sexta-feira, junho 25, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 24 de Junho de 2010 – As polémicas à volta de Saramago ganharam uma nova vida com a sua morte. Afinal de contas, muitos cristãos deste pobre reino aproveitaram o momento para um novo, que não será certamente último, ajuste de contas com o autor de Levantado do Chão.

Falaram do dinheiro gasto com o avião, dos dois dias de luto nacional e do autor ter defendido em tempos uma União Ibérica e também por ter ido residir para Lanzarote. Um tal Lara, que não pertence à estirpe dos sete infantes com o mesmo apelido, voltou a não manifestar qualquer arrependimento pelo uso do lápis azul, aquando da exclusão de Saramago de um prémio europeu; um tal Cavaco, que nunca terá dado nada de seu ao país, recusou-se a comparecer nas cerimónias fúnebres oficiais, apesar de dizer frequentemente que sabe muito bem quais são os seus deveres; o Osservatore Romano, misericordioso, escreveu uma série de disparates acerca do homem e da obra.

Todos estes episódios, quer queiramos quer não, demonstram que Portugal vive em permanente guerra civil. O Portugal ultramontano, incapaz de se regenerar, estulto e videirinho, não conseguiu pôr de parte guerrinhas estéreis e homenagear condignamente o autor de O MEMORIAL DO CONVENTO, O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA. Não soube, em suma, estar à altura de um gigante nacional, que tão alto e longe levou o nome do seu país.

1 comentário:

Daniel Abrunheiro disse...

Não sei, Manel, se para o teu Sul se usa, por aqui sim: o termo "larada". Quando o incontinente infante se borra todos nas fraldas, dizemos que fez larada. Agora sei, finalmente, de onde nos vem a trampa. Só os correndo, enfim, à cavacada no (vatic)ânus.