sábado, maio 29, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 29 de Maio de 2010 – Muitos milhares de portugueses, convocados pela CGTP-IN, manifestar-se-ão hoje em Lisboa contra as políticas de austeridade impostas pelo (des)governo do Eng. Sócrates, em obediência aos ditames do PEC.

No momento que passa, dir-se-ia que este governo já não governa. Anuncia medidas e mais medidas de eficácia duvidosa, com a concordância de Passos Coelho, com a finalidade de reduzir o famigerado défice. Os trabalhadores e os desempregados, os jovens sem cunha e os reformados pobres, serão as maiores vítimas desta desgovernação cega, que apenas protege os poderosos.

Há por aí quem proclame que a hora é de superar a crise e que temos é de viver de harmonia com as nossas possibilidades. Aparentemente, estas seriam palavras sensatas e às quais nem seria difícil aderir. Há um porém, nesta história: nem todos se abotoaram com os milhares de milhões da EU; nem todos beneficiaram da complacência destes governos de arrangismos; nem todos fizeram fortuna à custa do sistema e há fortunas fraudulentas, em Portugal.

É justo, portanto, que os menos favorecidos e que agora são os mais atingidos por esta parafernália de medidas gritem alto e bom som, que as ditas medidas penalizam os do costume, para que os beneficiários do costume continuem a beneficiar.

É que na teta da pátria só alguns mamam.
CORETO DO S. PEDRO(MATA)
SENHORA DO ALMORTÃO



I

A Senhora do Almortão,
Em Idanha tem morada.
Sempre rosa em botão,
Ora rosa , ora encarnada.

A Senhora do Almortão
É santinha recatada.
‘stá naquela solidão
E não se queixa de nada.

A Senhora tem morada,
Numa bonita capela.
Para a Mata ‘stá virada,
Que também é terra dela.






II


A Senhora do Almortão
É ‘ma rosa perfumada.
Em todo o solo beirão,
Não há outra tão amada.

A Senhora tem vestidos
A oiro e prata bordados,
Que lhe foram of’recidos
Ou por milagres trocados.

Na cabeça usa coroa
De perfeição sem igual.
Foi mandada de Lisboa
P´la rainha de Portugal.

Ali perto da fronteira,
A nossa linda Senhora,
Que não tem queda guerreira
Quis ser nossa protectora.

Ó virgem do Almortão,
Dai-nos voz para cantar!
Dai-nos também devoção
Para o ano cá voltar.


Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, LX 2005.

SENHORA DO ALMORTÃO




Para o Dr. Rui Rodrigues.



Senhora do Almortão,

Dai-nos paz e harmonia.

Dai-nos muita devoção

E vontade de folia.



Em frente desta capela,

Cantaram nossos avós.

Trazidos p’la mesma estrela,

Agora cantamos nós.



Nossas mães aqui cantaram

Com alegria e paixão

E com nossos pais dançaram

Ao som do acordeão.



Nossos filhos hão-de vir

Pra manter a tradição.

É promessa pra cumprir,

Ó virgem do Almortão!


NOSSA SENHORA DA PÓVOA
Ao Dr. Domingos Torrão



Nossa Senhora da Póvoa,


No Vale, tem sua morada,

Onde vela toda à hora

Por quem passa na estrada.



Por quem passa na estrada,

Por quem vai ao Sabugal.

Vive ali tão recatada

No seu meio natural.



O seu sereno sorriso

Transmite serenidade.

Vive ali no paraíso,

Vero reino da bondade.



Nossa Senhora da Póvoa

Dai-nos saúde e alegria;

E aos nossos moços e moças

Dai-lhes força e valentia.



Eu hei-de dar à Senhora

Um vestido de valor

De puro linho de outrora

Vindo de Penamacor.



Manuel Barata, FRAGMENTÁRIA MENTE, Ed. Alecrim, Sta. Iria, 2009


S. PEDRO DA MATA



S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Ó minha cereja madura!
Detrás da tua capela,
Põe-se o sol e nasce a lua.


S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Ó minha cereja maior!
Detrás da tua capela,
Nasce a lua e põe-se o sol.


S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Quem vos varreu a capela?
- Foram as moças da Mata,
Com raminho de marcela.


S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Quem vos varreu o terreiro?
- Foram as moças da Mata
Com raminho de loureiro (*)




É uma cantiga de romaria, em honra de S. Pedro.
Pertence ao folclore da Mata. Fica aqui reproduzida para
Que se não perca.




Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx, 2005



SÃO PEDRO (Romaria da Mata)


Prò Carlos Rolo


S. Pedro vive sozinho,

Numa capela modesta.

Ao cimo do Azendinho,

Onde o povo vai em festa.



Onde o povo vai em festa,

E com muita devoção.

Leva merenda na cesta,

Cantigas no coração.



Toalha ‘stendida no chão

Do mais fino e alvo linho.

E sobre ela muito pão,

Chouriço, presunto e vinho.



Manuel Barata, FRAGMENTÁRIA MENTE, Ed. Alecrim, Sta. Iria, 2009



sexta-feira, maio 28, 2010

SONETO

Continua o mundo desconcertado,
Um mar de mentira e hipocrisia.
Desde Camões, pouco terá mudado,
Continua a mandar a vilania.


Os ricos, ousados e poderosos,
Ditam suas injustas leis ao mundo.
Incapazes de gestos generosos,
Tudo submetem ao dinheiro imundo.


Vivemos um tempo de submissão,
Que ignora princípios e valores.
O estudo, a probidade e a razão,


Deram lugar às cunhas e aos favores.
E assim corre a vida desta nação,
De engenheiros, bacharéis e doutores.

segunda-feira, maio 24, 2010

TERRAS DO MUNDO


95



Boa sopa de cação,
Por poetas celebrada,
É na vila de Mourão
Numa adega recatada.

96


Adega Velha chamada,
Vai-se lá por devoção:
Saborear a encharcada
E o bom guisado de grão.

97



Ali tudo é saboroso:
Peixe, carnes, vinho e pão.
Ah, até o bolo rançoso
Merece degustação.

sábado, maio 22, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 21 de Maio de 2010 - Vai-se discutindo o futuro do livro tal como o conhecemos hoje, com argumentos bons e maus e mesmo com não-argumentos. Eu confesso sem quaisquer constrangimentos que já leio menos do que lia, ainda que tenha centenas de romances para ler. Nunca fui um leitor compulsivo e nunca lia trinta e nove à hora. Apesar dos medos, e um deles é a internete (deixem-me lá usar o neologismo), nunca se produziu tanto livro como nos tempos que correm.

E a provar que o negócio não é mau, aí estão as grandes editoras, pujantes e endinheiradas, sempre prontas para investir neste ou naqueloutro segmento do mercado. E mesmo os pequenos editores, choramingões, lá vão resistindo e alguns rindo do que se vai escrevendo da crise de vocações para a leitura. Poucos, porque também os há, fecham as portas e dedicam-se a outras culturas.

E há também os livreiros, organizadores de feiras, aqui e além, que vão ganhando paulatinamente a vida, comprando restos de edições por tuta-e-meia e tentando vender pelo melhor preço. É gente que, diz-se, não gosta muito de livros. E há os ALFARRABISTAS, que gostam de livros e deles sabem falar com interesse, com eles ganhando também a vida como os anteriores, entre os quais podemos encontrar verdadeiros sábios.

Cá para mim o problema é mesmo de espaço, porque os livros são uns trastes que se insinuam insidiosamente e nos roubam quotidianamente o espaço.

PAISAGEM

REGIÃO DO ALQUEVA

sexta-feira, maio 21, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 21 de Maio de 2010 – Sempre proclamei urbi et orbi, apesar de saber da inutilidade das minhas proclamações, o apoio ao comboio de alta velocidade, vulgo TGV. E continuo convencido de que o país precisa do TGV e que só fará sentido adiar as obras, se a Espanha suspender as que têm que ser feitas do outro lado da fronteira.

Eu bem sei que esta minha posição é pouco patriótica, porque o patriotismo é monopólio da direita. No entanto, assumo, por minha conta e risco, a defesa do TGV, no qual ainda nunca viajei, mas que já vi passar em várias paragens do pouco mundo que conheço. Olha, e aqui está um verdadeiro achado: tenho visto passar o TGV, como Portugal tem visto passar muitos comboios. Gente com muito mundo quer o TGV fora das prioridades deste pobre país de pequenos e grandes crápulas.

