terça-feira, março 08, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 8 de Março de 2011 – Hoje é dia de Carnaval, mas já não tenho idade nem disposição para me dar ao divertimento carnavalesco. Assim sendo, sinto-me impelido a escrever sobre coisas sérias, se é que alguma coisa é séria neste nosso reino da Dinamarca.
Um texto do jornalista Ferreira Fernandes interpelou-me, há momentos, com alguma violência. Em Junho próximo terei cinquenta e nove anos, contada a tropa terei cerca de trinta e oito anos e meio de trabalho e descontos efectivos. Com penalização, decidi deixar a função pública.
Não atingi o topo da carreira, porque alteraram as regras recentemente, quando já não sinto grande disponibilidade mental para me atirar aos livros como um doido. Há três ou quatro anos atrás bastar-me-ia escolher um tema da vasta e complexa área do meu sector da Administração Pública e preparar uma dissertação, que, posteriormente, haveria de defender perante um júri pretensamente idóneo. Alteraram as regras e a crise mandou que os concursos sejam adiados. Adiados prefiro a suspensos. O léxico permite-me e eu escolho. Aprendi isto com Benveniste.
Durante os últimos trinta e oito anos e meio fui funcionário – nunca quis ser técnico superior -, fui estudante, fui professor (em horário pós-laboral e com autorização de Miguel Cadilhe), fui director de uma colectividade de cultura e recreio, fui membro do primeiro, e creio que último, conselho Municipal de Loures, fui escriba de textos e de livros (estes seguramente maus), etc. Pensava eu, do fundo da minha ingenuidade, que tinha chegado a hora de sair, penalizado, sem quaisquer remorsos, com mil e tal euros. Muito menos de dois mil, seguramente.
Ontem à noite, tirei-me das minhas tamanquinhas (ou tamanquinhos?) e consultei a lista dos aposentados de Fevereiro e lá vi as aposentações milionárias de militares, fartos de não guerrearem, felizmente, de juízes, notários e outros altos funcionários. Basta consultar o sítio da CGA e ver. Mas também aposentações miseráveis de outros portugueses que serviram o Estado e provavelmente do Estado nunca se serviram. Adiante que se faz tarde.
Ferreira Fernandes tem razão em tudo o que diz. É pena que só o diga agora desta forma tão veemente. E se tenha esquecido de ser mais incisivo em relação a colegas seus de profissão. Refiro-me aos grandes da comunicação social - o peixe graúdo das televisões -, que ganham somas verdadeiramente obscenas. E de, na sua catilinária, se ter esquecido dos Lopes, dos Campos, dos Cunha, dos Mira, dos Medina, dos Alberto, etc., que todos os dias prescrevem a ração dos outros, mas que se agasalham, escudados em leis iníquas, com muitos milhares de euros todos os meses.
É preciso ser mais contundente ainda e chamar aos bois pelos nomes. Era preciso também, que Ferreira Fernandes falasse da reestruturação das empresas, que o fizeram, muitas vezes, à custa da segurança social, contribuindo para este estado fétido a que chegámos. Era preciso, por exemplo, que o DN, todo, assumisse uma posição idêntica. Era, mas não é.
Ferreira Fernandes é um Baptista a clamar no deserto.

2 comentários:

João de Sousa Teixeira disse...

Carne vale. Não é questão de idade. Os tempos é que nos deixam cada vez mais apenas só os ossos...

Abjoão

Manuel da Mata disse...

Carne vale. Vale a sério. Abraço. Manuel.