terça-feira, janeiro 31, 2012

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 31 de Janeiro de 2012 - O leitor de poesia moderno há muito que se habituou a conviver com textos, que, tendo a organização visual da prosa, são verdadeiros textos poéticos. É o que sucede com os textos do livro As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar, de Isabel Mendes Ferreira, que, curiosamente, começa com a palavra elegia.


Eu gosto desta escrita assindética, em que as palavras caem no poema como notas de um piano só aparentemente “desafinado”. De resto, esta poeta organiza meticulosamente o material linguístico, eliminando a ganga, e dando a quem lê excelentes textos que mais parecem trabalho de ourives.


A solidão - e a procura de fugir a essa mesma solidão – é um temas recorrente nesta poeta, que convoca, abundantemente, as metalinguagens de outras artes para construir os seus poemas, a saber: a música e a pintura ou a pintura e a música, porque, na verdade, a ordem não se constitui como uma regra rígida.


Acabei de ler o poema “ não demoro vou só beber o vento.” (frase inicial), que daria para escrever um longo texto. Fica para outras núpcias, se outras núpcias houver, que o trabalho desta poeta exige e merece um grande esforço de concentração.


Ferreira, Isabel Mendes, As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar, Arcádia, edição Babel, Lx., 2010.

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