I
Inda rosa em botão,
ferida no coração,
Dolores corria,
Dolores voava.
Inda flor a desabrochar,
com o coração a sangrar,
Dolores corria,
Dolores voava.
Ferida no coração,
cantava em seu balcão,
Dolores corria,
Dolores voava.
Com o coração a sangrar,
pungente no seu cantar,
Dolores corria,
Dolores voava.
Cantava em seu balcão
fascistas no pasaran.
Dolores corria,
Dolores voava.
II
“No pasarán!”,
Dizia ela
Indomável
Na ânsia de vencer.
“No pasarán!”.
Dizia ela
Com a bravura
Da torrente do rio
No auge da tempestade.
“No pasarán!”,
Dizia ela...
III
Quem guardará memória
Do teu discurso de fogo?
Quem guardará memória
Da tua vontade inquebrantável?
Quem guardará memória
Da tua grandeza intangível?
Quem?
quinta-feira, setembro 28, 2006
segunda-feira, setembro 25, 2006
MEMÓRIA
Nas manhãs de Junho,
Quando o sol tudo doirava,
A nossa casa era também
A sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Guardo memória, mãe!,
Da nossa rua térrea
E vejo-te jovem
Algodão dobando
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Nas manhãs de Junho,
Quando o trigo amadurecia
E eu brincava brincava
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Fazia-te mil perguntas
- mil ou muitas mais -
E tu respondias sem enfado
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
E eu era feliz
E tu eras feliz, mãe!,
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Do outro lado da rua
À sombra da oliveira.
Quando o sol tudo doirava,
A nossa casa era também
A sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Guardo memória, mãe!,
Da nossa rua térrea
E vejo-te jovem
Algodão dobando
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Nas manhãs de Junho,
Quando o trigo amadurecia
E eu brincava brincava
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Fazia-te mil perguntas
- mil ou muitas mais -
E tu respondias sem enfado
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
E eu era feliz
E tu eras feliz, mãe!,
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.
Do outro lado da rua
À sombra da oliveira.
ESMERALDA PERDIDA
Em memória de minha avó paterna, Maria,
de seu nome completo.
Muito erecta em seu balcão,
De cores tristes vestida,
Cantava toda a manhã.
Os cabelos penteava
E rimas lançava ao vento
Pr’ afastar a solidão.
Sua voz tinha magia,
Tristeza muita e profunda,
E cantava todo o dia…
Ó querida velha tonta!,
-Minha esmeralda perdida,
Onde cantarás agora?
domingo, setembro 24, 2006
AO CONTRÁRIO DE BORGES
Ao contrário de Borges, há muito tempo que dissipei as dúvidas. Não haverá “ciclo segundo”. E mesmo as cidades, quando as sabemos dos escombros erguidas, ainda que ocupem o mesmo espaço, nunca são as mesmas.
Um dia, não quando a luz deixar de ser visita dos meus olhos, mas sim quando a máquina que bate dentro do meu peito, refractária se tornar ao seu incessante trabalho, ao crepúsculo terei chegado.
Não haverá “ciclo segundo”.
O que já foi, nunca mais voltará a ser.
Um dia, não quando a luz deixar de ser visita dos meus olhos, mas sim quando a máquina que bate dentro do meu peito, refractária se tornar ao seu incessante trabalho, ao crepúsculo terei chegado.
Não haverá “ciclo segundo”.
O que já foi, nunca mais voltará a ser.
A PRIMAVERA
Quando as laboriosas andorinhas chegavam, anunciando a Primavera, revigorada, a esperança enchia os nossos corações.
As ruas eram então inundadas de cor e alegria, de prolongados bruaás e de muitas correrias.
Irresistivelmente seduzidos, completamente ébrios, fazíamos desses primeiros dias de sol uma festa permanente.
E brincávamos, todo o dia, com imaginários brinquedos e alheios ao fluir do tempo.
As ruas eram então inundadas de cor e alegria, de prolongados bruaás e de muitas correrias.
Irresistivelmente seduzidos, completamente ébrios, fazíamos desses primeiros dias de sol uma festa permanente.
E brincávamos, todo o dia, com imaginários brinquedos e alheios ao fluir do tempo.
quinta-feira, setembro 21, 2006
ROUXINOL
Eu tenho inveja de ti
- ó sublime rouxinol-,
Que voas
E cantas
E longe
E alto levas
O teu canto!
Enquanto eu
- simples aspirante a cantor-,
Sou incapaz
De dar asas
E levar longe
E alto
O meu humilde canto.
Eu,
Humano
E sensível,
Tudo faço
Ao rés-da-terra.
- ó sublime rouxinol-,
Que voas
E cantas
E longe
E alto levas
O teu canto!
Enquanto eu
- simples aspirante a cantor-,
Sou incapaz
De dar asas
E levar longe
E alto
O meu humilde canto.
