sexta-feira, novembro 23, 2007

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 20 de Novembro de 2007- Neste mundo globalizado, não há meios de encontrar boas notícias para aqueles que apenas têm para vender o seu trabalho. Em nome da chamada globalização, são surripiados aos trabalhadores europeus direitos que levaram séculos a conquistar. A barbárie está de novo instalada e pelos vistos de boa saúde.

Lídia Martinez, que vive em Paris, dava-me hoje conta daquilo que é o sentimento geral no país de Sarko. Aumentou-se 172% a ele mesmo e permitiu
aumentos à “cambada” que dirige a França e depois diz alto e bom som que as reformas são para levar até ao fim. Da França inteligente – e quantas vezes motor das transformações continentais –, chegam-nos agora estes exemplos de intransigência e pouco cartesianos.

As greves justas, vistas as coisas friamente, são apenas aquelas em que nós nos implicamos. As outras, porque nos criam transtornos, são sempre egoístas e despropositadas. É assim em França, é assim em Portugal e será assim na Cochinchina. E numa coisa, entre muitas outras, a Lídia tem razão: Sarko foi recentemente eleito e os franceses votaram nele.

O meu desejo mais profundo era que a Europa fosse varrida por uma forte contestação, que desalojasse do poder esta gente sem alma nem coração. Mas este é apenas o meu desejo, porque a realidade é bem diversa. E é neste desajustamento que radica parte do meu mal-estar.

*
Almocei com o Antero, no Tico –Tico, que é um sítio agradável e onde se pode comer e conversar. Não nos víamos há meses e falámos de muitos assuntos. Até da Guerra Colonial, que persiste - e algum dia deixará de persistir? – em ser tema para longas conversas. Na verdade, as ex-colónias portuguesas são assim como que uma espécie de síndrome que nos agarrou na juventude e que nos acompanhará até à cova.

De Angola, onde estive apenas um ano, não guardo recordações que me sejam muito gratas, afora as “punhetas” de bacalhau, no GAC-1, e os bares e as “boîtes”, até Março/Abril daquele ano de 1975, porque depois, com o eclodir da Guerra Civil, tudo fechou e Luanda tornou-se a mais triste de todas as cidades do mundo. Apesar de tudo, sou capaz de falar ou ouvir falar, dias inteiros, daquela terra de feiticeiros e feitiços.

Que mosquito me terá picado?


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