terça-feira, novembro 29, 2011

DO MEU DÁRIO


Santa Iria de Azóia, 26 de Novembro de 2011 – Portugal vive hoje acocorada perante três governadores estrangeiros, que vêm cá, de quando em vez, para dizerem se os serventes locais estão ou não a fazer bem o trabalhinho encomendado.




Esses gigantones, que o nosso povo não elegeu, servidos internamente por servidores sem brio patriótico, rasgam-nos a constituição, suprimem-nos todas as leis, impõem-nos a “governança”, como se quem empresta, para além dos juros e das comissões extraordinárias que recebe, ainda tivesse o direito de insultar quotidianamente o devedor.




E não contente com os malefícios presentes, os troikos de fora, e os de dentro mais ainda, querem-nos ver no futuro, com língua de palmo e meio, em ansiosas filas onde será distribuída a quotidiana sopinha. Quem é que entrevista um tal Paulo Portas e o confronta corajosamente com as suas promessas passadas? Quem?

sexta-feira, novembro 25, 2011

DO MEU DIÁRIO



Santa Iria de Azóia, 25 de Novembro de 2011 – A direita ainda não tem a coragem de contestar o direito à greve; mas, começam a surgir sinais de que o poderá vir a fazer a breve trecho.


O direito à greve foi conquistado ainda no século dezanove e tem sido comummente aceite pelas democracias como um direito inalienável dos trabalhadores. O direito à greve tem sido uma das marcas das democracias. Acontece, todavia, neste mundo em permanente mutação, que os sagrados mercados começaram a impor governos aos povos. Atente-se nos exemplos da Grécia e da Itália para já. Um dia destes, os sagrados mercados, mais as troikas e os serventuários locais das mesmas, lembram-se de suprimir o direito à greve e zás!


É inquietante que algumas das perguntas recorrentes do dia seguinte ao da Greve Geral sejam estas: o que mudou de 23 para 25? O que se alterou? Ficou melhor o país e as pessoas? Parecem perguntas pertinentes e simples, mas encerram em si o mais primário desprezo por um direito constitucionalmente protegido e que é considerado como a principal arma daqueles que vendem a outrem o seu trabalho.


Sinal dos tempos, ou talvez não, estas e outras atitudes antidemocráticas começam a fazer o seu caminho. É preciso, portanto, que se dê combate permanente e eficaz a todos aqueles que só vêm no lucro o fim último da actividade económica. É preciso lutar e reafirmar a superioridade do Estado Social, perante os interesses individuais e mesquinhos dos que detêm os meios de produção da riqueza.

quinta-feira, novembro 24, 2011

UM DIA NUMA VIDA



Foi em 27 de Julho. Era de 1970. Paris.
Na pacatez da rua Fleurus, Vitória,
Exuberante, exibia o Le Monde e gritava:
“O Salazar morreu! O Salazar morreu!”

Ah, como eu me lembro ainda do teu sotaque inglês
E dos teus longos cabelos pretos, Vitória!

Eu nunca te poderia olvidar, Vitória,
Ainda que não tenhamos bebido o comemorativo champanhe!






inédito

quarta-feira, novembro 23, 2011

O AREEIRO

Só os tolos ousam
Contra
A vontade dos povos.

Talvez daqui a mil anos
O Areeiro
Se chame
Praça Sá Carneiro.

(Agora
É só nome p’ra carteiro).

sexta-feira, novembro 18, 2011

JOÃO RODRIGUES, Amato Lusitano

João Rodrigues, Amato Lusitano

João Rodrigues, hebreu,
Médico de profissão,
Pela fé dos seus sofreu
Graças à Inquisição.

Imponente, está agora
Num subido pedestal;
Contemplando, hora a hora,
O céu azul de Portugal.




inéditas

DO MEU DÁRIO


Santa Iria de Azóia, 28 de Dezembro de 2006 – Os meios de comunicação social fizeram-se eco, nestes últimos dias, da febre consumista que atingiu os portugueses este Natal. E forneceram números e mais números e até o montante gasto ao segundo.


A comunicação social, de um modo geral, tem uma enorme capacidade de se surpreender. Ou então, os rapazes e as raparigas que produzem a informação andam permanentemente desatentos. Em Portugal, estima-se que a economia paralela, também dita informal, valha mais ou menos 25% da economia que conta para as estatísticas e que é tributável. Assim sendo, anda por aí muito dinheiro à solta para comprar os mais diversos produtos. E também viagens, pois claro, como notava António José Teixeira, hoje, no circunspecto DN.


O problema – que é problema e sério -, radica no fato de Portugal não produzir e consumir. Ninguém se pode queixar seja do que for. Houve sempre quem tivesse pregado no deserto contra a destruição do nosso aparelho produtivo. Só que os políticos de serviço na governação não só não souberam impedir a destruição do aparelho produtivo, como estimularam o consumo desenfreado. E quem se habitua a um determinado modo de vida, dificilmente aceita andar de cavalo para burro


E por que razão havíamos de ser refractários a esta religião que, ao contrário das outras, nos mostra felicidade ao alcance dos nossos olhos?

quarta-feira, novembro 16, 2011

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 7 de Março de 1994 -Portugal é hoje um país de répteis. Não admira, assim, que a traição espreite a cada esquina. Os portugueses sempre foram mesquinhos e interesseiros. E nada dói tanto como a ausência de grandeza. Portugal começou a agonizar, com efeito, ainda na primeira metade do séc. XVI. Inelutavelmente, caminha para a dissolução final. E sobretudo, porque nunca mais soube encontrar alternativas credíveis e atempadas. Hoje, agarra-se e chupa a teta da mãe Europa com quantas forças tem. O pior virá, quando a teta, sugada até ao tutano, deixar de ser o almejado D. Sebastião.


Curiosamente, a religião fez-nos grandes e pequenos. Com o mito de cruzada dominámos metade do mundo; a Inquisição parece ter-nos castrado para sempre.

quinta-feira, novembro 10, 2011

S. MARTINHO

São Martinho é português,
Ninguém pode duvidar.
Dá-nos tinto aragonês
Outros vinhos de encantar.

Não há outra santidade
Deste povo mais querida.
Há festas na puridade
Alegres e divertidas.

Castanhas, chouriço e pão,
Tudo regado com vinho!
Haverá melhor razão.
Pra gostar do S. Martinho?

in FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005

quinta-feira, novembro 03, 2011

DO MEU DÁRIO


Santa Iria de Azóia, 3 de Novembro de 2011. Esta pátria já não é a minha pátria. É o país deles. De Álvaro, de Gaspar e de Passos. E também do senhor Saraiva e do senhor Van Zeller e do senhor Belmiro e do senhor Santos e de outros que tais. É um país de gente que apostou num ajuste de contas com o 25 de Abril e com as suas conquistas.




Portugal, a pátria que sempre quis fraterna e solidária, é agora um sítio hostil, onde o chefe da governação sonha com tumultos, sendo que o seu governo é uma verdadeira central de convulsões. Portugal é, na hora que passa, um sítio que fede.




Neste sítio, portanto, que outrora foi a minha pátria, alguém usurpou o poder, porque de usurpação teremos que falar quando, não se dizendo ao que se vem, se ludibria o povo para lhe subtrair muitos direitos e a sua escassa fazenda. Este sítio, onde o trabalho é abastardado todos os dias e as desigualdades crescem, é o país deles. Por isso aconselham os jovens a abandonar o seu país, a sua terra, a sua pátria. Querem ficar sozinhos para raparem o fundo ao pote.



Definitivamente, Portugal já não é a minha pátria. É o país deles.