Eu,
Humano
E sensível,
Tudo faço
Ao rés-da-terra.
quarta-feira, setembro 20, 2006
PRAZER - 2
Uma garrafa de vinho
- e tinto de preferência -,
três amigos e uma mesa
e vamos ter, com certeza,
uma animada conversa.
Outra garrafa de vinho,
- corre a coisa de feição -,
para aos golinhos beber,
que a chuva na vidraça
não consegue importunar
a feliz hora que passa.
Só mais uma prá sossega.
desfiam-se recordações:
livros, passeios, noitadas,
músicas, danças, mulheres,
petiscos, copos e festas.
Amanhã, em minha casa!
Amanhã, nova viagem!
- e tinto de preferência -,
três amigos e uma mesa
e vamos ter, com certeza,
uma animada conversa.
Outra garrafa de vinho,
- corre a coisa de feição -,
para aos golinhos beber,
que a chuva na vidraça
não consegue importunar
a feliz hora que passa.
Só mais uma prá sossega.
desfiam-se recordações:
livros, passeios, noitadas,
músicas, danças, mulheres,
petiscos, copos e festas.
Amanhã, em minha casa!
Amanhã, nova viagem!
PRAZER - 1
PRAZER - I
Sim, era puro prazer
o que sentia, no V’ rão,
quando a janela abria
e o doce bafo do dia,
suave, acariciava
ternamente a minha pele.
então, os olhos abria
e sorvia, inteiro, o oiro
fresco do astro sublime.
E assim começava o dia!
Sim, era puro prazer
o que sentia, no V’ rão,
quando a janela abria
e o doce bafo do dia,
suave, acariciava
ternamente a minha pele.
então, os olhos abria
e sorvia, inteiro, o oiro
fresco do astro sublime.
E assim começava o dia!
terça-feira, setembro 19, 2006
NOSSA SENHORA DA PÓVOA
Ao Dr. Torrão, excelente anfitrião de poetas.
Nossa Senhora da Póvoa,
No Vale, tem sua morada,
Onde vela toda à hora
Por quem passa na estrada.
Por quem passa na estrada,
Por quem vai ao Sabugal.
Vive ali tão recatada
No seu meio natural.
O seu sereno sorriso
Transmite serenidade.
Vive ali no paraíso,
Vero reino da bondade.
Nossa Senhora da Póvoa
Dai-nos saúde e alegria;
E aos nossos moços e moças
Dai-lhes força e valentia.
Eu hei-de dar à Senhora
Um vestido de valor
De puro linho de outrora
Vindo de Penamacor.
Manuel Barata
Nossa Senhora da Póvoa,
No Vale, tem sua morada,
Onde vela toda à hora
Por quem passa na estrada.
Por quem passa na estrada,
Por quem vai ao Sabugal.
Vive ali tão recatada
No seu meio natural.
O seu sereno sorriso
Transmite serenidade.
Vive ali no paraíso,
Vero reino da bondade.
Nossa Senhora da Póvoa
Dai-nos saúde e alegria;
E aos nossos moços e moças
Dai-lhes força e valentia.
Eu hei-de dar à Senhora
Um vestido de valor
De puro linho de outrora
Vindo de Penamacor.
Manuel Barata
segunda-feira, setembro 18, 2006
TRÍPTICO PARA GUEVARA
I
Ernesto
Tinha uma moto
E gostava
De viajar.
Ernesto sabia
De firme saber
Que a geografia
Se aprende
Em cada lugar.
Um dia,
Deixou mulher e filhos
E partiu.
II
A melancolia
Era só exterior.
Ernesto
Tinha
Dentro de si
Um indomável
Corcel.
E um coração
Apaixonado
Como Carlos Gardel.
III
Cansado
Da pátria placidez
E de sonhos
A transbordar
Deixou mulher e filhos
Para não mais voltar.
E o ignoto médico dentista
- asmático por sinal –
Transformou-se
No símbolo
Da revolução universal.
Ernesto
Tinha uma moto
E gostava
De viajar.
Ernesto sabia
De firme saber
Que a geografia
Se aprende
Em cada lugar.
Um dia,
Deixou mulher e filhos
E partiu.
II
A melancolia
Era só exterior.
Ernesto
Tinha
Dentro de si
Um indomável
Corcel.
E um coração
Apaixonado
Como Carlos Gardel.
III
Cansado
Da pátria placidez
E de sonhos
A transbordar
Deixou mulher e filhos
Para não mais voltar.
E o ignoto médico dentista
- asmático por sinal –
Transformou-se
No símbolo
Da revolução universal.
AMAR
É estar sentado, contigo,
À porta da nossa casa
Numa noite de Verão.
E ao luar,
Absorto,
No voo
Dos meus pensamentos,
Comer tâmaras,
Em paz.
E saber, amor,
Que esperas
Que a brisa passe
E eu procure,
Ternamente,
A tua face.
Manuel Barata
À porta da nossa casa
Numa noite de Verão.
E ao luar,
Absorto,
No voo
Dos meus pensamentos,
Comer tâmaras,
Em paz.
E saber, amor,
Que esperas
Que a brisa passe
E eu procure,
Ternamente,
A tua face.
Manuel Barata
sábado, setembro 16, 2006
DE CAMÕES E PETRARCA
Petrarca nada sabia
Do amor de carne e osso.
Laura é construção mental,
Palavras e nada mais.
A senhora que Camões
Tanto desejava ver,
Tinha morada na Terra
E gostava de foder.
Pelo foder ultrapassa
Luís Vaz o seu modelo.
Que o ítalo nunca viu
Uma rapariga em pêlo.
Manuel Barata
Do amor de carne e osso.
Laura é construção mental,
Palavras e nada mais.
A senhora que Camões
Tanto desejava ver,
Tinha morada na Terra
E gostava de foder.
Pelo foder ultrapassa
Luís Vaz o seu modelo.
Que o ítalo nunca viu
Uma rapariga em pêlo.
Manuel Barata
SENHORA DO ALMORTÃO
Para o Dr. Rui Rodrigues.
Senhora do Almortão
Dai-nos paz e harmonia.
Dai-nos muita devoção
e vontade de folia.
Em frente desta capela,
Cantaram nossos avós.
Trazidos p’la mesma estrela,
Agora cantamos nós.
Nossas mães aqui cantaram
Com alegria e paixão
E com nossos pais dançaram
Ao som do acordeão.
Nossos filhos hão-de vir
Pra manter a tradição.
É promessa pra cumprir,
Ó virgem do Almortão!
Manuel Barata
Senhora do Almortão
Dai-nos paz e harmonia.
Dai-nos muita devoção
e vontade de folia.
Em frente desta capela,
Cantaram nossos avós.
Trazidos p’la mesma estrela,
Agora cantamos nós.
Nossas mães aqui cantaram
Com alegria e paixão
E com nossos pais dançaram
Ao som do acordeão.
Nossos filhos hão-de vir
Pra manter a tradição.
É promessa pra cumprir,
Ó virgem do Almortão!
Manuel Barata
OFÉLIA
OFÉLIA
Ficou para tia
A nossa Ofélia,
Porque a obra
(ai, a obra!)
De Fernando
Assim o exigia.
Morreu velha
E respeitada,
Mas por homem,
Presume-se,
Nunca amada.
Vagas promessas,
Pequenos nadas.
De eléctrico iam
À Cruz-Quebrada.
Iam e vinham,
Vinham e iam.
Iriam os dois
E de mãos dadas?
Ficou para tia
A nossa Ofélia,
Porque a obra
(ai, a obra!)
De Fernando
Assim o exigia.
Morreu velha
E respeitada,
Mas por homem,
Presume-se,
Nunca amada.
Vagas promessas,
Pequenos nadas.
De eléctrico iam
À Cruz-Quebrada.
Iam e vinham,
Vinham e iam.
Iriam os dois
E de mãos dadas?
sexta-feira, setembro 15, 2006
SANTA IRIA DE AZÓIA - 3

Santa Iria está um brinquinho. Todos os espaços livres, pequenos ou grandes, estão tratados com rigor e bom gosto. Goste-se ou não do executivo da Junta de Freguesia, manda a honestidade que se credite na conta dos autarcas santirienses, a forma meritória como têm tratado do território que lhes está confiado.
Eu costumo dizer que não trocaria Santa Iria por Cascais, porque também é uma vila ribeirinha e com linha. E alinhada com os melhores valores de desenvolvimento humano. É a terra de Jerónimo de Sousa. E também a minha!
SANTA IRIA - 2

Naquele ano de 1972, havia de conhecer o Silvestre Figueiredo - o meu grande e saudoso amigo Silvestre Maria das Neves Figueiredo -, que, tal como eu, fizera de Santa Iria a sua terra de adopção.
Médico amigo dos pobres e homem de grande generosidade, já merecia figurar na toponímia da freguesia. Trata-se certamente de um lapso, que os autarcas santirienses saberão corrigir oportunamente. O Silvestre era um quase filho da terra, que, à sua maneira, amou Santa Iria e as suas gentes. Teve consultório em Via Rara e foi médico na 1º de Agosto.
SANTA IRIA DE AZÓIA - 1

Vim para Santa Iria, no já longínquo ano de 1972. Costumo dizer às pessoas que me são próximas, que esta já é minha verdadeira terra. Com efeito, tenho por Santa Iria um carinho especial e tenho-lhe dado alguma coisa do que sei e posso. Provavelmente, menos do que deveria. Porém, tudo o que dei, dei-o de boa vontade e sem esperar por contrapartidas.
Fotografia do castelo de Pirescoxe
sexta-feira, setembro 01, 2006
VALENÇA - 2
VALENÇA - 1
CASTELO BRANCO - 6
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