sexta-feira, março 16, 2012

VALE FOGADO (MATA-CASTELO BRANCO)


BENDITAS SEJAM AS NOSSA OLIVEIRAS


Viram-te nascer e conhecem de cor os teus segredos. Foram a tua companhia, silenciosa e segura, durante centenas de anos.


Deram-te sombra, nem sempre boa, é certo, nos tórridos dias do verão; a luz possível, antes do advento da electricidade; o calor nos invernos, às vezes, tão longos e rigorosos; o tempero para a panela pobre, que tornava o feijão e a couve menos ásperos; o dinheiro para muitos dos restantes e indispensáveis bens.


E como a generosidade foi recíproca, também é justo que não olvidemos o muito e aturado trabalho e até servidão que foram exigindo a sucessivas gerações.


De qualquer modo, moldaram-te o carácter. Com elas aprendeste a mansidão e a austeridade. Por isso mesmo, nunca foste dada a sobressaltos e a paixões. Em toda a minha vida, apenas ouvi falar de um crime passional, perpetrado por um homem, a quem o amor de uma mulher não quis servir. Foi muito antes de eu ter nascido e já passei há muito pelos cinquenta.

Benditas sejam para sempre as nossas oliveiras!

domingo, março 11, 2012

DO MEU DIÁRIO

Baía de Luanda(Wikipédia

TAVIRA (Wikipédia)


Santa Iria de Azóia, 11 de Março de 2011 – Há trinta e oito anos, no dia 11 de Março, estava na cidade de Tavira, num quartel chamado CISMI, onde cumpria o serviço militar obrigatório. Das Caldas da Rainha partia uma coluna militar em direcção a Lisboa, com o objectivo de derrubar o regime. Escrevi regime e não governo. A referida coluna era comandada por Vergílio Canízio da Luz Varela, um terrível capitão de infantaria que fora meu comandante de companhia. A sobredita coluna não chegou ao destino e o regime ainda sobreviveu mais um mês e catorze dias.


Pressentia, no entanto, que o fim do regime estava para breve. A esperança ganhava um novo vigor. O fim da guerra colonial e o começo de tempos de paz para a juventude portuguesa estavam para breve, pensava eu com os meus botões. Apesar da esperança que me habitava a alma, sabia, no entanto, que havia ainda um caminho árduo a percorrer.


Ainda havia de passar por várias cidades, e outro continente, até que tudo acabasse, o que se veio a verificar no dia 6 de Outubro de 1975, ou seja, um mês e cinco dias antes da independência da chamada joia do império. Angola, pois claro, que é de novo o destino de muitos portugueses, que vão na mira dos negócios e do trabalho. Após Caldas da Rainha e Tavira, Castelo Branco, Lisboa, Tomar, Luanda, o mítico lugarejo de Nambuangongo, Luanda, são nomes que ficaram ligados ao meu roteiro militar.


Recordo tudo sem qualquer ponta de nostalgia. Nunca fiz qualquer esforço para encontrar antigos guerreiros. Que sejam todos muito felizes e eu também. No entanto, há dias encontrei o Zé Baeta, que conheci em Luanda e do qual me tornei amigo. Após mais de trinta anos sem nos termos voltado a ver, embora estivéssemos em contacto através das novas tecnologias. Ficámos contentes e combinámos reencontrarmo-nos brevemente. Foi no Terreiro do Paço, numa manifestação da CGTP.

sábado, março 10, 2012

A GUERRA VOLTOU A GAZA

A guerra voltou a Gaza
- Pobre terra Palestina! -
Onde o judeu tudo arrasa
Com fúria assassina.

O vampiresco invasor
Faz uma orgia de sangue.
Mata, insensível à dor,
Um faminto povo exangue.

E esta Europa velha e tonta
A tudo assiste, incapaz…
Indolente, faz de conta
Que deseja muito a paz.

E assim continua o mundo,
Martirizado e cruel,
Sujeito ao poder imundo
Do pavoroso Israel.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 10 de Março de 2012 – Há oito dias foi-me oferecido um livro, Crónicas de maldizer, da autoria de um causídico de Abrantes, de seu nome Eurico Heitor Consciência. Trata-se de uma compilação de crónicas publicadas no jornal O RIBATEJO, dirigido por Joaquim Duarte.
Tive, desde sempre, um apetite voraz por crónicas. Não admira, assim, que tenha dado prioridade às crónicas de Consciência, para ficar de bem com a minha. Em boa hora o fiz, porque se trata de um livro admirável. Por várias razões: a qualidade da escrita, a pertinência da matéria das crónicas, a visão premonitória do autor em muitos dos seus textos e também muito humor e sarcasmo.
Na crónica intitulada “Senhor Menino Jesus” pode ler-se: Peço-te que acabes com os subsídios de Bruxelas, porque os dinheiros de Bruxelas estão dando o que deram os dinheiros da canela e da pimenta da Índia e os do ouro do Brasil: aumento dos consumos e da preguiça com redução da produção e corrupção, crimes e desigualdades afrontosas. Com os subsídios, os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres estão cada vez mais pobres (e endividados) e os da classe média, de tão endividados, caminham para pobres” (2000.12).
Num certo sentido, este livro de crónicas é um manual sobre as questões da cidadania. E nem só. Verdadeiramente imperdível.
Consciência, Eurico Heitor, Crónicas de mal dizer, JORTEJO EDIÇÕES, Santarém, Julho de 2005.

sexta-feira, março 09, 2012

3 QUADRAS DE BEM DIZER

Pede aos santos Assunção
A chuvinha que não vem.
É castigo sem perdão
Que o povo paga também.

Chova lá o que chover,
- Ai, é tão grande a desgraça! -
O meu povo vai sofrer
Que esta seca só já passa,

Se esta gente for embora
Para longe do país.
Há-de ir. Vai chegar a hora
Do meu povo ser feliz.