domingo, agosto 17, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 17 de Agosto de 2008 – Há muitos anos que não me ausentava de Roma por um período de três semanas. Eu até pensava que a vida se tornaria mais monótona e sensaborona sem a minha presença. Verifico ao fim destas três semanas de lazer que se tratava da mais pura ilusão. Não houve golpes de Estado e tudo funcionou na perfeição. Estou a pensar que, mais dia, menos dia, vou mesmo morar o mais longe possível da Cidade.

A actualidade não me motiva. Portugal é um país excessivamente repetitivo. Repetitivo pela negativa, diga-se em abono da verdade. Por isso mesmo, sinto-me pouco inclinado a comentar a actualidade que, se o acordo ortográfico já estivesse em uso, se poderia escrever atualidade.

No último “Jornal de Letras”, um magnífico reitor de uma universidade qualquer publicou umas quantas teses que, na sua douta e magnífica opinião, deveriam ser acolhidas pelos “fabianos” que vão vociferando contra o dito acordo. Eu estou em crer que o senhor deverá ser “Professor Doutor Engenheiro”, de escola contrária à do eng.º Jorge de Sena (o que pensaria Sena acerca do Acordo Ortográfico?), ou então “Professor Doutor Economista”, porque de linguística não deve perceber muito.

No mesmo número do mesmo jornal, Eugénio Lisboa, de uma forma claríssima e brilhante, disse aquilo que tinha de ser dito e ponto final. Procurai o “JL” e lede, caros leitores, o magnífico artigo de Eugénio Lisboa! É uma ordem, ouvistes?

Deixo o registo que seria o de José Gomes Ferreira e vou aqui rememorar aquele episódio contado por Raul Brandão nas Memórias. Diz-se que quando a rainha velha, a sereníssima Maria Pia, saiu de Mafra para apanhar o iate real na Ericeira, foi vista com um casqueiro de Mafra debaixo do braço. Eu creio que Brandão leu bem o episódio, quando diz que Maria Pia, que fora toda a vida uma perdulária etc. e tal, e que finalmente percebera o valor de um simples pão. A minha filha, que estuda Brandão, acha o episódio muito ternurento e acha que Maria Pia queria levar consigo um pedaço do país. Um pedaço perecível do país, digo eu, que nestas coisas vou mais com Sancho Pança.

Reinstalado nos arredores de Roma, amanhã – segunda-feira –, cumprirei o ritual. Irei reencontrar os amigos. No forum, para dois dedos de conversa e alguma inofensiva maledicência.



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