domingo, julho 30, 2006

MATA (BELGAIS)

Provavelmente, nunca saberemos os verdadeiros motivos que levaram Maria João Pires a abandonar Portugal e o projecto educativo que vinha desenvolvendo na freguesia de Mata, no concelho de Castelo Branco; ainda que, relativamente a este último, outro responsável tenha feito passar a ideia de que se tratatava de um até já.
A Granja de Maria João Pires é um local de acesso difícil e muito longe de qualquer centro urbano minimamente interessante. A margem direita do Ponsul poderá ser um óptimo refúgio temporário para trabalhar e pensar, um sítio agradável e com boa qualidade ambiental; porém, também há-de ter as suas horas de solidão, de melancolia e desconforto. Mesmo sabendo nós que a insigne pianista tinha o seu programa de concertos e de viagens, no país e no estrangeiro.
Na Mata, onde o projecto educativo estava a ser desenvolvido, o que obrigou a obras importantes na antiga escola primária, onde o autor destas linhas aprendeu a ler e a escrever, o mesmo era considerado elitista e extravagante. Porém, há que dar de barato essas opiniões, porque as populações do interior e menos dadas à inovação, resistem sempre ao novo e aquilo que foge aos seus conhecimentos mais ou menos empíricos. De qualquer modo, a Mata foi a localidade que mais ganhou com o projecto, que impediu o fecho da escola e inscreveu a terra no mapa.
De Maria João Pires sempre ouvi dizer bem. Tratava as pessoas com afabilidade e até comparecia nos funerais. Teve casa arrendada na própria localidade. No entanto, sei que ninguém chorará por ela. Ninguém assinará um abaixo-assinado a pedir-lhe que revogue a sua decisão.
Por último, uma nota pessoal: a pianista pode estar cansado do país e da sua gente; porém, não creio que tenha sido maltratada. Há outros com mais razões de queixa e que muito deram a Portugal. Nesta atitude da grande pianista perpassa, a meu ver, uma daquelas birras dos artistas, que se julgam sempre credores da pátria. Às vezes é tudo um questão de pilim e alarga-se a gestores, economistas, empresários. cientistas, etc. Às vezes, é mesmo uma questão de pilim.

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