domingo, julho 01, 2007

SESIMBRA

Regressado há momentos de Sesimbra, compulsei as páginas do meu
diário, onde encontrei o naco de prosa que se segue.
Sesimbra, 3 de Março de 2003 – Dir-se-ia que as vilas que eu mais amo se estão a tornar sítios de acesso difícil. É difícil ir e estacionar na Ericeira; é difícil ir e estacionar em Cascais; é difícil ir e estacionar em Sintra; é dificílimo ir e estacionar em Sesimbra. Nos últimos tempos fui três vezes a Sesimbra e, só hoje, ao fim de muito perseverar, consegui estacionar, embora fazendo vista grossa das ameaças camarárias.

As vilas e cidades ribeirinhas exercem sobre mim um enorme fascínio. E no que a Sesimbra concerne, vistas bem as coisas, a causa só pode ser o mar. Defronte do mar de Sesimbra que, na preia-mar, já engole completamente a praia, olho, como se se tratasse de uma novidade, as mansas águas e sonho com o mundo e com viagens que nunca hei-de fazer. Reminiscências de Cesário Verde, talvez.

Expliquei ao João o sentido profundo do Carnaval, isto é, tal como Backtine no-lo explica: festa de Praça Pública. Na verdade, o Carnaval é a mais democrática das festas, porque todos podemos participar activamente. E tentei explicar a diferença entre esta ideia primitiva de Carnaval e os carnavais já industrializados de muitas localidades portuguesas, que perderam a espontaneidade e, de certo modo, o seu carácter democrático.

Com o sol a incidir obliquamente na água e na areia, deixei Sesimbra pelo lado Nascente, disfrutando ainda da beleza rara e rude da Arrábida, onde se intromete sempre o poeta Sebastião da Gama. Cheguei à Cotovia gozando de um bem-estar tão raro, como se o Carnaval, o mar e a serra se tivessem unido para me proporcionar um naco de felicidade.

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