quarta-feira, outubro 20, 2010

TANTO CANSAÇO
Estou a ficar cansado - não do débito e crédito rosiano (Olá grande poeta!) -, mas das alíneas, dos números e dos artigos das leis e dos decretos-leis, produzidos por juristas preclaros, e também dos números das circulares e dos ofícios-circulados, através dos quais os directores –gerais, debitam para o vulgar o que se deve entender que entenderam, repito, os preclaros juristas.

Não sou um funcionário triste nem alegre, porque a um funcionário não se pede nem se paga para ser triste ou alegre. Um funcionário é um funcionário, despido de adjectivos, como diria o sempre delicioso Caeiro. Cansado, sim, que a leitura e a exegese das alíneas, dos números e dos artigos das leis e dos decretos-leis, absorvem e ocupam um espaço desmesurado na minha mente.

Objectivamente, sou um funcionário cansado. E estranho que só agora me ocorra este cansaço, quando passei muitas tardes de domingo a olhar o Tejo e os bandos de aves em viagem e eu fui ficando, sem coragem para mandar às malvas as alíneas, os números e os artigos das leis e dos decretos-leis e de com elas partir à procura de novas paragens.

3 comentários:

João de Sousa Teixeira disse...

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)

Abraço
João

Manuel da Mata disse...

Conheço o texto e estou de acordo com ele, digamos assim, na generalidade.
Eu também penso que a minha vida é a minha grande empresa e tudo farei para que não vá à faLência. Falo da vida interior, obviamente.
Este cansaço radica mais no descontentamento que sinto em relação a este país que eu qeria mais justo e mais fraterno e sobretudo no descaramento com que esta rapaziada trata a nossa geração.
Guardarei as pedras, mesmas estas que são atiradas, mas ficam aqui guardadas, e vou ver se consigo construir um pequeno castelo.
Até sábado. Abraço.

Filoxera disse...

Sei este estado de alma...
Temos de nos dar conta que não podemos consumir demasiado tempo desta preciosa vida assim.
Beijinhos.