domingo, novembro 21, 2010

SETE POEMAS DE AMOR

I
Se tu soubesses, amada,
Quanto dói a solidão…,
E inda o peso destas mãos,
Que não sabem fazer nada!

Contigo ausente, esta casa
- Outrora mansão alegre -
É neste preciso momento
O reino da confusão.

Rolam rolos de cotão,
Em minha alma tresloucada.
E dói-me o peso das mãos,
Que não sabem fazer nada.

Ai, soubesses tu, amada,
Quanto dói a solidão!


II

A tua presença, amor,
Mesmo que silenciosa,
Dava-me tanto consolo.

A tua ausência fere-me.
As tardes passam tão lentas
E os dias são tão tristes.

Amor!, contigo presente,
O passarinho cantava
Num perfeito desatino.

Agora tudo é choroso.
Escrevo versos sem graça
e dou-me ao computador.

Bebo copos e mais copos
E o passarinho não canta.
Mas não te rales amor…



III


Pergunto por ti às ondas,
Mas as ondas que são ondas,
Não querem saber de ti,
Nem querem saber de mim.
Virás tarde, virás cedo,
Quem me poderá dizer?

pergunto por ti às ondas,
Aqui junto ao mar, amiga,
Mas as ondas que são ondas,
Não querem saber de ti,
Nem querem saber de mim.
Virás tarde, virás cedo,
Quem me poderá dizer?



IV

O teu sorriso era então
Tão limpo e tão terno, amor.
E nos teus olhos castanhos
Cabiam todos os sonhos.

Não tinhas cabelos ruivos
E usavas roupas garridas.
Tua voz tinha a doçura
das amoras e das tâmaras.

Mas o tempo inexorável
Tudo leva e tudo traz…
E cicatrizes nos deixa,
Tantas, no corpo e na alma!

Continuemos em frente,
Amor, como sempre fomos!
E amemo-nos com a fúria
Dos engenhosos amantes.



V


Tornou-se tão chata, amor,
A vida longe de ti.
A casa é agora um barco
quase, quase a naufragar.

Tenho camadas de pó
Como um bibelô vulgar.
E os copos da cristaleira
Já mudaram de lugar.

Sinto os sofás na cabeça
E toda a casa a abanar.
Mas não fiques em cuidado,
Que isto vai… há-de passar…



VI


Eu queria tanto, amor,
Ter a tua companhia,
O perfume do teu corpo,
A doçura dos teus olhos.

Eu queria tanto, amada,
Com teus abraços folgar
E em teu colo penetrar,
Como manda a natureza.

Eu queria tanto, amor.




VII


Se eu soubesse dedilhar
Como Paco de Lucía
Havia de te encantar
Com momentos de magia.


Dia e noite tocaria
E com imensa paixão.
Tivesse eu a fantasia
De uma noite de verão.


Pra ti havia de compor,
rica, terna melodia.
Somente por puro amor
Como Paco de Lucía.

E tu, decerto, virias



Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005






3 comentários:

Filoxera disse...

Que engraçado: acabei de escrever um poema de amor e ausência.
Beijinhos.

Manuel da Mata disse...

È. Andamos todos a escrever mais ou menos o mesmo. A diferença está na forma. Beijinho.

Alex disse...

Carregado de sentimento,
uma força suave,
tão frágil e tão forte ao mesmo tempo.