O TEMPO
O tempo - essa coisa misteriosa que se conta em milénios, séculos, anos, meses, dias, horas, minutos e segundos -, alguém saberá ao certo o que é? E no entanto, nada escraviza mais o Homem do que o tempo, que os gramáticos organizam em passado, presente e futuro, mas que, no fundo, é apenas passado e futuro.
O tempo - essa coisa estranha que dá alento aos tiranos e torna precárias as acções dos heróis, que destrói as verdades eternas dos teólogos e os sistemas infalíveis dos filósofos, que tudo e todos condena ao esquecimento -, alguém saberá ao certo o que é?
No seu perpétuo fluir, o tempo é o tempo, como diria o delicioso Caeiro.
Para mim, que não sou poeta nem literato, mas apenas amigo de poetas e literatos, o tempo é o sol a levantar-se preguiçosamente das águas do Tejo - é assim que eu o vejo das janelas da casa onde habito - que depois sobe e roda e desce, devagarinho, para desaparecer por detrás das casas, para de novo se levantar das mansas águas do Tejo e subir e rodar e descer e desaparecer e de novo se levantar das mansas águas do Tejo!
Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lisboa, 2005
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