terça-feira, novembro 23, 2010

TRÍPTICO PARA VAN GOGH

I

Subitamente,
No auge da devoção,
Recebeu do céu
Divina inspiração.

Desenfreado,
De paleta na mão,
Desatou a pintar
Ao ritmo do coração:

Sóis,
Ciprestes,
Miosótis
E girassóis.

II

Do fundo da mina
- Qual vagabundo -,
Trouxe as cores
Com que iluminou o mundo.

E no entanto
- Moderno Prometeu -,
O pobre Vincent
Nem uma tela vendeu.

III

E um dia,
Quando o voo rasante dos corvos
Se tornou ameaçador,
Fitou o cocuruto dos ciprestes
E entregou a alma ao Criador.



Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA,
Ulmeiro, Lx., 2005

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