Lisboa, 9 de Julho de 2010 – Acontece-me agora, um ano e meio depois, sonhar com e acordar a pensar em meu pai. Ao contrário do que outrora pensaria, agora acho tudo isto normal e não sinto qualquer receio ou angústia. Acordar a pensar em e a sonhar com meu pai é agora um momento de apaziguamento comigo mesmo. Diria até de reencontro. Vá-se lá saber, portanto, o que estas coisas significam, nomeadamente para mim, que não sou psicólogo e sempre desconfiei da interpretação dos sonhos de um tal Sigmund Freud.
Nem sempre tive uma boa relação com meu pai, que era um homem muito contraditório, sempre a oscilar entre as coisas divertidas da vida e um arreigado pessimismo quanto ao devir histórico. O fim do mundo estava sempre iminente para aquele homem de estrutura baixa e franzina. Sempre disposto a defender a ordem, a disciplina e os costumes tradicionais.
Hoje, em conversa com o Ruela, fiquei a saber que um “guru” de grande reputação terá dito que havemos de voltar ao cultivo da nossa batata, do nosso tomate, do nosso feijão-verde e de outros produtos da horta. Ora isto significaria o triunfo de uma das teses de meu pai, que sempre defendeu o cultivo da terra e das pequenas produções domésticas.
O sonhar com e o acordar a pensar em meu pai, se calhar, tem a ver com este período que estamos a viver. Com este período de grande pessimismo, em que o céu parece querer desabar sobre as nossas cabeças.
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