sábado, maio 29, 2010

CORETO DO S. PEDRO(MATA)
SENHORA DO ALMORTÃO



I

A Senhora do Almortão,
Em Idanha tem morada.
Sempre rosa em botão,
Ora rosa , ora encarnada.

A Senhora do Almortão
É santinha recatada.
‘stá naquela solidão
E não se queixa de nada.

A Senhora tem morada,
Numa bonita capela.
Para a Mata ‘stá virada,
Que também é terra dela.






II


A Senhora do Almortão
É ‘ma rosa perfumada.
Em todo o solo beirão,
Não há outra tão amada.

A Senhora tem vestidos
A oiro e prata bordados,
Que lhe foram of’recidos
Ou por milagres trocados.

Na cabeça usa coroa
De perfeição sem igual.
Foi mandada de Lisboa
P´la rainha de Portugal.

Ali perto da fronteira,
A nossa linda Senhora,
Que não tem queda guerreira
Quis ser nossa protectora.

Ó virgem do Almortão,
Dai-nos voz para cantar!
Dai-nos também devoção
Para o ano cá voltar.


Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, LX 2005.

SENHORA DO ALMORTÃO




Para o Dr. Rui Rodrigues.



Senhora do Almortão,

Dai-nos paz e harmonia.

Dai-nos muita devoção

E vontade de folia.



Em frente desta capela,

Cantaram nossos avós.

Trazidos p’la mesma estrela,

Agora cantamos nós.



Nossas mães aqui cantaram

Com alegria e paixão

E com nossos pais dançaram

Ao som do acordeão.



Nossos filhos hão-de vir

Pra manter a tradição.

É promessa pra cumprir,

Ó virgem do Almortão!


NOSSA SENHORA DA PÓVOA
Ao Dr. Domingos Torrão



Nossa Senhora da Póvoa,


No Vale, tem sua morada,

Onde vela toda à hora

Por quem passa na estrada.



Por quem passa na estrada,

Por quem vai ao Sabugal.

Vive ali tão recatada

No seu meio natural.



O seu sereno sorriso

Transmite serenidade.

Vive ali no paraíso,

Vero reino da bondade.



Nossa Senhora da Póvoa

Dai-nos saúde e alegria;

E aos nossos moços e moças

Dai-lhes força e valentia.



Eu hei-de dar à Senhora

Um vestido de valor

De puro linho de outrora

Vindo de Penamacor.



Manuel Barata, FRAGMENTÁRIA MENTE, Ed. Alecrim, Sta. Iria, 2009


S. PEDRO DA MATA



S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Ó minha cereja madura!
Detrás da tua capela,
Põe-se o sol e nasce a lua.


S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Ó minha cereja maior!
Detrás da tua capela,
Nasce a lua e põe-se o sol.


S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Quem vos varreu a capela?
- Foram as moças da Mata,
Com raminho de marcela.


S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Quem vos varreu o terreiro?
- Foram as moças da Mata
Com raminho de loureiro (*)




É uma cantiga de romaria, em honra de S. Pedro.
Pertence ao folclore da Mata. Fica aqui reproduzida para
Que se não perca.




Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx, 2005



SÃO PEDRO (Romaria da Mata)


Prò Carlos Rolo


S. Pedro vive sozinho,

Numa capela modesta.

Ao cimo do Azendinho,

Onde o povo vai em festa.



Onde o povo vai em festa,

E com muita devoção.

Leva merenda na cesta,

Cantigas no coração.



Toalha ‘stendida no chão

Do mais fino e alvo linho.

E sobre ela muito pão,

Chouriço, presunto e vinho.



Manuel Barata, FRAGMENTÁRIA MENTE, Ed. Alecrim, Sta. Iria, 2009



sexta-feira, maio 28, 2010

SONETO

Continua o mundo desconcertado,
Um mar de mentira e hipocrisia.
Desde Camões, pouco terá mudado,
Continua a mandar a vilania.


Os ricos, ousados e poderosos,
Ditam suas injustas leis ao mundo.
Incapazes de gestos generosos,
Tudo submetem ao dinheiro imundo.


Vivemos um tempo de submissão,
Que ignora princípios e valores.
O estudo, a probidade e a razão,


Deram lugar às cunhas e aos favores.
E assim corre a vida desta nação,
De engenheiros, bacharéis e doutores.

segunda-feira, maio 24, 2010

TERRAS DO MUNDO


95



Boa sopa de cação,
Por poetas celebrada,
É na vila de Mourão
Numa adega recatada.

96


Adega Velha chamada,
Vai-se lá por devoção:
Saborear a encharcada
E o bom guisado de grão.

97



Ali tudo é saboroso:
Peixe, carnes, vinho e pão.
Ah, até o bolo rançoso
Merece degustação.

sábado, maio 22, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 21 de Maio de 2010 - Vai-se discutindo o futuro do livro tal como o conhecemos hoje, com argumentos bons e maus e mesmo com não-argumentos. Eu confesso sem quaisquer constrangimentos que já leio menos do que lia, ainda que tenha centenas de romances para ler. Nunca fui um leitor compulsivo e nunca lia trinta e nove à hora. Apesar dos medos, e um deles é a internete (deixem-me lá usar o neologismo), nunca se produziu tanto livro como nos tempos que correm.

E a provar que o negócio não é mau, aí estão as grandes editoras, pujantes e endinheiradas, sempre prontas para investir neste ou naqueloutro segmento do mercado. E mesmo os pequenos editores, choramingões, lá vão resistindo e alguns rindo do que se vai escrevendo da crise de vocações para a leitura. Poucos, porque também os há, fecham as portas e dedicam-se a outras culturas.

E há também os livreiros, organizadores de feiras, aqui e além, que vão ganhando paulatinamente a vida, comprando restos de edições por tuta-e-meia e tentando vender pelo melhor preço. É gente que, diz-se, não gosta muito de livros. E há os ALFARRABISTAS, que gostam de livros e deles sabem falar com interesse, com eles ganhando também a vida como os anteriores, entre os quais podemos encontrar verdadeiros sábios.

Cá para mim o problema é mesmo de espaço, porque os livros são uns trastes que se insinuam insidiosamente e nos roubam quotidianamente o espaço.

PAISAGEM

REGIÃO DO ALQUEVA

sexta-feira, maio 21, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 21 de Maio de 2010 – Sempre proclamei urbi et orbi, apesar de saber da inutilidade das minhas proclamações, o apoio ao comboio de alta velocidade, vulgo TGV. E continuo convencido de que o país precisa do TGV e que só fará sentido adiar as obras, se a Espanha suspender as que têm que ser feitas do outro lado da fronteira.

Eu bem sei que esta minha posição é pouco patriótica, porque o patriotismo é monopólio da direita. No entanto, assumo, por minha conta e risco, a defesa do TGV, no qual ainda nunca viajei, mas que já vi passar em várias paragens do pouco mundo que conheço. Olha, e aqui está um verdadeiro achado: tenho visto passar o TGV, como Portugal tem visto passar muitos comboios. Gente com muito mundo quer o TGV fora das prioridades deste pobre país de pequenos e grandes crápulas.

Eu sou pelo TGV, incondicionalmente, mas reconheço que era necessário que se dissesse tudo com muita transparência ao povo. Ainda há dias, um português insuspeito, de nome Luís Delgado, defendeu a construção do TGV na televisão do senhor de Balsemão, porque é necessário aproveitar os fundos da EU. Como vou desconfiando da própria sombra, gostava que no mesmo dia e à mesma hora, o senhor Coelho e o senhor Sócrates, dissessem qual é a percentagem da comparticipação por parte da EU. E, ou ambos diziam o mesmo número, ou ficar-se-ia a saber que um deles estaria a mentir aos portugueses.

Eu quero o TGV, porque não quero que o meu país fique permanentemente a ver passar os comboios.

terça-feira, maio 18, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 18 de Maio de 2010 – Ouvi com atenção a entrevista de José Sócrates à RTP-1 e fiquei surpreendido com a ideia de que o mundo mudou imenso nas últimas três semanas. Eu já sabia que em 1917, o mundo mudara imenso em dez dias.

Pertenço aquele grupo de portugueses que lerem Jonh Reed e que ainda acham que a Revolução de Outubro foi o momento em que os russos e depois o mundo acreditaram que era possível fazer grandes transformações à escala planetária. A realidade, no entanto, foi bem diferente, porque os homens são naturalmente egoístas e não têm disponibilidade para abdicarem de privilégios. Estas, no entanto, são contas do meu diário.

