Santa Iria de Azóia, 5 de Fevereiro de 2011 – Ontem, 4 de Fevereiro, não quis propositadamente falar de 4 de Fevereiro, porque há dois 4 de Fevereiro importantes para mim: o início da guerra colonial em Angola, no já distante ano de 1961, e o desaparecimento de meu pai, em 2009. Portanto, tenho a minha vida ligada ao 4 de Fevereiro e assim continuará a ser, doravante.
No dia 4 de Fevereiro de 1975, há trinta e seis anos, portanto, eu estava em Luanda e estava doente. Já não sei qual era a maleita, mas estava doente. Cumpria o serviço militar obrigatório na CCS de um batalhão importante, o 4511, comandado já por Francisco Granjo de Matos, tenente-coronel de infantaria. Tinha interrompido, voluntariamente, pela primeira vez, a minha actividade de fumador, que durou até Julho desse ano.
O meu batalhão estava sedeado no GAC-1, em Alvalade, ali a dois passos do cinema com o mesmo nome e da emissora oficial de Angola. Tinha quarto num dos últimos edifícios construídos pelo exército português, naquelas instalações militares, quase junto à rede da estrada que dava acesso ao aeroporto e a outros quartéis, nomeadamente os Adidos e a PM. E tudo isto vem a propósito do 4 de Fevereiro de 1975, pois foi naquele dia que regressou a Luanda o autor de Sagrada Esperança, António Agostinho Neto.
O desfile durou horas: muitas centenas de camionetas carregadas de nativos, centenas de milhar de pessoas desfilando e dançando com os seus melhores trajes e cantando canções autóctones, numa poderosa manifestação de patriotismo e desejo de independência. Apesar de estar doente, sentei-me nas traseiras do edifício e fiquei horas a gozar também o regresso do mítico dirigente do MPLA. Mais tarde foi o regresso de Savimbi. Holden Roberto, que mais tarde havia de nos surgir como um velho simpático, nunca chegou a regressar.
A esta distância, e numa análise sem paixão, acho que tudo valeu a pena, ainda que muitos dos dirigentes de Angola se tenham revelado mais tarde verdadeiros tiranos, verdadeiros crápulas, verdadeiros bandidos. Naquele contexto, todavia, não havia volta a dar. Todos nós estávamos cansados e aqueles territórios não eram, de facto, o prolongamento do Portugal europeu.
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