TRÍPTICO PARA VAN GOGH
I
Subitamente,
No auge da devoção,
Recebeu do céu
Divina inspiração.
Desenfreado,
De paleta na mão,
Desatou a pintar
Ao ritmo do coração:
Sóis,
Ciprestes,
Miosótis
E girassóis.
II
Do fundo da mina
- Qual vagabundo -,
Trouxe as cores
Com que iluminou o mundo.
E no entanto
- Moderno Prometeu -,
O pobre Vincent
Nem uma tela vendeu.
III
E um dia,
Quando o voo rasante dos corvos
Se tornou ameaçador,
Fitou o cocuruto dos ciprestes
E entregou a alma ao Criador.
Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005
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