva. Os seus detractores sabem por que o ostracizam.
Trovador de rara inspiração, com uma veia satírica próxima da de Bocage, terá escrito, frequentemente, sob a pressão do momento; mas, sem perder o rigor formal e sem deixar de escolher a palavra mais adequada e expressiva. Os seus detractores sabem por que o ostracizam.
Santa Iria de Azóia, 21 de Setembro de 2011 – Numa recente entrevista concedida ao programa “Arestas de Vento” da Rádio Azul, pelo qual é responsável Ricardo Cardoso, um excelente profissional da rádio cultural, Fernando Tordo teceu uma série de considerações acerca da obra de José Carlos Ary dos Santos, lamentando Tordo, artista que oiço desde sempre com muito agrado, que a obra do autor da letra de “Tourada”, tem sido aproveitada politicamente.
Eu penso que Tordo terá querido dizer que a obra literária, e nomeadamente a de José Carlos Ary dos Santos, tem sido aproveitada pelo PCP, partido ao qual Ary dos Santos terá deixado, em testamento, os direitos de autor futuros, até a obra cair no domínio público. Penso que a obra está integralmente editada pelas Edições Avante e disponível no mercado. O PC, honra lhe seja feita, não tem deixado esquecer o poeta e autor de letras para canções, algumas das quais cantadas por Tordo e que ficaram no ouvido de milhões de portugueses.
Não sei que percurso político teria feito Ary se a velha senhora o não tivesse vindo buscar tão cedo. Não sei eu e Tordo também não. Nunca ninguém o poderá saber. O que sabemos é que Ary dos Santos foi um grande poeta, panfletário muitas vezes, antes e depois do 25 de Abril. Foi panfletário quando quis e assumiu uma natureza diferente também quando quis. E por isso e bem, há textos líricos de Ary de altíssima qualidade, como o próprio Tordo teve ocasião de sublinhar.
Tordo terá querido dizer, ou eu assim o entendi, que a arte se deve manter afastada da política e a política afastada da arte. Eu concordo, em traços gerais com este princípio, ainda que saiba que não há arte “purinha”, ou seja, expurgada de todas as contaminações ideológicas. E temos por aí os casos de García Marquez, Gunther Grass, Saramago, Cardoso Pires, Diniz Machado e tantos outros, cujas obras, de uma forma ou outra, transportam uma grande carga ideológica. E francamente, que mal vem daí ao mundo? Deixam de ser grandes artistas por isso? Fernando Tordo deveria lamentar que os académicos e outros estudiosos tenham colocado uma pedra em cima de Ary, reduzindo-o, infelizmente, às letras das canções.
Foi assim que entendi a parte da entrevista em que o cantor Fernando Tordo se referiu a Ary e ao aproveitamento político que é feito ou tem sido feito da sua obra. E como não concordo totalmente com o que foi dito, deixo aqui a minha opinião.
Eu penso que Tordo terá querido dizer que a obra literária, e nomeadamente a de José Carlos Ary dos Santos, tem sido aproveitada pelo PCP, partido ao qual Ary dos Santos terá deixado, em testamento, os direitos de autor futuros, até a obra cair no domínio público. Penso que a obra está integralmente editada pelas Edições Avante e disponível no mercado. O PC, honra lhe seja feita, não tem deixado esquecer o poeta e autor de letras para canções, algumas das quais cantadas por Tordo e que ficaram no ouvido de milhões de portugueses.
Não sei que percurso político teria feito Ary se a velha senhora o não tivesse vindo buscar tão cedo. Não sei eu e Tordo também não. Nunca ninguém o poderá saber. O que sabemos é que Ary dos Santos foi um grande poeta, panfletário muitas vezes, antes e depois do 25 de Abril. Foi panfletário quando quis e assumiu uma natureza diferente também quando quis. E por isso e bem, há textos líricos de Ary de altíssima qualidade, como o próprio Tordo teve ocasião de sublinhar.
Tordo terá querido dizer, ou eu assim o entendi, que a arte se deve manter afastada da política e a política afastada da arte. Eu concordo, em traços gerais com este princípio, ainda que saiba que não há arte “purinha”, ou seja, expurgada de todas as contaminações ideológicas. E temos por aí os casos de García Marquez, Gunther Grass, Saramago, Cardoso Pires, Diniz Machado e tantos outros, cujas obras, de uma forma ou outra, transportam uma grande carga ideológica. E francamente, que mal vem daí ao mundo? Deixam de ser grandes artistas por isso? Fernando Tordo deveria lamentar que os académicos e outros estudiosos tenham colocado uma pedra em cima de Ary, reduzindo-o, infelizmente, às letras das canções.
Foi assim que entendi a parte da entrevista em que o cantor Fernando Tordo se referiu a Ary e ao aproveitamento político que é feito ou tem sido feito da sua obra. E como não concordo totalmente com o que foi dito, deixo aqui a minha opinião.
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