Porque me perece muito actual
e nunca terá sido publicado neste "blog"
Muitos de nós que temos mãos e temos pés,
muitos de nós que fazemos adeus aos comboios nas estações,
muitos de nós que passeamos o conformismo pelas ruas da cidade,
muitos de nós,
um dia,
talvez um dia,
saibamos quão inúteis foram os nossos braços,
as nossas pernas,
as nossas bocas,
os nossos ouvidos
e os nossos cérebros.
Talvez um dia,
quando violarem o silêncio da nossa inutilidade
e já for demasiado tarde,
vejamos então como eram irreais
os nossos primorosos raciocínios.
Nesse dia,
não haverá lugar para lágrimas
e lamentações.
Nesse dia,
morreremos como cães:
sem palavras,
sem sonhos,
acéfalos,
loucos.
1 comentário:
Manuel,
Fiquei a pensar no poema, neste poema!...
Um dia, não muito longe, não muito perto, não estaremos cá...O que fazemos da vida que nos coube em sorte?!...
Ainda tenho o hábito de acompanhar o primeiro café da manhã com um jornal. Hoje foi o "Diário de Notícias". Folheando as suas páginas descubro naqueles anúncios da Necrologia um rosto familiar, eu que nunca paro naquelas páginas!
Morreu o José Videira, um dos mais competentes técnicos de som da Rádio. Foi com ele como técnico e a Maria Emília Correia como jornalista a minha primeira entrevista para o "Página Um" da Rádio Renascença! Isto foi antes do 25 de Abril. Claro que nos vimos depois muitas vezes, algumas na Assírio & Alvim! E hoje a brutalidade desta evidência da morte!...
Alguma estrela acolheu o teu sorriso, José Videira!
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