Srasbourg, 24 de Junho de 2009 – Começou hoje a época oficial de saldos de Verão, em toda a França. E o viajante só não é surpreendido, porque dispõe sempre de algum tempo para olhar as montras, no seu deambular pelas ruas.
Strasbourg é uma cidade plana, e, por conseguinte, pouco cansativa; porém – há sempre um porém nestas coisas-, o viajante é daqueles que se pela por andar a pé e gosta de apreender, nos sítios certos, os traços que marcam o carácter das cidades; e, por isso mesmo, qundo chega a hora de entregar o corpinho a Morfeu, nem tempo tem para fazer o sinal da cruz. Dorme então o sono profundo dos justos.
Georges Duhamel escreveu um dia que Colmar é a mais bela cidade do mundo. Dê-se a Duhamel o devido desconto para o patriotismo e diga-se que não andará muito longe da verdade. De facto, Colmar tem uma beleza ímpar. Mas compará-la a Veneza é um pouco abusivo. Se há cidade parecida com Veneza, essa cidade é Strasbourg: não só pelas voltas que o Reno dá dentro da cidade, mas também por ter muitas casas com paredes dentro de água. Mas deixemos as comparações por aqui.
O tempo tem estado muito instável: ora chove e está frio; ora faz sol e a temperatura é agradável. Mas o viajante não deixa, no entanto, de sentir saudades dos trinta e tal graus de Lisboa da pretérita semana. Também por isso não temos vastos campos de milho e de trigo e grandes manchas florestais. Estas mais do lado alemã, quando se vem de Frankfurt para Srasbourg. Contentemo-nos pois com o sol, os pés de murta e o rosmaninho de que nos falava Garrett. Sol na eira e chuva no nabal, como tão sabiamente diz o nosso povo, foi coisa que não nos calhou a nós.
Agora compreendo melhor a volta ao mundo de Xavier de Maistre.
É claro que entrei nas Galerias Lafayette, onde uma multidão procurava afanosamente a peça de vestuário, a mala ou os acessórios das diversas marcas. Os saldos aqui são para todas as marcas e para quase todos os produtos. Até os relógios com o nome dos costureiros famosos podem ser adquiridos a preços mais acessíveis.
Livros e muitos havia na rua Gutemberg, em segunda mão, que é uma das formas da cultura se mostrar na rua. E para curiosidade minha, peguei numa edição da Putain Respectueuse de Jean-Paul Sartre da Gallimard de 1946 e que era já, ó surpresa das surpresas!, a 18ª. Mas na rua Gutemberg, para que conste.
O almoço foi numa das ruas que partem das catedral em direcção ao rio, onde se podia ler por cima de uma das paredes: “Un jour sans vin, c’est une journée sans soleil”.
2 comentários:
Viajar duas vezes, portanto, a segunda (a primeira) sendo a escrita.
E com um erro de monta. Lido o Texto, escrevi Reno em vez de Rio III.
Pois!, viajar duas vezes. Mas há muito mais.
Depois faço sair a errata.
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