quarta-feira, janeiro 13, 2010

DO MEU DIÁRIO

Paredão do Alqueva
Santa Iria de Azóia, 13 de Janeiro de 2010 – Continua o tempo invernoso: muita chuva, vento, muito frio. Começo a ficar com saudades de dias soalheiros, que, mesmo em Janeiro, fazem bem à alma. Este tempo cinzento, encinzenta-me a alma e o espírito. O encinzenta-me é para o meu amigo Daniel Abrunheiro, que é, indiscutivelmente, um grande criador desta lusa língua.

Boa notícia é a barragem do Alqueva já estar cheia. É a primeira vez que tal acontece; e, por isso mesmo, merece uma nota neste Diário. Há-de encher mais vezes, para que o Alentejo seja, em sentido lato, um Mar de Pão, que vai em itálico, porque é o título de um livro muito belo do meu amigo João de Sousa Teixeira.

E para os que me lerem, apesar deste tempo agreste, um dia feliz.

1 comentário:

João de Sousa Teixeira disse...

Excerto de Mar de Pão, a propósito do teu post:
...
Sem saber explicar porquê, sonhou com água, mais do que rios de água, eram mares de água. Concorriam com vales e montanhas, vindas sabe-se lá de onde, para se quedarem a seus pés, mansas e pródigas, de fertilidades só possíveis em sonhos, como era o caso, e tudo em volta ficava subitamente verde: os montes, a planície e a sua esperança.
Fez ainda uma ligeira tentativa para acordar a meio da enxurrada, mas deixou-se levar pela corrente.
Para quem, desde moço, o Guadiana era já o mar, não tinha dúvida que estava em presença, mais do que um grande rio, de um mar de mar.
Não tinha ondas e sabia-lhe bem o fresco das águas que brotavam de todo o lado para se aquietarem junto de si, em forma de uma grande, monumental represa, oferecida para tudo quanto agora ele mandasse.
Realmente a água era um bom sonho. Nunca, por sonhos vira tanta água, ao mesmo tempo dócil e, determinada, inundar casas, árvores, fazendas inteiras.
...
Abraço
João