quinta-feira, fevereiro 05, 2009

HOMENAGEM

Conheço um homem, a quem nunca tive e amabilidade de dedicar uma linha de humilde prosa, e que merece todo o respeito do mundo. Com sete anos, quando deveria aprender as primeiras letras e a tabuada, já calcorreava, descalço, caminhos e veredas, fragas inóspitas, atrás de um rebanho.

Sempre o ouvi dizer - e minha avó confirmava –, que o primeiro patrão lhe fizera as primeiras botas.


Porém, não estava talhado para a bucólica profissão de guardador de rebanhos, para tanta solidão. Analfabeto, já com dezoito anos, comprou uma pasteleira e fez-se aprendiz de construtor de casas. Pedra a pedra, tijolo a tijolo, ajudou a construir centenas de lares, ganhando a vida e espalhando conforto.


Nunca deixou, apesar das inúmeras voltas que a sua vida deu, que em sua alma morresse o amor pela Natureza. Teimoso, continua a trabalhar a terra, que já fora de seus avós, arrancando-lhe saborosos frutos.


Penso que não deve nada à pátria e que a pátria nada lhe deve. Pertence a um género de portugueses que ama e sempre amou Portugal sem condições.


In Fragmentos com poesia, Ulmeiro, 2005.


PS : chegou ontem ao fim da estrada.








2 comentários:

Daniel Abrunheiro disse...

Justiça. Um texto justo.

Mª Jose M. disse...

Boa Noite,Manuel

E porque este caminhar pela Vida é feito de partidas e chegadas;
De viagens...
Desde que chegamos até que partimos,o regresso a casa é sempre o conforto do lar que tijolo a tijolo também foi sendo construido...
Bela Homenagem em tempo de viagem

Um Abraço,
MJose