Sócrates acha que os portugueses entendem as medidas tomadas pelo governo. Os portugueses não percebem o que está a acontecer, porque já lhes foram pedidos sacrifícios durante vários anos, pelos vistos inutilmente, e agora ainda lhe exigem mais, não se sabendo muito bem onde se quer levar o barco, se é que se quer levar o barco a sítio algum.

Sócrates esteve igual a si próprio, tal como Judite de Sousa, ainda que o facto da senhora estar igual a si própria não nos faça grande mossa. Já o facto de Sócrates estar igual a si próprio é grave, porque terá repercussões nas nossas vidas. Não pede desculpas, porque o mundo mudou, ou seja, a realidade foi tão dinâmica, que não foi possível fazer previsões e evitar a grande crise.
Aquela cara muito cerrada cheira-me a pose estudada. Sócrates, goste-se ou não dele, é um político a sério. Tem estofo, tem fibra, tem garra. Dizer que os portugueses são todos convocados para fazer sacrifícios, de forma equitativa, foi, em minha opinião, a coisa menos verosímil, das muitas coisas inverosímeis que debitou.

segunda-feira, maio 17, 2010

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 17 de Maio de 2010 – Este mês de Maio, que normalmente decorre morno e sem histórias, será recordado durante muitos anos como o mais terrível da nossa História recente. Tantas e tão gravosas são as medidas anunciadas, que as almas mais crentes poderão ser levadas a crer que estamos no fim do Tempo.

Parece nada escapar à fúria da governação e da oposição que se prepara para governar. Aumentam-se os impostos, cortam-se as despesas e anunciam-se outras malfeitorias para os do costume poderem continuar a dançar o tango. O tango da tanga para os dos costume, mas não para quem conduziu o país ao descalabro presente.

Pouco me interessam as opiniões dos ex-ministros das finanças e de outros actores da cena política actual. Pouco me interessam as opiniões de economistas, que sabem fazer contas, mas que parece desconhecerem que em matéria de economia não basta saber que três vezes nove são vinte sete, como dizia o meu amigo António Raimundo. Pouco me interessa o destino de Sócrates e de todos os Sócrates, que, decerto, sempre há-de ser melhor do que o da generalidade dos portugueses.

Interessa-me muito, no entanto, que as leis não tenham carácter retroactivo e que muitos dos beneficiários de reformas principescas, que agora debitam receitas para os outros, não sejam também atingidos como aqueles que no presente, trabalhando, garantem essas mesmas reformas. Interessa-me muito, no entanto, saber onde os políticos no activo e ex-ministros e outros políticos e também administradores de empresas públicas, têm o seu dinheiro depositado. Interessa-me muito saber, porque têm sido silenciados os escândalos do BPN e do BPP.

Interessa-me, por exemplo, que Portugal não seja um país transparente e solidário. Interessa-me que Portugal não seja o lodaçal onde os pescadores de águas turvas vão pescando a seu favor e a seu bel-prazer.

É que a crise não é para todos e os bois têm de ser chamados pelos nomes.

sábado, maio 15, 2010

Santa Iria de Azóia, 15 de Maio de 2010 - Baltasar Garzón, o célebre juiz espanhol que quis julgar Pinochet e quis, digamos assim, julgar crimes cometidos pelo franquismo, foi suspenso por um tribunal superior espanhol.

Eu nunca foi amigo de juízes, ou melhor dizendo, nunca tive juízes entre os meus amigos e não lhes credito qualquer simpatia. No entanto, o juiz Garzón goza da minha simpatia, porque tem mostrado uma coragem muito grande, quando enfrentou ou pretendeu enfrentar poderes com poderes excepcionais.

Para dizer o que me vai na alma, aqui fica escrito que a suspensão do juiz Garzón é mais um episódio da Guerra Civil de Espanha, que, como é bom de ver, é prolongada com mais este episódio. Em bom rigor, a Espanha nunca chegou a chamar os bois pelos nomes e aceitou a transição pacífica para a democracia sob inúmeras condições, nomeadamente, a de não tocar nos crimes hediondos perpetrados pelo regime de Franco.

O juiz Garzón calculou mal a correlação de forças. Meia Espanha, digo eu, ainda terceria armas por Franco. É assim a Espanha, a nossa vizinha e irmã Espanha, que assassinou Lorca e condenou ao exílio milhões de espanhóis.

quarta-feira, maio 12, 2010

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 12 de Maio de 2010 – Há vários dias que não dou continuidade a este Diário. E não é por falta de assuntos. Acontecimentos extraordinários da minha vida pessoal, muito mais importantes que a crise e a visita do Papa a Portugal, têm-me impedido de lhe dedicar o tempo habitual.

A visita do Papa tem sido indiscutivelmente um acontecimento; porém, nada que não fosse esperado neste território republicano, de regime político teoricamente laico e de pretensa matriz socialista. Portugal é isto mesmo: um país de brandos costumes, cujos governantes não têm, nem nunca terão, a ousadia de Zapatero. E ali os vemos, nos seus postozinhos protocolares, a assistirem à missa, inabaláveis na sua fé católica, apostólica e romana.

Mas o meu ponto hoje não era este. Fui surpreendido, logo pela manhã, com a notícia de que Sarkozy se atrasou para conversar com outro e/ou outros estadistas, porque ele a sua esposa tiveram vontade de fazer sexo. Pobre Mundo, pobre Europa, pobre França!

É bom que os políticos tenham sexo, para não serem confundidos com os anjos, mas não políticos destes, que têm a lata de fazer e publicitar actos desta natureza. Este Sarkozy será uma excepção, mas é a prova provada de que a França é agora uma coisa sem grandeza, onde pululam sarkozys.

Estamos entregues a boa gente.

sábado, maio 08, 2010

" No me digan a mí
que el canto de la cigueña
nos es bueno para dormir"
Rafael Albertí
6


Continua o mundo desconcertado,
Um mar de mentira e hipocrisia.
Desde Camões, pouco terá mudado,
Continua a mandar a vilania.


Os ricos, ousados e poderosos,
Ditam suas injustas leis ao mundo.
Incapazes de gestos generosos,
Tudo submetem ao dinheiro imundo.


Vivemos um tempo de submissão,
Que ignora princípios e valores.
O estudo, a probidade e a razão,


Deram lugar às cunhas e aos favores.
E assim corre a vida desta nação,
De engenheiros, bacharéis e doutores.

Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA,Ulmeiro, Lx., 2005.





sexta-feira, maio 07, 2010

3



Ó lendária serra lusitana,
Alvíssima princesa celebrada!
Tua beleza eterna não engana
E renova-se em cada madrugada.


Por ti tenho um amor puro e constante
Que desde a minha infância perdura,
Quando te via altiva, lá distante,
Ó serra rigorosa, enorme e dura!


Eram outros os tempos... Os pastores
Desertaram, cansados, prá cidade.
Deram descanso às flautas. Permanece


A noite povoada de pavores
Muita melancolia, a saudade
E este amor que a beleza rara tece.

terça-feira, maio 04, 2010

10


Passou pelo mundo, excêntrico e atrevido, um argentino a quem os deuses, um dia, negaram a luz. Onde quer que ia, diz-se, inundava os sítios com preciosas pedras, que irradiavam mais luz do que muitos sóis.

Modestamente, dessas pedras disse que uma só, se boa fosse, lhe daria todo o contentamento que os humanos podem experimentar. Enganou-se! Feitos os necessários testes, os sábios confirmaram que todas aquelas preciosas pedras eram veras fontes de luz.

Hoje, há uma legião de fiéis que se esforça para ordenar e descrever para todas as línguas do mundo as tais preciosas pedras, que são também sábias e raras.

Normal não é; porém, às vezes, os humanos vingam-se dos deuses.
Barata, Manuel, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005.

domingo, maio 02, 2010

DO MEU DIÁRIO

MATA -CENTRO CULTURAL JOAQUIM MOURÃO
Santa Iria de Azóia, 2 de Maio de 2010 - A Mata, diga-se em abono da verdade, tinha uma toponímia, no mínimo, curiosa. Eu creio que o inventor da toponímia matense foi um senhor de nome Manuel Luís - a tuberculose levou-o tão cedo! – que era acordeonista e que com a chegada da electricidade à Mata, também se tornou electricista.

Que foi Manuel Luís o contratado para pintar os rectângulos e desenhar as letras, não tenho quaisquer dúvidas. Já no que à autoria dos topónimos concerne, tenho as minhas dúvidas, que não são muitas, porque a Mata não teve nenhuma rua Professor António de Oliveira Salazar, nem Almirante Américo Tomás, nem com qualquer outro nome sonante do regime deposto, em 25 de Abril. E este facto não deixa de ser extraordinário, se se atender à circunstância de os regedores e os membros da junta de freguesia serem pessoas alinhadas com o regime. Não escreverei aqui, até porque já dormem o sono eterno, o nome de nenhum dos servidores do salazarento regime.

