quarta-feira, junho 16, 2010

TRÍPTICO PARA VAN GOGH

I

Subitamente,
no auge da devoção,
recebeu do céu
divina inspiração.

Desenfreado,
de paleta na mão,
desatou a pintar
ao ritmo do coração.

Sóis,
ciprestes
miosótis
e girassóis.

II

Do fundo da mina
- qual vagabundo -,
trouxe as cores
com que iluminou o mundo.

E no entanto
- moderno Prometeu -,
o pobre do Vincent
nem uma tela vendeu.

III

E um dia,
quando o voo rasante dos corvos
se tornou ameaçador,
fitou o cocuruto dos ciprestes
e entregou a alma ao Criador.

Barata, Manuel, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx, 2005

Sem comentários: