
segunda-feira, fevereiro 28, 2011
domingo, fevereiro 27, 2011
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
DO MEU DIÁRIO
Santa Iria de Azóia, 25 de Fevereiro de 2011 – Esta noite, se tudo correr como está previsto, vou jantar e dormir à Quinta de Santa Iria, Teixoso, concelho da Covilhã. Está visto que Santa Iria me atrai, apesar da padroeira da minha terra natal ser a Santa Margarida. Pela terceira ou quarta vez vou pernoitar no concelho da Covilhã, a velha cidade dos lanifícios, de Horácio, Ricardo e Marreta, ou seja, de três das personagens de Ferreira de Castro. E mesmo que assim não seja exactamente passa a ser, porque quero que assim seja.
Não se trata de desamor, não, que eu gosto muito da minha Beira natal; mas a Covilhã fica já numa ponta do distrito, lá onde as Beiras mudam de adjectivo. E para ser franco, também não tenho nada contra a Beira Alta, que, tal como a minha, é interior e está também a caminho da desertificação.
A ideia é confraternizar e sair de casa. Para ser franco, confesso que sou muito caseiro e muito agarrado às minhas coisas pessoais. Sei que Karl Marx estaria em desacordo, mas eu confesso que não sigo o alemão ao pé da letra. É claro que gosto de ser original e de cultivar o meu estilo. Sei igualmente que o meu estilo é a minha única e verdadeira propriedade privada; mas gosto do meu canto, ainda que um dia possa ser o canto de outro.
Eu não vou perder-me em detalhes, mas acho que a nossa casa pode ser o sítio mais acolhedor e também o mais hostil. Contas de outro rosário que não vou desfiar agora. Fiquem bem, que eu, invariavelmente, vou pôr-me a caminho de Santa Iria. No Teixoso, Covilhã, lá onde as beiras mudam de adjectivo qualificativo.
quarta-feira, fevereiro 23, 2011
domingo, fevereiro 20, 2011
DO MEU DIÁRIO
Santa Iria de Azóia, 20 de Fevereiro de 2011 – Neste fim de tarde, que contrariou um pouco as previsões dos meteorologistas, após um passeio pelos arrabaldes, entreguei-me è leitura de Marcello Duarte Mathias. Mais concretamente, do volume de pequenos ensaios, A Memória dos Outros.
Eu gosto muito deste autor, que, tal como eu ou eu como ele, cultiva o gosto pela escrita diarística. Marcello Duarte Mathias é um escritor de grande erudição e com muito mundo. Por isso mesmo, pelos seus diários perpassam inúmeras personalidades da política, da cultura e dos negócios. Escreve num português muito suave, facto que o torna um autor amável e que se lê sem enfado.
Hoje detive-me nos textos sobre Albert Camus, que é provavelmente o autor francês magrebino que mais admiro. Encontrei referências a L’Etranger e a um tal Mersaut. L’ Étranger, que, conjuntamente com La Peste, é o melhor da obra romanesca do antigo director de Le Combat.
Mas a surpresa foi a referência a Les Noces, que é um “récit” escrito numa prosa verdadeiramente luminosa, que talvez todo o Norte de África devesse ler nos dias que correm. É em Les Noces que Camus escreve: “le monde finit toujours par vaincre l’histoire”.
sábado, fevereiro 19, 2011
DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 19 de Fevereiro de 2011 - Agora me lembro que há mais de um mês que não ponho os pés na minha “datcha” de Sesimbra. Eu gostava muito de saber cirílico e escrever “datcha” em russo, porque emprestava mais estilo ao estilo e conferia-me outro estatuto. Mas passemos à frente que o tempo está de chuva e não se pode desperdiçar com as frivolidades deste escriba pindérico.
Ontem à noite, por volta das vinte e uma, apesar deste tempo invernoso e melancólico, fui forçado a deixar o remanso do doce para cumprir com os meus deveres profissionais. Popó estacionado à frente do Governo Civil, na Rua Capelo e depois foi seguir pela Rua Ivens até à Rua Garrett, cortar ligeiramente à esquerda para ganhar a Rua Serpa Pinto e subi-la até ao Largo Rafael Bordalo Pinheiro, já a dois passos do belo Teatro da Trindade. Sempre sob uma chuvinha pertinazmente chata.