A única rua que tinha um nome histórico era a 1º de Dezembro, porque as restantes tinham o nome dos santinhos da devoção do povo e outra do Espírito Santo. S. Pedro e S. Sebastião tiveram direito a rua e travessa e Santa Margarida, na sua qualidade de padroeira, teve direito à rua maior e mais larga, ainda que só o 25 de Abril a viesse a calcetar, bem como as restantes do Entrego, ou seja, todas as ruas da Mata situadas para além da Igreja Matriz.

Nos últimos anos a coisa mudou: já havia a rua Melo Sanches e também a Professor Lucas Falcão. Não vou discutir a justeza da atribuição daqueles nomes a ruas da Mata, porque ambos foram pessoas muito importantes e à Mata ligados. O segundo até era o meu padrinho do crisma e a boca de um afilhado deve manter-se calada, mesmo quando possa discordar de tal atribuição. A Torre do Tombo, se alguém lhe tivesse perguntado, provavelmente, daria uma excelente resposta. Mas como agora se diz, está feito, está feito e prontos.

Os últimos baptizados, o Centro Cultural e uma nova rua ou avenida, receberam o nome do senhor Presidente da Cãmara Municipal e de um senhor Botelho, de não sei donde; um, decerto, por ser Presidente e amigo da Mata; o outro, porque terá facilitado a construção da semicircular, que também dará continuidade à via que há-de ligar a Mata a Idanha-a-Nova, quando a ponte vier a ser feita. Boas razões, portanto.

O bom povo da Mata, que sempre foi muito ordeiro e obediente, premeia sempre, com imensa justeza, aqueles que lhe fazem bem. E desta vez… Desta vez, como habitualmente, tudo voltou a acontecer sem surpresas.

sexta-feira, abril 30, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 30 de Abril de 2010 – Confesso que já começo a ficar farto de certos basbaques que não se cansam de repetir que é preciso dizer a verdade ao povo. Ora se estes detentores de verdades, mais ou menos teológicas, só agora ou recentemente se tornaram adeptos de falar a verdade ao povo, algo fede neste nosso reino da Dinamarca.

Portugal é hoje um lugar perigoso, porque há gente muito influente na política sem cultura democrática. É evidente que um aldrabão é um aldrabão, mas ninguém se pode arrogar a posse de verdades únicas para dizer ao povo. O PPD-PSD tem sido o campeão nesta matéria, mas pela razão comezinha de que quer voltar a sentar-se à mesa do orçamento quanto mais depressa melhor. Porém, era bom que não comesse tanto queijo e que nos dissesse que verdades nos disseram no passado, nomeadamente quando houve dinheiro a rodos para modernizar o aparelho produtivo nacional e deixaram tudo piorar.

Era bom que o PPD-PSD dissesse verdades simples como estas: connosco, as contas das obras públicas também derraparam e as construtoras encheram-se à tripa forra; companheiros nossos, que foram ministros e secretários de Estado, cometeram crimes económicos que o povo vai ter que pagar com língua de palmo e meio; companheiros nossos, com a ajuda do partido, foram nomeados para administradores de empresas públicas e ou pelo Estado participadas, auferindo, num país onde grassa a mais abjecta pobreza, ordenados e prémios obscenos; etc.

Dizer que se vai dizer a verdade ao povo é apenas um cliché, que, no momento actual, serve para mentir ao povo. Falar verdade ao povo seria, por exemplo, dizer coisas simples como estas: todos os carros ao serviço da governação, nos seus diversos escalões, têm de durar, no mínimo, quatro anos, mesmo que entretanto se mude de governo; nenhum ministro poderá, seja a que pretexto for, comprar mobiliário novo e remodelar aposentos; nenhum ministro ou outro mandante qualquer, poderá ter mais de três (este número poderá ser revisto) secretárias; nenhum ministro ou outro mandante qualquer, poderá encomendar estudos fora do seu ministério, desde que no mesmo haja pessoal qualificado para o efeito; nenhum governante poderá nomear filhos, enteados, sobrinhos e outros parentes seus, ou que tenham um vínculo idêntico com outro membro do governo.

Falar a verdade ao povo, antes de mais, passa por dar o exemplo. O exemplo valeria por milhares de palavras e o nosso amado P. António Vieira poderia descansar eternamente em paz.


QUADRAS DE ESCÁRNIO

Abril vai passando, lento,
E com poucas emoções.
O país vive o momento
Dos pulhas e dos ladrões.

Meu Portugal videirinho,
Onde tanto se labuta,
Tudo metes no cuzinho
De certos filhos de puta.

Ergue a cabeça e explode,
Como naquele outro Abril
E verás que quem te fode
Vai de novo pró Brasil

Ou outro sítio qualquer,
Com a fortuna aumentada.
Até te leva a mulher,
Deixando-te cá sem nada.

II

Eu amo este belo país,
Que espera quem não vem.
Terra de gente infeliz
De olhar vago e sempre aquém.

Obediente aos tiranos,
Pouco preza a liberdade.
Passa séculos e anos
Muito atido à caridade.

Um povo quer-se viril
E capaz de fazer frente
Aos que por maroscas mil
O querem triste e indigente.

Eu sei que não fico bem
Em tão severo retrato.
Azar. Português também,
Não mereço melhor trato.

quarta-feira, abril 28, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 27 de Abril de 2010 – Uma sigla e uma notação puseram um país habitualmente tranquilo em polvorosa. S&P e “A-“, são as causadoras das nossas apreensões, que já eram muitas e agora passam a ser muito mais.

Sócrates e Passos vão encontrar-se hoje para concertarem não sei quê, porque se soubessem concertar fosse o que fosse, já tinham dado um conserto nesta coisa toda.
Não há, pois, nada de bom a esperar deste encontro, porque vão servir-se de um receituário velho e que deu os bonitos resultados que estão à vista.

Na minha humílima opinião, garanto que o mundo está perigoso, porque os tratantes de anteontem são os mesmos que agora aparecem virtuosos a dar notas e a recomendar o que se deve fazer, que, inevitavelmente, nos há-de conduzir, debelada a crise actual, a crises futuras. Dir-se-ia que o capital especulador tomou conta do mundo, relegando a economia para um secundaríssimo plano.

Nós estamos agora a pagar as favas pelo desmoronamento do nosso aparelho produtivo, que, de cedência em cedência, se resume agora a meia dúzia de coisas sem grande importância. Valham-nos as temperaturas altas de ontem e de hoje, que até parecem estar em consonância com o terramoto que nos está a atingir.

Valha-nos Santa Quitéria!

segunda-feira, abril 26, 2010

Malveira, 26 de Abril de 2010 – Ontem, 25 de Abril, meti-me no comboio em Santa Iria de Azóia – coisa que já não ousava fazer há vários anos -, e fui com o senhor meu sogro desfilar na Avenida da Liberdade, que é a única artéria da cidade que merece receber aqueles milhares de celebradores contumazes. E a viagem até foi rápida e nada maçadora.

Antes de falar das pessoas que vi e das palavras de ordem que ouvi, quero aqui dizer que os comboios foram extremamente pontuais e já possuem asseio e conforto que não destoam dos seus congéneres franceses, que são os que conheço melhor.

A Avenida encheu-se de gente – não à pinha, obviamente -, e por ali se viam as “vacas sagradas” destas coisas e aquele genuíno povo de Lisboa e arredores, sempre generoso e combativo. Sim, aquele povo que só sonhou com um Portugal mais solidário e nunca com este território de desigualdades mais ou menos obscenas. Era esse povo que gritava a urgência de mudar de rumo às políticas do governo. Francisco de Assis ( eu não sei se é com “de”, como o outro que era filho e de um negociante de tecidos e veio a ser santo) não pôde deixar, ainda que em ambiente festivo, as profundas preocupações dos que ainda festejam Abril.

Tempo para ver Miguel Urbano Rodrigues, à distância, que chegou a dormir com a cabeça encostada no meu ombro direito, entre a Venda Nova e Santa Iria de Azóia, nos tempos dos comícios, colóquios e outras actividades lúdicas e culturais. Miguel Urbano, que é autor de um romance muito ousado e bem escrito, ALVA, lá ia com a família, ainda em muito bom estado, apesar da sua vida cheia de aventuras.

Quem não vi, e que também andou na minha Dyane azul-celeste, foi a D. Zita Seabra. Desencontrámo-nos, provavelmente.

sexta-feira, abril 23, 2010

Jardim Ary dos Santos

SANTA IRIA DE AZÓIA





Ó vila de Santa Iria,

Minha terra de adopção,

Ao 25 de Abril

Deste o braço e o pulmão!




