sexta-feira, agosto 12, 2011

DO MEU DIÁRIO

A Assembleia era no 1º andar do edifício da fotografia

Santa Iria de Azóia, 12 de Agosto de 2011 – Há dias, de passagem por Castelo Branco, rememorei o ano de 1972, que, para mim, foi um ano marcante. Em bom rigor, só passei nove meses desse ano na sede do concelho da minha aldeia natal. Em Outubro, ou ainda em Setembro, vim para a região de Lisboa, onde fui ficando até ao presente.


Em 1972, Castelo Branco era uma pequena urbe com dois quartéis, um liceu, uma escola técnica, dois colégios particulares e uma escola de enfermagem. Tinha portanto, uma população muito flutuante. E tinha ainda dois jornais, o Reconquista e o Beira Baixa. E algumas colectividades, destacando-se o Benfica de Castelo Branco, o Desportivo, o Centro Artístico Albicastrense, o Clube, a Orquestra Típica e a Assembleia. A JEC e a JOC, não sei se as poderei considerar colectividades.Tão-pouco a Mocidade Portuguesa. Mas era da Assembleia, que se encontra no mais deplorável estado de degradação e abandono, que eu queria falar.


Nunca cheguei a perceber cabalmente o funcionamento da Assembleia. Sei que era frequentada por uma certa intelectualidade, nomeadamente professores, mais ou menos conotados com os movimentos da Oposição Democrática (mais CDE que CEUD). José Duarte trouxe jazz e diapositivos, o João Teixeira lançou o livro de poemas RO(S)TOS DO MEU PAÍS e havia também o grupo da música clássica, no qual pontificavam Carlos Ferreira, João Ruivo e também António Matos Pereira. Lembro-me de ali ter assistido à audição e discussão da Quadragésima Sinfonia de Mozart. Com um papel eminentemente cultural, a Assembleia era um espaço democrático e arejado.


A cidade cresceu e ganhou outra vida; mas, vá-se lá saber porquê, eu tenho saudades da cidade que deixei em 1972.

3 comentários:

João de Sousa Teixeira disse...

E o que é que tu querias perceber “cabalmente” de uma associação juvenil com preocupações culturais, em plena ditadura?
Duas ou três coisas que eu sei:
Criada e desenvolvida, não por uma “certa” intelectualidade, mas pela massa crítica e antifascista que existia na altura em Castelo Branco, editava um “jornal” em offset que se chamava Guernica e estruturava-se por secções de música, poesia, teatro e outras, além de/com preocupações políticas e sociais. Obviamente. Aquelas secções faziam trabalho específico nas respectivas áreas e apresentavam com frequência os resultados dessa acção (espectáculos musicais, dramatizações, exposições, bailes e um livro de poemas). Como esta, havia centenas de associações culturais e recreativas em todo o país.
Promoveram-se iniciativas com convidados ilustres, sempre com a inevitável presença da polícia (eram o patilhas e o ventoinha…)
Foi o José Duarte com o Jazz, o António Salvado com A Geração de 70 e um conjunto de audições de música sinfónica, que não sei agora quantificar, entre um sem número de iniciativas então levadas a cabo.
A associação era juvenil. Essa dos professores… o facto de alguns terem enveredado profissionalmente por aí, não quer dizer que à data o fossem, em boa verdade não o eram (ainda) nessa altura.
Finalmente, sobre a apresentação do meu primeiro livro, não foi tal. O meu primeiro livro não teve apresentação especial. Na década de 80, sim, António Salvado fez a apresentação de Corpo de Poema, cuja fotografia consta na apresentação do Corpo de Poema blogue.

Abraço
João

Manuel da Mata disse...

O que eu quis dizer, dito está. Nunca percebi como eram constituídos os órgãos sociais. Nunca conheci os membros da direcção. Nem isso de facto era importante. Sei que se juntavam por ali jovens e gente menos jovens e sei que a classe dos professores contribuía com assistência, no mínimo. Ainda me lembro de uma altercação com um tal Santos Silva e com um professor de nome Damião, que tinha vindo de Salamanca, no dia do jazz.
Posso ter escrito coisas menos precisas, mas não foi minha intenção escrever História. Penso que tudo o que disse cola com aquilo que foi a vida da Assembleia, naquele ano de 1972.

Acho até que falei da Assembleia com respeito e até admiração. Se não o consegui, aqui deixo o meu "mea culpa".Abraço.

Manuel da Mata disse...

Caro Amigo João,

Eu tenho para comigo que as memórias, ou melhor dizendo, o género memórias, deixam sempre um lastro de subjectividade, porque exprimem a visão de alguém que dá uma versão de assuntos vivenciados.
A minha pretensão, e tu sabe-lo muito bem, é não ter pretensão alguma, para além de escrever textos onde dou conta do modo como vi as coisas.

Abraço.