E que viu este vosso amigo no seu caminhar pelas ruas do Chiado, que têm o nome de antigos exploradores de África? Cerca de uma dúzia de restaurantes, alguns com grande dimensão, repletos ou mais ou menos repletos de comensais, numa noite de chuva pertinazmente chata. E os restaurantes que vi, cheios e com grande animação, não são propriamente baratos. Portanto, cerca das dez da noite, aquela zona da cidade era bem o contrário de um país em crise.
A crise, é bom de ver, atinge fundamentalmente os desempregados, alguns funcionários públicos e os jovens à procura de primeiro emprego. Ou mais fundamentalmente os desempregados e as respectivas famílias. Porque, lá bem no fundo, heureusement, ainda há muito happy few.
E prontos, como agora se diz, acabei de vos demonstrar que todos os caminhos podem ir dar a Roma.
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
sábado, fevereiro 12, 2011
SE EU FOSSE COMO CAMÕES
Se eu fosse como Camões,
Havia de te fazer,
Amor, versos geniais,
Muitas trovas de encantar!
Pintar-te-ia morena
E de outras cores sadias.
Blusa vermelha decerto
E calças de ganga azul.
Assim irias à fonte
- Discreta como se vê -,
Leda e bela ao meu encontro.
E haveria de deixar
Teu rosto ruborizado
Com mil beijos, mil ou mais.
Se eu fosse como Camões,
Havia de te fazer,
Amor, versos geniais,
Muitas trovas de encantar!
Pintar-te-ia morena
E de outras cores sadias.
Blusa vermelha decerto
E calças de ganga azul.
Assim irias à fonte
- Discreta como se vê -,
Leda e bela ao meu encontro.
E haveria de deixar
Teu rosto ruborizado
Com mil beijos, mil ou mais.
O TEMPO
I
É o tempo
- o inexorável tempo -,
Que atenua a mágoa
E mostra
Quão profundas
Eram as raízes.
II
Um Verão vai
E outro vem.
E neste vaivém,
Decorre
A minha vida.
Esta vida que vai,
Vai e não vem.
III
Lentas,
As nuvens vêm
E vão.
Umas deixam (m)água
E outras não.
Ah, só o Verão,
Esplendoroso,
Alegra
O meu coração.
IV
O Outono
e o Inverno,
Decididamente,
Não!
(inédito)
I
É o tempo
- o inexorável tempo -,
Que atenua a mágoa
E mostra
Quão profundas
Eram as raízes.
II
Um Verão vai
E outro vem.
E neste vaivém,
Decorre
A minha vida.
Esta vida que vai,
Vai e não vem.
III
Lentas,
As nuvens vêm
E vão.
Umas deixam (m)água
E outras não.
Ah, só o Verão,
Esplendoroso,
Alegra
O meu coração.
IV
O Outono
e o Inverno,
Decididamente,
Não!
(inédito)
quarta-feira, fevereiro 09, 2011
A LUSITANA MANIA
A lusitana mania
De esperar por quem não vem
Provoca melancolia,
Muito mal e nenhum bem.
Sempre de calças na mão
Ou esta à esmola estendida.
Tão estranha condição,
Tornou-se um modo de vida.
Era preciso matar
Esse rei Sebastião,
que não pára de enganar
a nossa triste nação!
Ao mito do desejado
Dê-se um combate eficaz.
Traz este país castrado
Ou capado, tanto faz.
(Barata, Manuel, Fragmentária Mente, ed. Alecrim, 2009)
terça-feira, fevereiro 08, 2011
DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 8 de Fevereiro de 2011 – Nos finais dos anos sessenta, Castelo Branco não tinha – ou eu não me lembro de ter-, uma livraria a sério. E no entanto, lia-se muito na capital da Beira Baixa e coisas com qualidade.
É certo que a Semedo, ao cimo da rua D. Dinis, papelaria e livraria, tinha sempre alguns títulos nacionais e estrangeiros com muito interesse. Foi lá que comprei o meu primeiro Rimbaud e também José Gomes Ferreira, que era então um poeta muito em voga. Nuno Semedo, sempre descaído para o lado da literatura, para além de ser uma pessoa afável, também ia dando algumas dicas em relação a certos títulos e autores.
Porém, creio que o local dos livros por excelência era o quiosque Vidal, onde um tal José Fernandes – é o do Vidal, não o do Eça -, aconselhava e guardava os livros que iam resistindo à brigada dos costumes. O Zé Fernandes lia muito; nomeadamente lombadas, facto que lhe permitia depois fazer as suas próprias sinopses. Acresce que, apesar da sua juventude, José Fernandes era um “jeune homme” de formação democrática.
