terça-feira, julho 15, 2008

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 23 de Maio de 1994 – Todos os anos, em Maio, me reencontro com Cesário Verde. Grato reencontro, diga-se, porque me permite falar do maior poeta português do séc. XIX, e, quiçá, um dos maiores da nossa História da Literatura.
Ouve-se dizer, com alguma frequência, que Portugal é um país de poetas. Não compartilho desta opinião, que rejeito totalmente, porque no século passado só temos quatro nomes para reter: Garrett, Antero, António Nobre e Cesário Verde. Então parece-me mais adequado falar-se de país de versejadores. Mas é de Cesário que quero falar.
Foi curta a vida de José Joaquim Cesário Verde. Decerto, porque Deus não podia dispensar, junto de si, a voz pouco hierática do autor d' O Sentimento dum Ocidental, para que tudo no céu continuasse eternamente equilibrado. Deixou, contudo, marcas indeléveis na sua passagem breve pela Terra. O Cesário se haveriam de referir dois dos heterónimos de Pessoa: Campos e Caeiro. Um para lhe chamar «Mestre»; o outro, para lhe lamentar a desgraça de ser um camponês preso na cidade, ainda que nela pudesse deambular em liberdade, mais palavra menos palavra.
Ambos tinham razão: sem Cesário não tinha existido Campos tal como o conhecemos; e na verdade, Cesário, o mais citadino dos nossos poetas oitocentistas, amava o campo e a vida em contacto com a Natureza. E á à luz da dicotomia campo/cidade, notada por David Mourão-Ferreira, que é verdadeiramente produtivo ler a poesia de Cesário.

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