Deste o braço e o pulmão,

Numa louca correria.

Foram tempos de paixão

E de fraterna utopia.



Manuel Barata, QUADRAS QUASE POPULARES, ULMEIRO, 2003.

quinta-feira, abril 22, 2010

QUADRA DESTE TEMPO

Nevoeiro de manhã
Não casa nada comigo.
Prefiro o sol de Junho
Pra ir à praia contigo.

quarta-feira, abril 21, 2010

CONFISSÃO

Há dias,
Despudoradamente,
Roubei um verso
Ao poeta Albertí.

Coisa sem importância
Dirão os (des)entendidos
Que pululam
Por aí.

Roubar, meu amor,
Só na loja das flores,

uma rosa
para ti.

sexta-feira, abril 16, 2010

ACERCA DOS LIVROS
1


De e com livros tem sido feita a minha vida:
Bons, maus, e assim-assim.
Neles, aprendi metade do pouco que sei;
Sem eles, não sei dizer o que de mim seria!

Outro homem, decerto, seria…

2



Com Fonseca, Manuel como eu,
No culto das musas me iniciei:
Ainda hoje vejo passar a tuna do Zé Jacinto
E me delicio com as alvas rolas,
Que Maria Campaniça escondia sob a blusa.

Por mil anos que um homem viva
Há metáforas que nunca morrem nem esquecem.

3


A prosa chegou com a colecção seis balas.
Só depois chegou Ferreira de Castro
E o seu casto português.
Fiz-me amigo de Manuel da Bouça e de Ricardo;
E, sobretudo, de Marreta e Horácio.

(E é chegado o momento de dizer,
Que se dane o espanhol que não quer
Referências culturais na poesia.
Que se dane pois o espanhol,
Cujo nome já esqueci).

4


Santareno
Veio ainda antes de Vicente!
Primeiro, o Édipo de Alfama;
Só depois, chegou o autor das barcas
e o pai de Antígona.

Franzino, António Martinho do Rosáro
Teve artes para ganhar a dianteira.

Em boa hora.

5


De e com livros tem sido feita a minha vida.

Manuel Barata, FRAGMENTÁRIA MENTE, Ed. Alecrim, Santa Iria, 2009




sábado, abril 10, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 10 de Abril de 2010 – Escolhido o lidere, o PSD reúne-se em congresso para tentar arrumar a casa e transmitir ao país a ideia de que é a grande alternativa à actual governação do PS. O novo Messias aí está, rodeado de apóstolos, pronta para pregar um Portugal novo, enquanto a comunicação social o quiser e os seus não decidirem pela crucificação.

Passos, que dos paços pouca experiência tem, tem boa imagem e fala sem gaguejar. Reúne todas as condições para vir a substituir Sócrates, que, sendo engenheiro, também conhecia bem o poder da retórica. E a retórica, como escreveu Roland Barthes, é efectivamente um poder. Dir-se-ia que só Cavaco, que nem sequer sabia o número de cantos da epopeia nacional, constituiu uma excepção. Sabia de economia e tinha uma imagem de austeridade, que, na época, colheu junto dos portugueses.

O grande espectáculo está montado, nomeadamente na SIC-Notícias do tio Balsemão, por onde passam Passos e os seus ajudantes, futuros isto e aquilo, comentadores, analistas e muitos jornalistas. Em bom rigor, podemos dizer que estão a ser criadas as condições subjectivas para mudar de chefe e de governo.

Eu sei de ciência exacta que o que aí vem não é bom. Não digo isto pela pessoa de Passos. Não digo isto por nenhum dos outros Passos, incluindo os da minha cor política. O que conta são as políticas protagonizadas e que os actores querem levar à prática. Do simpósio conhecido do novo senhor PPD-PSD não consta nada de novo para receitar.

E este, como agora se diz por aí, é que é o ponto.

quarta-feira, abril 07, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 5 de Abril de 2010 – E agora que se andava a falar de submarinos e de alta corrupção, desenterra-se a actividade de Agente Técnico de Engenharia de Sócrates e deixam-se afundar os referidos submarinos. De um momento para o outro, numa espécie de truque de magia à Luís de Matos, recolocam-se no centro da discussão política os projectos de engenharia assinados pelo actual primeiro-ministro, quando era deputado a tempo inteiro, ou seja, em regime de exclusividade. Um caso com barbas de vinte anos ou quase.

Eu não gosto de Sócrates e já o escrevi inúmeras vezes; no entanto, parece-me haver um exagero na perseguição ao passado do homem. E quer-me parecer que com o intuito pouco claro de deixar morrer ou marinar sem consequências situações muito mais graves e lesivas do interesse nacional.

Não gosto de Sócrates, repito. Tem feito muito mal ao país e aos portugueses. No entanto, os seus inimigos não são, certamente, as vítimas maiores das suas políticas. Os seus inimigos são aqueles que gostariam de ver os da sua cor no poleiro. Os grandes inimigos de Sócrates são os que querem alternar no exercício do poder.
Portugal não precisa de alternância no poder. Portugal precisa de políticas alternativas. E essas não virão, com certez, das fileiras da direita.

Bem ou mal, os portugueses deram a vitória ao PS e a Sócrates, nas últimas eleições legislativas. Por isso mesmo, tem toda a legitimidade democrática para governar. E talvez seja este o momento de relembrar a parábola bíblica da adúltera.

sábado, abril 03, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 3 de Abril de 2010 – Acabei de ver o programa “Plano Inclinado”, na SIC-Notícias, onde pontificam Medina Carreira, Nuno Crato, Mário Crespo e João Duque. Nada menos que três distintos professores e um insigne jornalista, que têm entre si dois traços comuns notórios: um enorme pessimismo e uma grande animosidade em relação ao actual executivo.

Durante uma hora, os intervenientes falaram de coisas importantes, nomeadamente de algumas das chagas do sistema educativo. Medina, sempre mais acutilante e recorrendo as expressões patuscas, ditou para a acta que este país não tem nada bom.

Eu não tenho quaisquer dúvidas de que nem tudo vai bem neste nosso reino da Dinamarca. Penaliza-me ver a anciã Maria Barroso, por exemplo, ser madrinha de um dos submarinos do nosso escusado endividamento; penaliza-me saber que a justiça tem dois pesos e duas medidas; penaliza-me que os governantes não tenham rasgo e não resolvam os grandes problemas nacionais.

Penaliza-me saber Portugal prisioneiro destes críticos e destes governantes, porque não é com uns e outros que venceremos a crise e nos tornaremos numa pátria mais fraterna. Portugal precisa de querer e saber ousar novas soluções governativas. Portugal precisa de políticas que apostem no renascimento do nosso aparelho produtivo.

quarta-feira, março 31, 2010

DO MEU DIÁRIO

Igreja de S. Pedro (Choupal)
Torres Vedras, 31 de Março de 2010 - Eu costumo dizer, meio a sério meio a brincar, que em Torres Vedras nada presta, a começar nas condições de sintonia das estações de rádio. É claro que se trata de uma blague, porque em Torres Vedras há coisas boas e más como em todas as localidades de Portugal

Que é uma das terras portuguesas onde tenho rapado mais frio, não tenho quaisquer dúvidas; mas não é menos verdade que é no Paul, a dois quilómetros de Torres, que tenho comido o melhor polvo à lagareiro. No Barracão, que não é propriamente uma pechincha, mas onde o serviço é bom. E o espaço agradável.

Depois há a Várzea, um jardim lindíssimo, com estruturas múltiplas, onde as crianças e os adultos podem fruir de excelentes momentos de lazer. Ainda esta tarde, depois do almoço e antes do início do segundo período de trabalho, dei duas voltas ao jardim para cumprir a prescrição médica. Exactamente, porque o meu amigo Dr. Gustavo receita-me marcha para combater a obesidade e prevenir a diabetes. E repartir os comes e bebes por muitas vezes, durante uma rotação da Terra à volta do astro rei.

Às vezes tenho preguiça e fico a fazer bicicleta no sótão, dentro das quatro paredes, mas a meia hora de marcha contínua, em espaços direitos e em movimento calmo, é prescrição eficaz e ponderada. Hoje foi em Torres Vedras; ontem foi em Santa Iria de Azóia; “tresantontem” foi no Parque das Nações; e, amanhã, não sei ainda onde será. É que o futuro, diz-se, a Deus pertence. E amanhã, que sei eu do amanhã?