O quiosque Vidal, que ainda existe, é hoje um sítio atascado de jornais e revistas, com alguns livros ainda nas prateleiras mais altas, mas já não é o ponto de encontro de uma certa intelectualidade albicastrense. Contudo, é talvez o sítio onde se podem encontrar mais publicações de carácter etnográfico.
As papelarias Nogueira, Narciso e S. José, também comercializavam livros; porém, faltava-lhes a qualidade da Semedo e do quiosque Vidal. Ou melhor, ter-lhes-á faltado Nuno Semedo e José Fernandes.
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
DO MEU DIÁRIO

Moscavide, 7 de Fevereiro de 2011 - Eu sempre gostei de livros e de livrarias, e, talvez por isso mesmo, quando vou a centros comerciais com a família, marco sempre o reencontro numa livraria.
Tive uma infância sem livros. O primeiro que aportou a minha casa, para além do manual da 1ª classe, chamemos-lhe assim, foi um livro de capa amarela, escrito em latim, que me foi dado pelo Pe. António Tavares Valente, pároco da Mata, e ainda hoje não sei porquê. Perdi-lhe o rasto sem nunca o ter folheado de fio a pavio, porque o latim só havia de chegar 20 anos depois, em dose económica, com a ajuda do grande linguista, poeta e também padre, de seu nome Tarcísio Alves.
O primeiro grande livro que me chegou às mãos, a obra poética de Manuel da Fonseca, edição da Portugália, foi-me igualmente oferecido. Por um amigo de infância e adolescência, que ainda considero meu amigo, embora não no modo como a amizade era encarada por Frei Amador Arrais. Na verdade, há muitos anos que não vejo o Raul Cabrito Paulo, que, ao que julgo saber, vai dividindo a vida entre Queluz e Malpica do Tejo, no concelho de Castelo Branco.
Depois veio o ano de 1969 e as eleições para a Assembleia Nacional do Dr. Caetano e capangas. E os tempos mudaram, e mudaram muito, ou melhor dizendo, começaram a mudar vertiginosamente, nos planos político, económico e social. E também no que concerne à minha relação com os livros. De 1969 à actualidade, comprei milhares de livros e ofereceram-me centenas. Sou autor de alguns títulos, de méritos duvidosos, e tenho planos para livros futuros, meus e alheios.
Estou convencido de que o cheiro do papel velho ou recentemente impresso e das tintas me hão-de acompanhar até ao fim d vida. Na verdade, "De e com livros tem sido feita a minha vida".
sábado, fevereiro 05, 2011
DO MEU DIÁRIO
Santa Iria de Azóia, 5 de Fevereiro de 2011 – Ontem, 4 de Fevereiro, não quis propositadamente falar de 4 de Fevereiro, porque há dois 4 de Fevereiro importantes para mim: o início da guerra colonial em Angola, no já distante ano de 1961, e o desaparecimento de meu pai, em 2009. Portanto, tenho a minha vida ligada ao 4 de Fevereiro e assim continuará a ser, doravante.
No dia 4 de Fevereiro de 1975, há trinta e seis anos, portanto, eu estava em Luanda e estava doente. Já não sei qual era a maleita, mas estava doente. Cumpria o serviço militar obrigatório na CCS de um batalhão importante, o 4511, comandado já por Francisco Granjo de Matos, tenente-coronel de infantaria. Tinha interrompido, voluntariamente, pela primeira vez, a minha actividade de fumador, que durou até Julho desse ano.
O meu batalhão estava sedeado no GAC-1, em Alvalade, ali a dois passos do cinema com o mesmo nome e da emissora oficial de Angola. Tinha quarto num dos últimos edifícios construídos pelo exército português, naquelas instalações militares, quase junto à rede da estrada que dava acesso ao aeroporto e a outros quartéis, nomeadamente os Adidos e a PM. E tudo isto vem a propósito do 4 de Fevereiro de 1975, pois foi naquele dia que regressou a Luanda o autor de Sagrada Esperança, António Agostinho Neto.
