quarta-feira, julho 27, 2011

DO MEU DIÁRIO

Mata - Rua do Arrabalde

Santa Iria de Azóia, 26 de Julho de 2011 – Hoje publiquei uma fotografia da minha terra natal no “facebook” e na troca de comentários com uma excelente poeta portuguesa, lembrei-me de que naquela rua, a rua da fotografia, tinham vivido muitos dos meus familiares já desaparecidos. Nomeadamente, o meu bisavô Francisco Lucas, pai de minha avó Maria, que também teve taberna na rua do Arrabalde, numa casa de altos e baixos.


Entre filhos e enteados, o meu bisavô terá criado e ajudado a criar catorze ou quinze pessoas, que, por sua vez também tiveram as suas proles, embora sem a abundância do progenitor. De qualquer modo, Francisco Lucas foi avô e bisavô de pessoas que se interessaram por quase todos os ramos do saber: advocacia, gestão, medicina, engenharia, música, pintura e outras artes do “trivium” e do “quadrivium” que agora não me ocorrem. António Vicente, que é conhecido pelo “Ptchirra” – na Mata ainda não foram completamente abolidas as africadas -, quando se entorna e me encontra, lá me vai dizendo que não há família na Mata como a do velho Canuna.


Recordo-me perfeitamente do meu bisavô falecer e também dos tempos em que apascentava as suas cabras, já depois dos oitenta, encostado ao cajado e à parede norte da tapada da Bemposta, onde passei muitos dias da minha infância. Era um homem alto e magro. Vestia sempre um fato castanho, de verão e de inverno. Diziam os antigos que o que tapava o frio também tapava o calor. E se calhar tapava.

Os anos correm, vertiginosamente, mas parece-me que ainda hoje reconheceria o timbre da voz do meu bisavô Francisco Lucas.

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