AS PALAVRAS
I
Ah, as palavras...
-essas frágeis rosas,
que sustentam
o meu mágico poder!
Com elas amo
e digo a indizível
beleza do teu corpo.
Com elas reinvento,
hora a hora,
a vida e o mundo.
II
Sem as palavras,
não poderia cantar
a casta flor da laranjeira
nem as manhãs de verão.
E como poderia cantar
este país sempre embriagado de sol?
III
Com as palavras tudo faço.
Ás vezes,
até pinto o céu
melhor do que os pincéis
de Picasso.
I
Ah, as palavras...
-essas frágeis rosas,
que sustentam
o meu mágico poder!
Com elas amo
e digo a indizível
beleza do teu corpo.
Com elas reinvento,
hora a hora,
a vida e o mundo.
II
Sem as palavras,
não poderia cantar
a casta flor da laranjeira
nem as manhãs de verão.
E como poderia cantar
este país sempre embriagado de sol?
III
Com as palavras tudo faço.
Ás vezes,
até pinto o céu
melhor do que os pincéis
de Picasso.
DA POESIA
Há quem pense
que é muito fácil
este velho ofício
de versejar.
Há até quem pense
que Bocage,
quando desafiado,
respondia
imediatamente
com decassílabos
sonorosos
e exactos.
Sabem os que fazem
que a espontaneidade
é técnica,
trabalho,
tenacidade.
Há quem pense
que é muito fácil
este velho ofício
de versejar.
Há até quem pense
que Bocage,
quando desafiado,
respondia
imediatamente
com decassílabos
sonorosos
e exactos.
Sabem os que fazem
que a espontaneidade
é técnica,
trabalho,
tenacidade.
SEMPRE AS PALAVRAS
Com palavras constroem verdadeiros monumentos: precários, às vezes; às vezes, teimosamente resistentes. Alguns chegam até nós, vindos do fundo do tempo, frescos e incorruptíveis; outros, igualmente frescos, trazem a pequena mossa da corrupção em notas de rodapé.
Todos esses monumentos – de que os poetas são arquitectos e pedreiros, engenheiros, pintores, carpinteiros -, se falar pudessem, dariam conta de inumeráveis batalhas ganhas com galhardia e perseverança, desde o surgir da pura ideia até ao assentamento da última pedra.
Acreditai-me, ó gentes profanas!, que não é fácil recriar permanentemente o mundo com as humílimas palavras, para vo-lo servir pleno de harmonia em esplendorosas bandejas de oiro.
Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lisboa, 2005
Com palavras constroem verdadeiros monumentos: precários, às vezes; às vezes, teimosamente resistentes. Alguns chegam até nós, vindos do fundo do tempo, frescos e incorruptíveis; outros, igualmente frescos, trazem a pequena mossa da corrupção em notas de rodapé.
Todos esses monumentos – de que os poetas são arquitectos e pedreiros, engenheiros, pintores, carpinteiros -, se falar pudessem, dariam conta de inumeráveis batalhas ganhas com galhardia e perseverança, desde o surgir da pura ideia até ao assentamento da última pedra.
Acreditai-me, ó gentes profanas!, que não é fácil recriar permanentemente o mundo com as humílimas palavras, para vo-lo servir pleno de harmonia em esplendorosas bandejas de oiro.
Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lisboa, 2005
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