O desfile durou horas: muitas centenas de camionetas carregadas de nativos, centenas de milhar de pessoas desfilando e dançando com os seus melhores trajes e cantando canções autóctones, numa poderosa manifestação de patriotismo e desejo de independência. Apesar de estar doente, sentei-me nas traseiras do edifício e fiquei horas a gozar também o regresso do mítico dirigente do MPLA. Mais tarde foi o regresso de Savimbi. Holden Roberto, que mais tarde havia de nos surgir como um velho simpático, nunca chegou a regressar.
A esta distância, e numa análise sem paixão, acho que tudo valeu a pena, ainda que muitos dos dirigentes de Angola se tenham revelado mais tarde verdadeiros tiranos, verdadeiros crápulas, verdadeiros bandidos. Naquele contexto, todavia, não havia volta a dar. Todos nós estávamos cansados e aqueles territórios não eram, de facto, o prolongamento do Portugal europeu.
sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Santa Iria de Azóia, 4 de Fevereiro de 2011 – À hora a que alinhavo estas linhas, sei bem que minha mãe lá estará na Mata, de lágrima ao canto do olho, só e corroída de saudades. Faz hoje dois anos que deixámos o meu pai no Campo da Verdade. E neste dia, mais uma vez, fico a dever-lhe um ramo de flores.
Eu recordo o meu pai com uma enorme saudade. É certo que não era dado a grandes manifestações de ternura; porém, por detrás daquela máscara, por vezes rude, existia um homem imensamente sensível e um bom, capaz de abundantes gestos de generosidade, que incluíam mesmo aqueles que não eram da nossa família. Na nossa casa, quem entrava era bem tratado.
Não sei se a Filipa se lembrará, hoje, do avô. Provavelmente sim e é capaz de telefonar e falar com a avó. Os restantes familiares, entretidos com as suas importantes vidas e com as suas importantes pessoas, não se lembrarão. E se calhar é assim mesmo que deverá ser, que a comiseração não faz bem a ninguém. Também não tenho intenções de falar mais, hoje, deste assunto, a não ser com minha mãe, com quem falo todos os dias e por vezes mais do que uma vez.
E aqui ficam estas palavras desajeitadas, que é a forma que tenho de prestar uma homenagem a uma das pessoas que mais amei.
Eu recordo o meu pai com uma enorme saudade. É certo que não era dado a grandes manifestações de ternura; porém, por detrás daquela máscara, por vezes rude, existia um homem imensamente sensível e um bom, capaz de abundantes gestos de generosidade, que incluíam mesmo aqueles que não eram da nossa família. Na nossa casa, quem entrava era bem tratado.
Não sei se a Filipa se lembrará, hoje, do avô. Provavelmente sim e é capaz de telefonar e falar com a avó. Os restantes familiares, entretidos com as suas importantes vidas e com as suas importantes pessoas, não se lembrarão. E se calhar é assim mesmo que deverá ser, que a comiseração não faz bem a ninguém. Também não tenho intenções de falar mais, hoje, deste assunto, a não ser com minha mãe, com quem falo todos os dias e por vezes mais do que uma vez.
E aqui ficam estas palavras desajeitadas, que é a forma que tenho de prestar uma homenagem a uma das pessoas que mais amei.
quarta-feira, fevereiro 02, 2011
LISBOA GOSTA DE FARRA
Lisboa gosta de farra,
Festeja todos os santos.
É como a leda cigarra,
Não vai com choros e prantos.
Com ar triste canta o fado
- Faz parte da convenção –
Bebe um tinto, passa ao lado
E lá se vai a paixão.
Velha Lisboa querida,
Sempre leal e valente,
Sempre audaz e destemida
E ilustre resistente.
Nas curvas mais apertadas,
Faz das tripas coração.
Vence! Águas passadas,
Volta à sua vocação.
Ora séria matrona,
Ora mocinha garrida,
Tratada por tu ou dona,
É alegre e divertida.
Lisboa gosta de farra,
Festeja todos os santos.
É como a leda cigarra,
Não vai com choros e prantos.
Com ar triste canta o fado
- Faz parte da convenção –
Bebe um tinto, passa ao lado
E lá se vai a paixão.
Velha Lisboa querida,
Sempre leal e valente,
Sempre audaz e destemida
E ilustre resistente.
Nas curvas mais apertadas,
Faz das tripas coração.
Vence! Águas passadas,
Volta à sua vocação.
Ora séria matrona,
Ora mocinha garrida,
Tratada por tu ou dona,
É alegre e divertida.
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