terça-feira, setembro 23, 2008

FRAGMENT(Á)RIAMEMTE

INTRÓITO
1

De e com livros tem sido feita a minha vida:
Bons, maus, e assim-assim.
Neles, aprendi metade do pouco que sei;
Sem eles, não sei dizer o que de mim seria!

Outro homem, decerto, seria…

2

Com Fonseca, Manuel como eu,
No culto das musas me iniciei:
Ainda hoje vejo passar a tuna do Zé Jacinto
E me delicio com as alvas rolas,
Que Maria Campaniça escondia sob a blusa.

Por mil anos que um homem viva
Há metáforas que nunca morrem nem esquecem.

3

A prosa chegou com a colecção seis balas.
Só depois chegou Ferreira de Castro
E o seu casto português.
Fiz-me amigo de Manuel da Bouça e de Ricardo;
E, sobretudo, de Marreta e Horácio.

(E é chegado o momento de dizer,
Que se dane o espanhol que não quer
Referências culturais na poesia.
Que se dane pois o espanhol,
Cujo nome já esqueci).



4

Santareno,
Veio ainda antes de Vicente!
Primeiro, o Édipo de Alfama;
Só depois, chegou o pai de Antígona.

Que milagre terá acontecido?

5

De e com livros tem sido feita a minha vida.
VÁRIA



AMAR

É estar sentado,
Contigo,
À porta da nossa casa
Numa noite de Verão.
E ao luar,
Absorto
No voo
Dos meus pensamentos,
Comer tâmaras,
Em paz.


E saber,
Amor,
Que esperas
Que a brisa passe
E eu procure,Ternamente,
A tua face.



DESENCONTRO


Sempre desejei
Um coração
De camponesa
Para gémeo do meu.

Só assim,
Pensava eu,
Poderia sentir,
Plenamente,
O alor
E o respirar
Da terra.

Outra coisa;
Porém, ditou
O poderoso destino.
E por isso
Vivo
O desatino
Dos desencontros.

Até um dia…
Ou talvez
Para sempre!





ROUXINOL


Eu tenho inveja de ti

– Ó sublime rouxinol! -,
Que voas
E cantas
E longe
E alto levas
O teu canto!

Enquanto eu
– Simples aspirante a cantor –,
Sou incapaz
De dar asas
E levar longe
E alto
O meu humilde canto.

Eu,
Humano
E sensível,
Tudo faço
Ao rés-da-terra.










INSTANTES


Quando o sol –
O grande colorista de Cesário –
Inunda o dia
E os passarinhos
Dão concerto de piano
Nas roseiras
E nos arbustos
Do meu jardim,
Saboreio
Por vezes
A alegria.

É então
-Gozando as delícias da preguiça -
Que mais concordo com Adília.

O resto,
Obviamente,
É conversa.




1 comentário:

LM,paris disse...

Que bonito Manuel!
Ligeiros ficamos deposi desta viagem pelos sues poemas frescos, saudosos e se eu fosse o rouxinol de que fala, certamente gostaria de ouvir este poema cantado ao fim do dia.
E o resto é conversa, ora bem, essa sei eu!
Beijinhos e jà muito frio...
LM