Em Torres não será, certamente. Torres Vedras, essa terra onde nem as telefonias apanham bem a Antena-1.



segunda-feira, março 29, 2010

DO MEU DIÁRIO



MATA


Santa Iria de Azóia, 29 de Março de 2010 – Soube, através do jornal “Reconquista”, que foram inaugurados ontem, na Mata, diversos melhoramentos, a saber: Centro Cultural, que adoptou o nome do actual presidente da câmara, uma variante à rua principal e a estrada que fica a ligar a Mata a Idanha-a-Nova.

É indiscutível que a ligação a Idanha-a-Nova e a variante às muitas ruas que é a rua principal da Mata são melhoramentos de indiscutível interesse. A estrada tem uma largura razoável e permite a deslocação mais fácil aos habitantes de várias localidades dos concelhos de Castelo Branco e de Idanha. O Centro Cultural é uma daquelas obras que, após a sua construção têm utilidade uma ou duas vezes por ano e que ficam o resto do tempo a envelhecer. Como a população da Mata, infelizmente.

Posto isto, vamos ao verdadeiro motivo que me leva a escrever este texto. Nasci na Mata e à Mata tenho estado ligado, desde sempre. Sobre a Mata escrevi na “Reconquista”; sobre a Mata escrevi um livro; sobre a Mata escrevo no blogue MUSICA MAESTRO; da Mata uso o pseudónimo, um pouco à maneira dos trovadores medievais. Pois bem, apesar deste amor de uma vida, o Joaquim Faustino, que é meu parente e presidente da junta de freguesia, cometeu a proeza de não me ter dito absolutamente nada. Grande presidente!

Dir-se-ia que quem dá horas e mais horas de trabalho em prol da sua terra natal, leva assim um murro no estômago. O que não deixa de ser uma forma peculiar de reconhecimento. Uma forma muito peculiar e generosa de agradecimento, como é timbre de certas pessoas.

domingo, março 28, 2010

DO MEU DIÁRIO

ALQUEVA
Santa Iria de Azóia, 28 de Março de 2010 – Na última quinta-feira, fiz uma breve viagem de carro ao Alentejo, quase sempre debaixo de chuva. Apesar da chuva, e porque não me calhou a mim conduzir, sempre foi possível olhar a paisagem, que não é tão monótona como é costume dizer-se.
De Santa Iria a Moura é possível ver campos de trigo, muita vinha, muito olival e ainda campos e campos de azinheiras e sobreiros. Aqui e além um rebanho ou uma manada. Colhi a impressão, nesta viagenzinha de algumas horas, que o Alentejo também se vai renovando e que a construção da Barragem do Alqueva pode contrariar a desertificação que se vinha anunciando.
O almoço foi num restaurante humilde de Moura. A ementa era pouco variada e nas diversas mesas de um restaurante repleto não se vislumbravam quaisquer vegetais. Nem pratos de peixe. Nem fruta. É possível que tenhamos escolhido mal, mas o dia estava chuvoso e a oferta também não é grande. Mas dá para perceber os hábitos de uma região.
Na grande Lisboa, felizmente, há de tudo, a alentejana sopa de cação, os rojões de Viseu, a lampreia à moda do Minho, a posta mirandesa, a chanfana à moda de Tomar, os maranhos da Sertã. Lisboa, e os seus arredores, é o coração deste pequeno país e o resto é conversa. Ainda que me seja sempre muito grato visitar terras de Portugal e saborear as especialidades gastronómicas, nas respectivas regiões.
Registe-se, no entanto, o vincado carácter alentejano, que fazem da região e dos seus habitantes um caso à parte no todo nacional. Nomeadamente, um grande amor à terra.

quinta-feira, março 25, 2010

2 QUADRAS

Deixai lá casar quem quer
(cada qual com o seu par).
Que ninguém tenha o poder
De nos corações mandar.

Cada qual deve escolher
O seu parceiro de cama.
Se for mulher com mulher;
Afinal, onde está o drama?

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 25 de Março de 2010 – O senhor Belmiro de Azevedo, engenheiro, um dos homens mais ricos de Portugal e do mundo e opinador inveterado em relação à governação do país, tornou-se uma figura detestável, porque cospe no prato de quem lhe deu a sopa.

Que o país esteja a ser mal governado ou a ficar ingovernável ou coisa parecida, o facto fica a dever-se também ao senhor Belmiro de Azevedo, que nunca se queixou daquilo que os portugueses gastam nas lojas e nas empresas do grupo SONAE. Belmiro de Azevedo fala de barriga cheia e a sua discursata é irrelevante. O que Belmiro de Azevedo quer é que o país seja cada vez mais Belmiro.

Que não se pode fazer a cama maior que o corpo, é um daqueles truísmos que qualquer rústico percebe. Os portugueses que gastam sem poder, não raramente, são aqueles que vão às lojas Continente e Modelo e compram uma série de porcarias que lhes propõem com preços competitivos e através das mais refinadas técnicas de Marketing.
Bem prega Frei Tomás

quarta-feira, março 24, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 24 de Março de 2010Que Portugal era o país com mais casos de tuberculose e de infectados anualmente pelo HIV, no âmbito da comunidade europeia, já todos sabíamos; mas que éramos também os europeus com menos saúde mental, admito que suspeitava por mera intuição. Hoje aí está, escarrapachado num quotidiano, a funesta notícia.

Por um lado, confesso que estou agora mais descansado, porque a benevolente Europa não deixará de olhar para nós como uma mãe olharia pelo seu filho tontinho. Neste momento, até me parece uma óptima notícia, porque nos permite não levar o défice a sério, assim como o até agora famigerado PEC, que são, tenho absoluta certeza, obra daqueles portugueses que nos governam e que farão igualmente parte das estatísticas.

Eu já tinha percebido que o PEC que quer controlar apenas as despesas do Estado, mas que não se preocupa com a criação de riqueza, só podia ser obra de gente poucochinha, por uma ou outra razão. É que em boa verdade, Portugal precisa é de uma economia saudável e nessa não pensaram os autores do PEC.

Tudo nos acontece. É de mais.
CROMO

Carreira tem tanta graça,
Tanta graça tem Carreira.
Ele é, na hora que passa,
O mestre da choradeira.

domingo, março 21, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 21 de Março de 2010 – Eu não percebo, mas não percebo sinceramente, as catilinárias do primeiro-ministro contra o BE, por causa da comissão de inquérito que este partido viabilizou com o PPD-PSD, para saber, creio, se o dito primeiro-ministro sabia ou não de negócios de telecomunicações e televisões.

Sabendo como sei que televisões e empresas de telecomunicações são a mesma roupa, estou-me nas tintas para saber se Sócrates sabia ou não sabia do negócio. Interessava-me muito mais saber, nomeadamente, porque é que nas televisões não é assegurada a imparcialidade da informação; e, também, porque é que os diferentes sectores políticos não são tratados com equidade. Como não é disto que se trata, estou-me nas tintas para esta matéria.

O que me espanta nas catilinárias de Sócrates é o facto de achar que só ele, Sócrates, e o seu PS, podem fazer alianças com o PPD-PSD, como se os restantes partidos não pudessem, eventualmente, entender-se. Sócrates e o PS, que sempre tiveram uma vocação troglodita da política, temem apenas, que, doravante, haja entendimentos que possam excluí-los do centrão de interesses. O que o PS queria mesmo e Sócrates também, era que o PPD-PSD se calasse e em nome de um pretenso interesse nacional se abstivesse da acção política.

Como eu gosto de política – e. sobretudo, de política séria -, estou-me nas tintas para saber quem fala verdade. A verdade que o PPD-PSD e o BE procuram interessa-me pouco. Assim como me interessa pouco saber se Sócrates mentiu ou não. E o que não me interessa mesmo nada é a política decorrente do OE e do PEC, que o PS e os partidos de direita aprovaram ou hão-de aprovar.

sábado, março 20, 2010

O MEU TEMPO É OUTRO

I

E logo hoje,
Que eu precisava tanto de um dia azul,
Alegre e límpido,
(oh, se precisava!)
A Natureza me submerge de cinzento,
Tristeza e bruma.

Que mal te terei feito,
Pergunto-te,
Para me tratares assim,
Ó grande Mãe?!

Porque contrarias,
Tão pertinazmente
Os meus desejos simples
De azul, alegria e limpidez?

Porquê?


II

Eu aprecio imenso
As fotografias geladas
E brumosas
Dos blogues da Papu
E do Daniel Abrunheiro.

Porém,
Trago em mim a ansiedade
Das amendoeiras floridas
No fim de Fevereiro.


III

Definitivamente,
O meu tempo é outro:
Abril
Com suas águas mil
(ó grande António Machado!);
Maio
Com todas as flores;
Junho
Com os primeiros figos
E cerejas maduras.

