quinta-feira, março 24, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 24 de Março de 2011 – Com toda a oposição - mesmo aquela que só o é, porque quer rapar no “pote”-, a votar contra o PEC4, Sócrates foi ontem, objectivamente despedido. No entanto, suponho que é assim que manda a CRP, ficará ao leme da (des)governação até à tomada de posse de um novo (des)governo.

Eu não gosto de Sócrates - nem deste PS -, que, em nome não sei bem de quê, sempre defendeu os poderosos e maltratou os humildes. Sócrates, tal como Fernão Lopes disse de João I, o Mestre de Avis, é um cordeiro perante os mais fortes e um leão perante os mais fracos. Sócrates não deixa saudades a ninguém, a não ser aos rapazes que promoveu e protegeu. A sua governação, jamais merecerá um “requiem”.

Desiludam-se, no entanto, os que esperam que tudo vai mudar para melhor. Silva Pereira avisou ontem no parlamento que quem pensa que já viu tudo há-de ter grandes surpresas futuras. Pedro Silva Pereira sabe certamente do que fala. E se disse o que disse, não é preciso ir a Delfos para ler o futuro próximo deste velho reino.

quarta-feira, março 16, 2011

DO MEU DIÁRIO

Forte da Casa, 16 de Março de 2011 – Faz hoje trinta e sete anos que uma coluna militar saiu das Caldas da Rainha, em direcção a Lisboa, para pôr fim ao regime instaurado com o golpe militar de 28 de Maio de 1926. Comandava a dita coluna militar um tal Vírgílio Canísio da Luz Varela, capitão, que conheci muito bem no Regimento de Infantaria 5.
O capitão Varela era um militar temível. Fui seu subordinado nos últimos meses de 1973 e jamais me passaria pela cabeça que esta militar da velha guarda pudesse comandar uma coluna para derrubar o regime instaurado pelos patuscos que vieram de Braga, montados em cavalos, e entregaram depois o poder a Carmona e a Oliveira Salazar. Foi com surpresa, portanto, que segui os acontecimentos a partir de Tavira.
Eu até achava piada ao tenente Varela, que era um militar da tradicional, seja qual for o significado que se queira atribuir a tradicional. Só eu sei, e também o Carlos Dantas, antigo jogador e treinador de hóquei em patins, Xana (Carlos Carvalho), talvez o melhor jogador de hóquei de todos os tempos e campeão do mundo da modalidade, nesse Verão de 1974, Pedro Cancela de Abreu, João Luís Souto Mayor, o radialista Viegas e o mestre pintor Luís Calheiros, nomeadamente, e outros, como tudo isto parecia surreal. Virgílio Varela a comandar uma coluna que queria derrubar o regime.
Na verdade, foi Virgílio Canísio da Luz Varela, e não outro oficial, que comandou a coluna militar que, saída das Caldas da Rainha, queria tomar o poder em Lisboa. Quem diria!

terça-feira, março 08, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 8 de Março de 2011 – Hoje é dia de Carnaval, mas já não tenho idade nem disposição para me dar ao divertimento carnavalesco. Assim sendo, sinto-me impelido a escrever sobre coisas sérias, se é que alguma coisa é séria neste nosso reino da Dinamarca.
Um texto do jornalista Ferreira Fernandes interpelou-me, há momentos, com alguma violência. Em Junho próximo terei cinquenta e nove anos, contada a tropa terei cerca de trinta e oito anos e meio de trabalho e descontos efectivos. Com penalização, decidi deixar a função pública.
Não atingi o topo da carreira, porque alteraram as regras recentemente, quando já não sinto grande disponibilidade mental para me atirar aos livros como um doido. Há três ou quatro anos atrás bastar-me-ia escolher um tema da vasta e complexa área do meu sector da Administração Pública e preparar uma dissertação, que, posteriormente, haveria de defender perante um júri pretensamente idóneo. Alteraram as regras e a crise mandou que os concursos sejam adiados. Adiados prefiro a suspensos. O léxico permite-me e eu escolho. Aprendi isto com Benveniste.
Durante os últimos trinta e oito anos e meio fui funcionário – nunca quis ser técnico superior -, fui estudante, fui professor (em horário pós-laboral e com autorização de Miguel Cadilhe), fui director de uma colectividade de cultura e recreio, fui membro do primeiro, e creio que último, conselho Municipal de Loures, fui escriba de textos e de livros (estes seguramente maus), etc. Pensava eu, do fundo da minha ingenuidade, que tinha chegado a hora de sair, penalizado, sem quaisquer remorsos, com mil e tal euros. Muito menos de dois mil, seguramente.
Ontem à noite, tirei-me das minhas tamanquinhas (ou tamanquinhos?) e consultei a lista dos aposentados de Fevereiro e lá vi as aposentações milionárias de militares, fartos de não guerrearem, felizmente, de juízes, notários e outros altos funcionários. Basta consultar o sítio da CGA e ver. Mas também aposentações miseráveis de outros portugueses que serviram o Estado e provavelmente do Estado nunca se serviram. Adiante que se faz tarde.
Ferreira Fernandes tem razão em tudo o que diz. É pena que só o diga agora desta forma tão veemente. E se tenha esquecido de ser mais incisivo em relação a colegas seus de profissão. Refiro-me aos grandes da comunicação social - o peixe graúdo das televisões -, que ganham somas verdadeiramente obscenas. E de, na sua catilinária, se ter esquecido dos Lopes, dos Campos, dos Cunha, dos Mira, dos Medina, dos Alberto, etc., que todos os dias prescrevem a ração dos outros, mas que se agasalham, escudados em leis iníquas, com muitos milhares de euros todos os meses.
É preciso ser mais contundente ainda e chamar aos bois pelos nomes. Era preciso também, que Ferreira Fernandes falasse da reestruturação das empresas, que o fizeram, muitas vezes, à custa da segurança social, contribuindo para este estado fétido a que chegámos. Era preciso, por exemplo, que o DN, todo, assumisse uma posição idêntica. Era, mas não é.
Ferreira Fernandes é um Baptista a clamar no deserto.

