domingo, fevereiro 03, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 3 de Fevereiro de 2008 - Os graduados, que eram razoavelmente renumerados, tinham lavadeira. Um familiar do sexo masculino levava e trazia a roupa. E contava-se até, com alguma graça, que os nativos ainda vestiam a roupa suja do tropa, durante alguns dias. Verdade? Mentira? Fica a nota como mera curiosidade.

Os oficiais e os sargentos tinham ainda outros privilégios em relação aos cabos e aos soldados: uma dotação de bebidas estrangeiras, ou seja, duas ou três garrafas de uísque e duas de licores ou outra murraça qualquer. E podiam ir caçar, durante a noite, de Unimog, e ao musseque para tratar de outras humanas necessidades. Ia-se em grupo para cumprir as regras de segurança: cinco ou seis a montar guarda, enquanto um dos do grupo permanecia dentro da cubata. Tudo muito rápido, porque havia de facto alguns perigos, neste fim de permanência portuguesa em terras de Nambuangongo.

Debaixo de uma estrutura em madeira e com cobertura de capim, junto à messe de sargentos, havia uma mesa de pingue-pongue, onde se faziam verdadeiros campeonatos. Recordo aqui um excelente jogador, José Carlos Camarada Videira, já falecido. Era o melhor jogador, apesar de ser um homem com excesso de peso. De resto, o Camarada Videira era um homem de muitos excessos. E por isso mesmo, cedo entregou a alma ao Criador.

Ponho aqui um termo às minhas memórias de Nambuangongo, onde vi passar, felizes, a caminho de Luanda, os últimos homens que serviram em Zala e Madureira. Vi-os passar, felizes, porque eram sítios mais fustigados pela guerra do que Nambo, ainda que nunca tenham tido qualquer valor simbólico. Eram verdadeiros buracos, onde homens de vinte e poucos anos, permaneciam largos meses longe das suas terras e dos seus entes queridos.

1 comentário:

João de Sousa Teixeira disse...

outra vez as memórias, Manel:
De um guerrilheiro da Frelimo:

Este inimigo deixa muita informação e rasto
não pode ser um inimigo tão assim tanto
é um camarada trabalhando no campo inimigo
é pelo menos um agente duplo.

Um abraço
João Teixeira