terça-feira, julho 19, 2011

DO MEU DIÁRIO



Santa Iria de Azóia, 19 de Julho de 2011 – Reencontro com Vergílio Ferreira através de conta-corrente. Eu não sei bem porquê, mas de quando em vez agarro-me a este autor que escreveu alguns romances notáveis tais com APARIÇÂO, PARA SEMPRE ATÉ AO FIM. Gosto tanto da escrita deste autor, como o detesto enquanto indivíduo.


Se Ferreira não tivesse escrito conta-corrente – cinco volumes- e se se tivesse quedado pela escrita ficcional, provavelmente este texto seria um simples exercício laudatório e estar-me-ia nas tintas para o indivíduo empírico que foi meu contemporâneo. Porém, Ferreira quis-nos deixar estes volumes de prosa intimista, onde se revela um ser humano desinteressante, sempre de mal com quase tudo e todos.


Óscar Lopes, provavelmente um dos mais prodigiosos trabalhadores das letras portuguesas é depreciado e a sua crítica denominada “oscarina”; Mário Dionísio, que também foi um excelente contista e também poeta e também crítico literário e também grande crítico de arte, nunca passou de um controleiro comunista, no liceu Camões; Torga poderia receber o Nobel, não que o merecesse, mas pela comezinha razão de constituir uma possibilidade de entrada de divisas em Portugal; Eugénio de Andrade é mal tratado, quando o acusa de ter introduzido o “falo” na poesia portuguesa ou coisa parecida. Naquela fúria de homem de maus fígados, salvam-se Eduardo Lourenço e Fernando Namora.


Encontrei uma vez Ferreira na livraria Barata, com aquele seu ar de fauno antigo, tristonho e só, folheando um livro, com cara de poucos amigos. E curiosamente é esse indivíduo que encontro nos volumes de conta-corrente, que, creio, Baptista-Bastos já considerou – e eu estou de acordo - um tratado do ódio.


A escrita intimista tem muitos inconvenientes.

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