segunda-feira, março 07, 2011

FELIZ É O DIA
(Homenagem a Al-Mu´tamid)

Feliz é o dia, ó rosa,
Em que sinto o suave aroma
Das tuas pétalas brancas.

Feliz é o dia, ó rosa,
Em que os meus olhos descansam
Nas tuas pétalas brancas.

Feliz é o dia, ó rosa!,
Em que toco ternamente
As tuas pétalas brancas.

Feliz é o dia, ó rosa!

in FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx. 2005.

domingo, março 06, 2011

DO MEU DIÁRIO

A entrada da Mata (C. Branco)
Santa Iria de Azóia, 6 de Março de 2011 - Mikhail Bakhtin viria muito mais tarde, quando já deixara de brincar ao Carnaval. Com ele aprendi, no entanto, sob o ponto de vista teórico, o pouco que sei sobre esta festa anual.
Bakhtin ensina-nos que o Carnaval era, na idade média, o tempo em que a pirâmide social era invertida e os súbditos podiam criticar livremente o suserano e até o próprio rei. Portanto, antes de mais, o Carnaval foi, e ainda é, um tempo de grandes liberdades, de muita licenciosidade. É aqui que radica o ditado popular “é Carnaval, ninguém leva a mal”.
Na minha infância e adolescência – e ainda nos primeiros anos da juventude- adorava imenso o Carnaval e participava activamente na grande festa de Praça Pública. Com outros rapazes e raparigas, participei em representações, os entrudos, através dos quais se criticavam aspectos da vida da comunidade. Era o entrudo chocalheiro de que falam as canções.
Na Mata, o dia de Entrudo começava com os rapazes a “fuscar” as raparigas, invadindo-se casas e a privacidade doméstica. Os rapazes solteiros procuravam as raparigas solteiras e faziam-lhes uma cruz na testa com pomada dos sapatos ou massa de lubrificação dos eixos e das rodas das carroças e mãos-cheias de farinha na cara. Havia sempre as raparigas que tentavam escapar à “fuscadela”, mas por vezes a coisa fazia-se já mais tarde durante o bailarico. Era dia de grandes correrias e de grande alarido.
Houve um Carnaval que nunca mais esqueci. O Carnaval que se seguiu à perda da Índia. O Dr. Salazar, intérprete único do sentir da pátria, decretou Portugal de luto e impediu os festejos. Mais recentemente, recordo-me bem daquele Carnaval que o Dr. Cavaco também tentou retirar aos funcionários públicos, como se estes festejos se impedissem por despacho. Foi o fim do princípio do dito como 1º ministro e nunca se brincou tanto ao Carnaval.
E para terminar este assunto, espero que se divirtam.

sábado, março 05, 2011


SANTA IRIA
Em memória Silvestre Figueiredo, médico.

A vila de Santa Iria
Até parece um jardim.
Antes de Abril, quem diria
Que havia de ser assim?

No centro do casario
Há um jardim bem tratado,
Onde ao vento, à chuva e ao frio,
Resiste Ary inconformado.

É na Xico Xavier
E tem árvores frondosas.
Sempre pronto pr’ acolher
As pessoas mais idosas.

O parque de Via-Rara,
É bonito o ano inteiro.
Obra cara? Muito cara,
Mas vale todo o dinheiro.