Definitivamente,
O meu tempo é outro.



domingo, março 14, 2010

ERICEIRA

RESTAURANTE

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 14 de Março de 2010 – Na SIC – Notícias, ontem e também hoje, o PPD-PSD teve e tem o seu grande palco para se mostrar ao país. É a asfixia democrática de facto, porque nenhum outro partido beneficiaria de tão larga cobertura por parte de um dos canais Balsemão.
E no entanto, vale apenas seguir um pouco este congresso, porque têm desfilado pelo palco papagaios de grande qualidade: Lopes, Marcelo, Menezes, Mendes, e tantos outros, dos quais o país já não se lembraria. Grandes papagaios, indubitavelmente.
E todos têm aproveitado para desancar o governo de Sócrates, que tem sido também indubitavelmente um mau governo, mas não fica provado que se o PSD-PPD governasse Portugal, Portugal ganhasse muito com a sua governação. As mentiras seriam mais ou menos idênticas e as soluções para os problemas do país as mesmíssimas.
É espantoso que ninguém se tivesse lembrado dos companheiros Manuel Dias Loureiro e José Oliveira e Costa e outros que sempre deram muito da sua inteligência à república. Sem nada pedirem em troca, como hoje se sabe.
E todos têm sido convergentes no apoio do PPD-PSD à reeleição de Cavaco Silva, que tem sido um presidente de facção, ou seja, um presidente de direita, e, sob todos os aspectos, reaccionário.
Todos desancaram em Sócrates, que, indubitavelmente, merece todas as bengaladas no traseiro; porém, nenhum dos intervenientes no congresso do PPD-PSD se lembrou de Dias Loureiro, Oliveira e Costa e outros. Nem das mais valias que Cavaco realizou nas acções não cotadas em bolsa da SLN, detentora do BPN, onde o governo de Sócrates já enterrou dois ou três biliões de euros.
Mas ao PSD-PPD e ao PS basta-lhes um congresso para lavar o passado. Até quando esse passado está repleto de cenas pouco edificantes. E depois surgem, quais virgens imaculadas, para (des)governarem de novo este pobre país.

quarta-feira, março 10, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 9 de Março de 2010O PEC aí está! Traz agarradas a si, ainda não as medidas, mas as promessas das mesmas, que hão-de fazer a vida negra à maioria do povo português. Isto é de mais! Isto não pode continuar assim!

A rua tem que voltar a desempenhar o seu papel. Aqui e no resto da Europa. Até no mundo inteiro. Não se pode tolerar que os abutres se arroguem o direito de usufruir de privilégios infinitos, condenando à desgraça biliões de seres humanos.

O sábio e muito estudioso engenheiro Sócrates vem agora falar de justiça social para defender este indefensável PEC, como se cortando nos benefícios fiscais da educação e saúde promovesse uma verdadeira justiça social. As injustiças estão criadas a montante e não é por esta via que Portugal há-de ser um país menos desigual e mais solidário. Não, não é por esta via.

Os funcionários públicos, que têm nos partidos de direita um inimigo poderoso, voltam a ser as principais vítimas desta gente que tão maltrata a “res publica”. Tratassem os governantes, os actuais e os anteriores e os anteriores aos anteriores, a coisa pública de forma eficaz e com o povo mais humilde na mira e tudo seria diferente.
Passe o cliché, é tempo de mudar de paradigma sócio-económico.

terça-feira, março 09, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 8 de Março de 2010 – Anteontem, num desastre de aviação, morreu José Inácio da Costa Martins, ministro do trabalho nos governos de Vasco Gonçalves e homem de muitas causas.
Na sua qualidade de oficial da FAP, coube-lhe, na madrugada de 25 de Abril de 1974, a missão de tomar o aeroporto de Lisboa. E foi a partir do momento em que o aeroporto foi tomado, com muita astúcia, sabe-se hoje, que o MFA emitiu o seu primeiro comunicado. Desde aquela madrugada redentora, e durante alguns anos, o nome de Costa Martins tornou-se familiar de todos os portugueses.
Depois da sua passagem pelo ministério do trabalho e do célebre dia de trabalho para a nação, os seus detractores tudo fizeram para o derrubar enquanto pessoa. Através dos tribunais lutou contra a arbitrariedade, ganhando processos e mais processo, numa demonstração inequívoca de que tinha razão. O melhor cadete do seu curso, apesar das vicissitudes da sua carreira, ainda logrou atingir o posto de coronel. Outros foram generais.
Quem voa muito e alto, sujeita-se a quedas violentas. Como Ícaro!

quinta-feira, março 04, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 4 de Março de 2010 – Hoje estou a cumprir um dia de greve, que é provavelmente o último que cumprirei, na qualidade de funcionário público. E estou feliz, porque é a melhor forma de dizer aos trastes que vociferam todos os dias contra os funcionários públicos, de um modo geral por inveja, que tudo tem um limite. E queria aqui dizer, preto no branco, que o primeiro grande ataque contra os funcionários públicos foi lançado pela paladina da verdade e da transparência, drª Ferreira Leite.

Eu sei bem que o Estado é demasiado grande e que uma máquina assim não é eternamente sustentável; no entanto, quero aqui declarar solenemente que não fui eu que mandei abrir concursos ou criei situações de facto que levaram a admissões na administração pública. A culpa tem que ser atribuída aos sucessivos governos do PS, PSD, PS e PSD, PDS e CDS e também do PS e CDS, porque têm sido estes partidos que têm governado Portugal desde 1976 do pretérito século.

Admito que é necessário fazer correcções. Admito. Porém, essas correcções hão-de ser feitas de forma equilibrada e não fazer pagar a uma parte dos trabalhadores os desvarios dos governantes, ao longo de décadas. A fórmula negociada anteriormente, e que previa um regime de transição para as aposentações até 2014, parecia-me razoável, do mesmo modo que me pareceria razoável que as pensões concedidas no passado podiam ter sido calculadas de modo diferente, ou seja, tendo em conta a sustentabilidade futura. Portugal é o país do oito e do oitenta!

D. Pepe saiu à rua. E lá anda na sua vidinha, enquanto o dono, com a perda de um dia de vencimento, vai ajudar a resolver a questão do défice. Mas esta é uma questão de humanos, na qual D. Pepe, o gato mais afável que conheço, teima em intrometer-se.

terça-feira, março 02, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 3 de Março de 2010 – D. Pepe, um dos dois gatos cá da casa, que a semana passada estivera desaparecido - e mesmo dado como morto por quase todos os membros do nosso pequeno clã -, reapareceu, aparentemente cuidado e de perfeita saúde: porém, logo no dia seguinte, vomitou abundantemente e forçou-nos a três idas ao veterinário. Está restabelecido e pronto para outra; no entanto, ainda não teve alta da matriarca e ainda não lhe foi possível ir às gatas.

Nós temos muito respeito pelos nossos animais domésticos e esmeramo-nos no cumprimento dos prazos de vacinação e noutros cuidados. Não tanto a minha excelsa pessoa, que sempre há-de ter uma melhor relação com os humanos; mas como cá em casa, os gatos estão sob a responsabilidade da “mi senhor”, os bichanos têm um tratamento AMI, ou seja, um tratamento reservado a animais muito importantes.

É certo que as questões do próximo OE nos preocupam, até porque sabemos que há-de vir carregadinho de coisas más para as pessoas e por extensão também para os animais. O OE, que é aquele rol das receitas e as despesas do Estado e também o programa para tratar do arrecadamento das primeiras e cuidar do gasto das segundas. Às vezes, nada bate certo, porque se gasta muito e se recebe pouco. É que cá no rectângulo (é rectângulo que diz o patusco da Madeira?), há aqueles que se furtam a contribuir para as receitas e não se coíbem de contribuir para as despesas.

Mas ao fim e ao cabo, importante é o D. Pepe, que é bem tratado e não tem que se preocupar com as questões comezinhas do OE. E deve estar quase a poder ir às gatas.

sábado, fevereiro 27, 2010

4 QUADRAS


Na portuguesa Madeira
Rompeu-se o céu de repente.
E foi tanta, tanta a chuva,
Que desgraçou toda a gente.


Ó inclemente Natureza,
Porque castigaste assim
Aquela ilha tão formosa
Governada por Jardim?!

Ó indomável Natureza!
Não firas desta maneira,
Em ocasiões futuras,
O bom povo da Madeira!

Faz abanar o Jardim,
Malcriado e prepotente,
Que até nas horas difíceis,
Continua pesporrente.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 25 de Fevereiro de 2010 – O Pepe – um dos nossos gatos -, esteve três dias desaparecida, contribuindo para um imenso mal-estar cá em casa, onde é tratado como um pequeno príncipe. Reapareceu sem quaisquer mazelas e com o pêlo lustroso, factos que indiciam que terá sido bem tratado lá por onde andou.

