quinta-feira, março 03, 2011

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 3 de Março de 2011 – Dei-me conta, há muitos anos, que a infância se agarra a nós e não nos larga ao longo da vida. Há semanas atrás, poemas do João Teixeira fizeram-me reviver, também a mim, os odores da minha infância. Nomeadamente, o cheirinho das maçãs Bravo de Esmolfe, que a minha avó dependurava no forro de madeira da sua minúscula sala, onde as minhas tias namoravam e a restante família disputava um lugar junto à braseira, nas longas noites de Inverno.

Hoje, lembrei-me dos comediantes, que chegavam quando chegavam, várias vezes durante o ano, e partiam após a realização de dois ou três espectáculos.

A trupe mais conhecida era a do Luís Costa, grande trapezista, cujas actuações faziam bater mais e mais forte os corações. A sala de espectáculos era o largo do Rossio, onde ainda permanece o chafariz da aldeia. Ali eram montados o trapézio e a barraquinha das marionetas. O povo dispunha-se em círculo e os comediantes iam-se sucedendo, apresentando os respectivos números: ilusionismo, contorcionismo, trapezismo, cantigas em voga e o número das marionetas. Luís Costa, o trapezista, era também o homem das marionetas.

Eu gostava dos palhaços e das marionetas e também do arrojado Luís Costa, que era a primeira figura do importante cartaz, que vinha dos Toulões, no concelho de Idanha-a-Nova. E mentiria se não confessasse a minha admiração pelos jogos malabares.

Faziam-se três intervalos com a finalidade dos comediantes fazerem o peditório, com cujos tostões nunca haviam de fazer fortuna. Faziam um espectáculo medíocre; no entanto, animavam a vida da aldeia durante três dias. E é por isso, provavelmente, que ainda hoje recordo carinhosamente os comediantes. Eles foram os primeiros artistas que eu vi actuar!

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