Santa Iria de Azóia, 2 de Julho de 2007 – Bocage – A Vida Apaixonada de Um Genial Libertino, de Luís Rosa, é um romance interessante, não tanto pelo que nos diz acerca do poeta de Setúbal, cuja história é sobejamente conhecida; mas, sobretudo, pelo quadro histórico em que enquadra a sua atribulada vida.
Este romance vale também pela leitura que o romancista faz da Revolução Francesa e das suas repercussões em Portugal, onde pontifica um célebre intendente da polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, de seu nome completo. Creio que apesar do enxame de moscas e moscardos e bufos, que espiam e denunciam os partidários da Revolução Francesa, sob as ordens do chefe da polícia de D. Maria I, a louca, o Intendente acaba por sair com a auréola de um amante das artes e grande empreendedor, capaz até de tolerar certos comportamentos aos intelectuais, desde que não ultrapassem o limite do “razoável”.
Outra figura que tem muita importância a nível diegético é o abade José Agostinho de Macedo, “rubicundo”, rato de livros das bibliotecas, grande frequentador de botequins e putas e durante muito tempo amigo de Bocage, que alicia para a Nova Arcádia. Apesar da sua vida mundanal, ora dentro ora fora das instituições religiosas, o padre Macedo acaba pregador da Capela Real, no tempo da regência do senhor D. João, o sexto do mesmo nome, após a morte da rainha louca.
A acção decorre na Lisboa que Sebastião José mandou reconstruir após o terramoto de 1755: o Rossio, a Praça da Figueira, o Chiado e o Cais do Sodré, onde ainda existe, creio, a rua dos Remolares. E o Terreiro do Paço e o cais do Tejo, obviamente. As referências ao Brasil e ao Oriente decorrem da mais que conhecida biografia de Bocage. Refira-se aqui a leitura que Luís Rosa faz da administração do Império Português do Oriente, onde grassa a corrupção e a devassidão dos costumes. O café Nicola, assim chamado, por Nicola ser o nome do seu primeiro proprietário, o Nicola das velas, o botequim dos Parras e o Remolares (o café dos franceses), são os palcos onde Bocage faz os seus supostos improvisos contra tudo e contra todos.
É um romance de leitura fácil, numa prosa de sintaxe irrepreensível, através do qual o (autor)-narrador faz passar toda uma série de conceitos, que, já o escrevi, são verdadeiros aforismos.
É, com toda a certeza, um fresco rigoroso do Portugal da segunda metade do século XVIII.
Rosa, Luís, Bocage- A Vida Apaixonada de um Genial Libertino, Editorial Presença, 1ª Ed., Lisboa/2006.
Este romance vale também pela leitura que o romancista faz da Revolução Francesa e das suas repercussões em Portugal, onde pontifica um célebre intendente da polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, de seu nome completo. Creio que apesar do enxame de moscas e moscardos e bufos, que espiam e denunciam os partidários da Revolução Francesa, sob as ordens do chefe da polícia de D. Maria I, a louca, o Intendente acaba por sair com a auréola de um amante das artes e grande empreendedor, capaz até de tolerar certos comportamentos aos intelectuais, desde que não ultrapassem o limite do “razoável”.
Outra figura que tem muita importância a nível diegético é o abade José Agostinho de Macedo, “rubicundo”, rato de livros das bibliotecas, grande frequentador de botequins e putas e durante muito tempo amigo de Bocage, que alicia para a Nova Arcádia. Apesar da sua vida mundanal, ora dentro ora fora das instituições religiosas, o padre Macedo acaba pregador da Capela Real, no tempo da regência do senhor D. João, o sexto do mesmo nome, após a morte da rainha louca.
A acção decorre na Lisboa que Sebastião José mandou reconstruir após o terramoto de 1755: o Rossio, a Praça da Figueira, o Chiado e o Cais do Sodré, onde ainda existe, creio, a rua dos Remolares. E o Terreiro do Paço e o cais do Tejo, obviamente. As referências ao Brasil e ao Oriente decorrem da mais que conhecida biografia de Bocage. Refira-se aqui a leitura que Luís Rosa faz da administração do Império Português do Oriente, onde grassa a corrupção e a devassidão dos costumes. O café Nicola, assim chamado, por Nicola ser o nome do seu primeiro proprietário, o Nicola das velas, o botequim dos Parras e o Remolares (o café dos franceses), são os palcos onde Bocage faz os seus supostos improvisos contra tudo e contra todos.
É um romance de leitura fácil, numa prosa de sintaxe irrepreensível, através do qual o (autor)-narrador faz passar toda uma série de conceitos, que, já o escrevi, são verdadeiros aforismos.
É, com toda a certeza, um fresco rigoroso do Portugal da segunda metade do século XVIII.
Rosa, Luís, Bocage- A Vida Apaixonada de um Genial Libertino, Editorial Presença, 1ª Ed., Lisboa/2006.
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