Regressou esta manhã para grande gáudio da Filipa, que sempre se assumiu como a sua dona. Ambos se querem muito bem, a Filipa e o Pepe, ou melhor dizendo, mestre Pepe, que com ela preparou o mestrado em Literatura Portuguesa. É um gato altamente preparado e que bem merece ser reconhecido, dentro e fora de casa, não só pelos dotes já evidenciados; mas, também, por tudo o que ainda poderá vir a fazer. “Casos futuros” dos quais vos hei-de dar notícias.

D. Pepe regressou e cá em casa é a notícia do dia. Bem mais importante que o caso”face oculta” e os testemunhos dos directores de jornais. Sim, porque D. Pepe regressou e não nos veio contar mentiras e/ ou meias-verdades. E trouxe, ao terceiro dia, alegria à nossa casa!

sexta-feira, fevereiro 19, 2010


CANTIGA DO COITADO

Em Vigo
Perguntei às ondas:
- Sabeis Novas da minha amiga?
E as ondas me responderam:
- Um novo amigo tem!


Em Pontevedra
Perguntei aos barcos:
- Sabeis novas da minha amiga?
E os barcos me responderam:
- Um novo amigo tem!


Em Santiago
A Santiago perguntei:
-Sabeis novas da minha amiga?
E Santiago me respondeu:
- Um novo amigo tem!

domingo, fevereiro 14, 2010

3 QUADRAS

Vão as horas, vão os dias,
No seu constante fluir;
Mesmo as poucas alegrias
Me visitam a fugir.

Sob a ponte passa a água
a caminho do vasto mar.
Só em mim, teimosa, a mágoa
não tem pressa de passar.

Velozes correm os anos;
Pra onde, não sei ao certo;
só ficam os desenganos
e as marcas do desconcerto.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 14 de Fevereiro de 2010 – Hoje, dizem, é dia de S. Valentim e dos namorados. Tornou-se um pretexto para as pessoas se oferecerem presentes e para o comércio fazer uns trocos. Curiosamente, ou não, as flores estavam hoje mais caras do que nos dias anteriores. Ah, estas datas festivas!

Ontem, assisti a um programa de televisão da SIC-Notícias chamado “Plano Inclinado”, supostamente moderado por esse supra-sumo do jornalismo que é Mário Crespo. Sim, esse que escreveu a crónica intitulada “O Palhaço” e outros textos idênticos, que têm feito furor na “blogosfera”. E que se tem constituído como um dos adversários mais poderosos de José Sócrates.

No aranzel participaram ainda Nuno Crato, Carreira e Salgueiro. E a ocidente não houve nada de novo, ou seja, as supostas novidades começam a cheirar a mofo, tal como a mofo devem já cheirar os gráficos para “donas de casa” de Carreira. Carreira arroga-se o direito de chamar ignorantes aos demais comentadores que pululam por aí e vai debitando o seu discurso, sempre o mesmo, que no fundo é uma variedade do discurso da tanga.

Salgueiro, que já foi ministro das finanças, vem agora dizer que foi destruído o sistema produtivo nacional e tal, como se tivesse descoberto a pólvora e não tivesse, bem como os seus amigos políticos, culpas no cartório. Quem é que geriu os grandes fluxos de dinheiros comunitários para modernizar a agricultura portuguesa? Quem?

E aproveitaram também para dizer mal da ASAE, que terá sido excessiva muitas vezes, mas que contribuiu para que hoje os portugueses possam ter mais garantias de higiene e limpeza nos estabelecimentos de restauração. Como teria sido bonito que os senhores tivessem dito esta coisa comezinha!

sábado, fevereiro 06, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 6 de Fevereiro de 2010 – A situação do país é grave, passe o cliché. E não é de agora que a situação é grave. É grave há vários séculos, porque quase sempre fomos governados por gente sem grandeza.

Dizer-se que Portugal é um país pobre é dizer uma meia verdade. Não temos, obviamente, os recursos de Angola ou do Brasil. Não teremos, tão-pouco, tantos recursos como a nossa vizinha Espanha. Mas vistas bem as coisas, creio que o nosso défice maior é de imaginação.

O caso de Israel é paradigmático (declaro desde já que não tenho qualquer simpatia pelo Estado sionista). Fundado em 1948, numa região muito mais pobre do que Portugal, sobrevive sem grandes dificuldades, porque tem sabido conjugar os esforços e aproveitar os escassos recursos de que dispõe.

O problema de Portugal radica na indigência mental das suas elites e no carácter abutre dos seus maiores empresários. O problema de Portugal é o nosso desamor.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

EM JEITO DE HOMENAGEM

FAZ HOJE UM ANO QUE NOS DEIXOU
Conheço um homem, a quem nunca tive e amabilidade de dedicar uma linha de humilde prosa, e que merece todo o respeito do mundo. Com sete anos, quando deveria aprender as primeiras letras e a tabuada, já calcorreava, descalço, caminhos e veredas, fragas inóspitas, atrás de um rebanho.
Sempre o ouvi dizer - e minha avó confirmava –, que o primeiro patrão lhe fizera as primeiras botas.
Porém, não estava talhado para a bucólica profissão de guardador de rebanhos, para tanta solidão. Analfabeto, já com dezoito anos, comprou uma pasteleira e fez-se aprendiz de construtor de casas. Pedra a pedra, tijolo a tijolo, ajudou a construir centenas de lares, ganhando a vida e espalhando conforto.
Nunca deixou, apesar das inúmeras voltas que a sua vida deu, que em sua alma morresse o amor pela Natureza. Teimoso, continua a trabalhar a terra, que já fora de seus avós, arrancando-lhe saborosos frutos.
Penso que não deve nada à pátria e que a pátria nada lhe deve. Pertence a um género de portugueses que ama e sempre amou Portugal sem condições.
In FRAGMENTOS COM POESIA, de Manuel Barata, Ulmeiro, 2005.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

ALENTEJO


Indolentes são as casas;
indolentes são as árvores;
indolentes são as gentes.


Indolentes são os tempos;
indolentes são as feridas;
indolentes são os ventos.


Indolentes são...
(Oh, descoberta das descobertas!)
todos os actos de criação.

domingo, janeiro 31, 2010

A CASSETE

(À memória de Georg Maurer, poeta alemão)


Construir...


Eis a palavra
Que marca
O encontro do Homem
Com o seu destino.


Construir a paz,
Construir o amor,
Construir a felicidade.


Construir...


Eis a palavra,
Meus filhos,
Eis a palavra,
Inexoravelmente
Fatal.


DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 31 de Dezembro de 2010 – Há para aí uns quantos académicos, autênticos coleccionadores de cargos e lugares, que se sentem no direito de prescrever direitos e deveres para os seus concidadãos, mas que nunca tiveram a generosidade de dar nada de seu aos outros.

Um ex-ministro das finanças é uma dessas personagens que, com auréola de quase santidade e de muita sabedoria, descrêem de Portugal e dos portugueses e prevêem mil e uma desgraças futuras. Diz o senhor, fazendo fé nos jornais, que Portugal, se continuar assim, dentro de cinco anos, na melhor das hipóteses, não terá capacidade para fazer face às necessidades básicas.

Bem sei que a situação é perigosa e que carece de medidas de fundo para resolver os seus problemas, que, nalguns casos, são tão velhos que até já não lhe conhecemos a idade. Sei também que as medidas preconizadas pelo ilustre académico e outros académicos, uns mais e outros menos ilustres, apontam todas no mesmo sentido: bater nos funcionários públicos e cortar nas despesas com as funções primordiais do Estado.

Eu gostava, por exemplo, que esta gente rica e bem instalada, num acesso de generosidade, preconizasse um corte radical em todas as reformas superiores a dois mil e quinhentos euros, porque estando aposentada e devidamente instalada, não necessita de tanto dinheiro para viver. Creio, no entanto, que esta minha ideia não vai ter aceitação, porque aquilo que as eminências ganham a título de reforma é justo. Todos trabalharam muito a favor da grei!

E depois há que manter a coesão social até ao fim das suas vidas. E há que ajudar os netos, para que tudo possa continuar a manter-se para beneficiar os do costume.

Cá para mim, que já não tão novo assim, creio que tudo acabará por se decidir nas ruas. E mais cedo do que muitos pensam.

sábado, janeiro 30, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 30 de Janeiro de 2010 – A corrupção, grande e pequena, existe na sociedade portuguesa e não vale a pena fazer vista grossa ou ouvidos de mercador perante o que se vê e ouve. Combatê-la é, portanto, um imperativo nacional, para que possamos todos viver num país mais sadio e mais limpo.