O inda moço Parque Urbano,
Onde era a grande lixeira,
Se não sofrer nenhum dano
Vai ser ‘spaço de primeira.

As árvores já plantadas
Hão-de boa sombra dar,
Pra quem fizer caminhadas
E lá quiser descansar.

Pirescouxe é um lugar
Com um bonito castelo.
E eu com tão pouco vagar
Pra fruir o puro belo.

O verde de tantos tons
Torna o sítio amoroso.
E há os canoros sons
Que me dão sossego e gozo.

Terra de trabalho e paz
Santa Iria sabe dar
Ao idoso e ao rapaz
Espaços para repousar.

























sexta-feira, março 04, 2011

TENHO UMA QUADRA SINGELA

Tenho uma quadra singela
Pra te dizer ao ouvido.
Quando ta disser não digas
Que sou rapaz atrevido.

De hoje não pode passar,
Se não passa a validade.
Quero-te dizer, amor,
Que te amo de verdade!

Este amor é tão sincero,
Tão sincero e delicado,
Que já não posso, meu bem,
Tê-lo no peito guardado!

A noitinha à janela,
Vai ser grande a emoção,
Quando de forma singela,
te abrir o coração.

quinta-feira, março 03, 2011

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 3 de Março de 2011 – Dei-me conta, há muitos anos, que a infância se agarra a nós e não nos larga ao longo da vida. Há semanas atrás, poemas do João Teixeira fizeram-me reviver, também a mim, os odores da minha infância. Nomeadamente, o cheirinho das maçãs Bravo de Esmolfe, que a minha avó dependurava no forro de madeira da sua minúscula sala, onde as minhas tias namoravam e a restante família disputava um lugar junto à braseira, nas longas noites de Inverno.

Hoje, lembrei-me dos comediantes, que chegavam quando chegavam, várias vezes durante o ano, e partiam após a realização de dois ou três espectáculos.

A trupe mais conhecida era a do Luís Costa, grande trapezista, cujas actuações faziam bater mais e mais forte os corações. A sala de espectáculos era o largo do Rossio, onde ainda permanece o chafariz da aldeia. Ali eram montados o trapézio e a barraquinha das marionetas. O povo dispunha-se em círculo e os comediantes iam-se sucedendo, apresentando os respectivos números: ilusionismo, contorcionismo, trapezismo, cantigas em voga e o número das marionetas. Luís Costa, o trapezista, era também o homem das marionetas.

Eu gostava dos palhaços e das marionetas e também do arrojado Luís Costa, que era a primeira figura do importante cartaz, que vinha dos Toulões, no concelho de Idanha-a-Nova. E mentiria se não confessasse a minha admiração pelos jogos malabares.

Faziam-se três intervalos com a finalidade dos comediantes fazerem o peditório, com cujos tostões nunca haviam de fazer fortuna. Faziam um espectáculo medíocre; no entanto, animavam a vida da aldeia durante três dias. E é por isso, provavelmente, que ainda hoje recordo carinhosamente os comediantes. Eles foram os primeiros artistas que eu vi actuar!

quarta-feira, março 02, 2011

TERRAS DO MUNDO




SORTELHA



DESENCONTRO

Sempre desejei
Um coração
De camponesa
Para gémeo do meu.

Só assim,
Pensava eu,
Poderia sentir,
Plenamente,
O alor
E o respirar
Da terra.

Outra coisa;
Porém, ditou
O poderoso destino.
E por isso
Vivo
O desatino
Dos desencontros.

Até um dia…
Ou talvez
Para sempre!

terça-feira, março 01, 2011

DO MEU DIÁRIO

QUE COISA É ESTA?
Santa Iria de Azóia, 1 de Março de 2011 – Esta manhã, pela terceira vez, no espaço de três meses, ou talvez um pouco menos, vi-me privado do acesso ao meu “blogue”, o celebérrimo “MÚSICA MAESTRO”. Reapareceu mais tarde, com já vem sendo costume. De removido passa a reaparecido, ganhando duas qualidades distintas no mesmo dia, ainda que também estas comecem a ser recorrentes.

Eu não percebo nada destas coisas; no entanto, indivíduo de inteligência mediana, não deixo de ficar perplexo com estas mortes e ressurreições. Até aqui encarei o caso com a bonomia que David Mourão-Ferreira disse que eu tinha, num autógrafo muito bonito que escreveu no meu exemplar de Um Amor Feliz. Porém, já começo a ficar de pé atrás.

É evidente que o MUSICA MAESTRO é um espaçozinho sem interesse, que não molesta os meus vizinhos e muito menos os grandes do reino e do
planeta. Por isso acho muito estranho estas remoções, que me estão deixando à beira de um ataque de nervos e quase quase a acreditar em brux

TERRAS DO MUNDO


MANTEIGAS