Creio, no entanto, que não é com os actuais combatentes - presidente do tribunal de contas incluído -, que o combate se vai tornar decisivo. Simplificar as leis que permitam investigar e rapidamente julgar e punir, pode tornar-se um caminho tão simplista, que, mais tarde ou mais cedo, vamos ter mais uns quantos pilha-galinhas condenados e não os grandes corruptos.
Antes de mais, era preciso definir de forma muito objectiva o conceito de corrupção. Era preciso, por exemplo, que tudo fosse feito com a máxima transparência, na nomeação de indivíduos para determinados cargos de assessoria, no domínio dos gabinetes ministeriais. Era preciso investigar a forma como os filhos de certas famílias chegaram a determinados postos na administração pública, nas empresas públicas e até nas grandes empresas privadas.

Antes de mais, era preciso saber como se construíram determinadas fortunas e se todos os processos foram irrepreensíveis e obedeceram a princípios éticos comummente aceites. Era bom conhecerem-se os grandes corruptos e os grandes corruptores. Era preciso, por exemplo, que o corruptor merecesse igual combate e igual punição à do corrompido. O que corrompe investe migalhas para obter benefícios incomensuravelmente superiores.

Era preciso, por exemplo, que as leis fossem simples como os dez mandamentos. São as leis complicadas e tecnicamente incompetentes que permitem dúbias interpretações e a existência de muitos pescadores de águas turvas.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

SEMPRE A PALESTINA

(Para Tawfiq Zaayad, poeta palestino,
já desaparecido, autor do livro de Poemas
Amã em Setembro)

Beija por mim
A Terra Santa da Palestina,
Ó viajante!
E se fores a Nazareth,
Vai deixar flores
No túmulo de Tawfiq Zaayad.

E segreda-lhe
(os poetas
Ao contrário dos deuses,
Mesmo mortos,
Nunca deixam de ouvir)
Que os países
Podem ser riscados dos mapas,
Mas as nações são eternas.

Diz-lhe, viajante,
Baixinho,
Que não há medida
Para a nossa esperança
!

terça-feira, janeiro 26, 2010

LEONOR

Se eu fosse como Camões,
Havia de te fazer,
Amor, versos geniais,
Muitas trovas de encantar!

Pintar-te-ia morena
E de outras cores sadias.
Blusa vermelha decerto
E calças de ganga azul.

Assim irias à fonte
- Discreta como se vê -,
Leda e bela ao meu encontro.

E haveria de deixar
Teu rosto ruborizado
Com mil beijos, mil ou mais.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

CIÚME


A tua ausência fere-me
- e dói tanto! -,
que os meus inquietos pensamentos
são como pássaros jovens
embalados pela vertigem do voo.


Soubesse eu ao menos
onde e com quem partilhas
o suave e doce perfume do teu corpo.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 20 de Janeiro de 2010 – No fundo, o PS e os partidos à sua direita, são farinha do mesmo saco. Dir-se-ia que o pessoal da Fonte Luminosa, que, no já distante ano de 1975, se abrigava sob o chapelaço de Mário Soares, continua unida à volta do fundamental: o exercício do poder em Portugal, com os ganhos daí decorrentes.
Às vezes, os chamados partidos do arco do poder, como pomposamente se intitulam, até querem parecer zangados; porém, as suas zangas são apenas para inglês ver, porque quando chega a hora da verdade, cerram fileiras à volta dos seus interesses comuns, que são, no fundamental, o exercício do mando a favor dos seus apaniguados.
Estou em crer que o OE vai ser aprovado com os votos do PS, PPD e CDS, ou seja, com os votos dos beneficiários do costume. Os votos que hão-de eleger Cavaco Silva para um segundo mandato e hão-de fazer esquecer as escandaleiras nacionais. Tudo a bem da pátria, obviamente.

domingo, janeiro 17, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 17 de Janeiro de 2010 – A discussão do OE é sempre a ocasião ideal para ajustar contas com os trabalhadores da Função Pública. Certos rapazes e certas raparigas, bem nutridos, que não sabemos ao certo o que fazem, aparecem este ano nas pantalhas a receitar não-aumentos, porque o ano passado, os tais trabalhadores foram aumentados copiosamente, se e levar em linha de conta que a não-inflacção também os beneficiou imenso.

São rapazes e raparigas formados na aversão a tudo o que é público, porque todos desejariam pagar menos impostos. Em bom rigor, esses rapazes e essas raparigas, que quando abrem a boca nos mostram logo a cárie dos seus primorosos raciocínios (Prévert perdoa-me o quase-plágio), só aceitariam pagar impostos para pagar aos polícias que guardassem as suas excelsas pessoas e os seus preciosos bens.

Eu pago impostos e mais impostos pagaria para que o meu país se tornasse um pais melhor para todos e um território de solidariedade. O que eu não oiço é esses rapazes e essas raparigas arengarem acerca dos lucros bolsistas não tributados, que, se o fossem, produziriam receitas verdadeiramente espantosas.

Pobres rapazes. Pobres raparigas.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

DO MEU DIÁRIO

Paredão do Alqueva
Santa Iria de Azóia, 13 de Janeiro de 2010 – Continua o tempo invernoso: muita chuva, vento, muito frio. Começo a ficar com saudades de dias soalheiros, que, mesmo em Janeiro, fazem bem à alma. Este tempo cinzento, encinzenta-me a alma e o espírito. O encinzenta-me é para o meu amigo Daniel Abrunheiro, que é, indiscutivelmente, um grande criador desta lusa língua.

Boa notícia é a barragem do Alqueva já estar cheia. É a primeira vez que tal acontece; e, por isso mesmo, merece uma nota neste Diário. Há-de encher mais vezes, para que o Alentejo seja, em sentido lato, um Mar de Pão, que vai em itálico, porque é o título de um livro muito belo do meu amigo João de Sousa Teixeira.

E para os que me lerem, apesar deste tempo agreste, um dia feliz.

domingo, janeiro 10, 2010

SANTA IRIA DE AZÓIA

Ary deixou-nos no frio Janeiro de 1985.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 10 de Janeiro de 2010 – Domingo. A chuva é gelada. Este Janeiro faz jus à fama de mês mais frio do ano. Goste-se ou não de frio, temos de nos aguentar, que o frio é necessário para amaciar as couves.

Boa ocasião para revisitar Torga e o seu famosíssimo Diário, que se revisita com muito agrado e proveito. Continuo a pensar que Torga não é um grande das letras portuguesas; porém, não desmerece de figurar entre os mais lidos e admirados do séc. XX. Não possui a técnica de Carlos de Oliveira, é certo, mas é bom não esquecer que Torga nunca foi um profissional da escrita. O poeta esteve sempre à espera do médico.

No entanto, para mim que não sou nenhum erudito, Torga vai continuar a ser uma referência. Nomeadamente, uma referência ética. No fundo, ainda que tenhamos deixado as nossas aldeias para ir ver o mundo, ficámos sempre presos às raízes. E devedores do mundo que nos viu nascer.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

SANTA IRIA DE AZÓIA

Jardim Ary dos Santos

DO MEU DIÁRIO

Moscavide, 6 de Janeiro de 2010 – É hábito comer-se uma fatia de Bolo-rei, neste dia, em que a cristandade festeja a festa da epifania. Nós, cá em casa, não festejamos nada. É da tradição comer Bolo-rei, com o café da noite, e pronto, como agora se diz. Ou prontos, que também há quem diga.

De qualquer modo é uma tradição agradável, porque junta o doce às agruras do dia-a-dia, tornando-as menos agruras, o que já não é coisa pouca. É por isso – ou por aquilo – que gosto do dia de Reis.

É um pouco como o dia de S. Martinho, que, no calendário profano, é associado à prova do vinho novo. E que todos aproveitam para beber do novo e do velho. E alguns, muito, e sem preferência. Viva pois o dia de Reis e o Bolo-rei!

segunda-feira, janeiro 04, 2010

DO MEU DIÁRIO

Óbidos, 1 de Janeiro de 2010 – A pequena vila de Óbidos, a dois passos das Caldas da Rainha, é uma das jóias do turismo nacional. Poder-se-ia até dizer, com alguma propriedade, que é um santuário onde se deslocam crentes de todos os credos.

A abundância de turistas de fim-de-semana obrigou à construção de diversos parques de estacionamento, e, mesmo assim, é difícil estacionar perto da Meca da ginja e do artesanato.

No passado dia de Ano Novo, eram tantos os visitantes, que, circular na rua principal, era uma verdadeira aventura. Contudo, dentro das lojas, não havia sinais de grandes vendas. A ginja parece ser, em tempo de crise, o verdadeiro ex-líbris desta vila.