Eu sou pelo TGV, incondicionalmente, mas reconheço que era necessário que se dissesse tudo com muita transparência ao povo. Ainda há dias, um português insuspeito, de nome Luís Delgado, defendeu a construção do TGV na televisão do senhor de Balsemão, porque é necessário aproveitar os fundos da EU. Como vou desconfiando da própria sombra, gostava que no mesmo dia e à mesma hora, o senhor Coelho e o senhor Sócrates, dissessem qual é a percentagem da comparticipação por parte da EU. E, ou ambos diziam o mesmo número, ou ficar-se-ia a saber que um deles estaria a mentir aos portugueses.

Eu quero o TGV, porque não quero que o meu país fique permanentemente a ver passar os comboios.

terça-feira, maio 18, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 18 de Maio de 2010 – Ouvi com atenção a entrevista de José Sócrates à RTP-1 e fiquei surpreendido com a ideia de que o mundo mudou imenso nas últimas três semanas. Eu já sabia que em 1917, o mundo mudara imenso em dez dias.

Pertenço aquele grupo de portugueses que lerem Jonh Reed e que ainda acham que a Revolução de Outubro foi o momento em que os russos e depois o mundo acreditaram que era possível fazer grandes transformações à escala planetária. A realidade, no entanto, foi bem diferente, porque os homens são naturalmente egoístas e não têm disponibilidade para abdicarem de privilégios. Estas, no entanto, são contas do meu diário.

Sócrates acha que os portugueses entendem as medidas tomadas pelo governo. Os portugueses não percebem o que está a acontecer, porque já lhes foram pedidos sacrifícios durante vários anos, pelos vistos inutilmente, e agora ainda lhe exigem mais, não se sabendo muito bem onde se quer levar o barco, se é que se quer levar o barco a sítio algum.

Sócrates esteve igual a si próprio, tal como Judite de Sousa, ainda que o facto da senhora estar igual a si própria não nos faça grande mossa. Já o facto de Sócrates estar igual a si próprio é grave, porque terá repercussões nas nossas vidas. Não pede desculpas, porque o mundo mudou, ou seja, a realidade foi tão dinâmica, que não foi possível fazer previsões e evitar a grande crise.
Aquela cara muito cerrada cheira-me a pose estudada. Sócrates, goste-se ou não dele, é um político a sério. Tem estofo, tem fibra, tem garra. Dizer que os portugueses são todos convocados para fazer sacrifícios, de forma equitativa, foi, em minha opinião, a coisa menos verosímil, das muitas coisas inverosímeis que debitou.

segunda-feira, maio 17, 2010

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 17 de Maio de 2010 – Este mês de Maio, que normalmente decorre morno e sem histórias, será recordado durante muitos anos como o mais terrível da nossa História recente. Tantas e tão gravosas são as medidas anunciadas, que as almas mais crentes poderão ser levadas a crer que estamos no fim do Tempo.

Parece nada escapar à fúria da governação e da oposição que se prepara para governar. Aumentam-se os impostos, cortam-se as despesas e anunciam-se outras malfeitorias para os do costume poderem continuar a dançar o tango. O tango da tanga para os dos costume, mas não para quem conduziu o país ao descalabro presente.

Pouco me interessam as opiniões dos ex-ministros das finanças e de outros actores da cena política actual. Pouco me interessam as opiniões de economistas, que sabem fazer contas, mas que parece desconhecerem que em matéria de economia não basta saber que três vezes nove são vinte sete, como dizia o meu amigo António Raimundo. Pouco me interessa o destino de Sócrates e de todos os Sócrates, que, decerto, sempre há-de ser melhor do que o da generalidade dos portugueses.

Interessa-me muito, no entanto, que as leis não tenham carácter retroactivo e que muitos dos beneficiários de reformas principescas, que agora debitam receitas para os outros, não sejam também atingidos como aqueles que no presente, trabalhando, garantem essas mesmas reformas. Interessa-me muito, no entanto, saber onde os políticos no activo e ex-ministros e outros políticos e também administradores de empresas públicas, têm o seu dinheiro depositado. Interessa-me muito saber, porque têm sido silenciados os escândalos do BPN e do BPP.

Interessa-me, por exemplo, que Portugal não seja um país transparente e solidário. Interessa-me que Portugal não seja o lodaçal onde os pescadores de águas turvas vão pescando a seu favor e a seu bel-prazer.

É que a crise não é para todos e os bois têm de ser chamados pelos nomes.

sábado, maio 15, 2010

Santa Iria de Azóia, 15 de Maio de 2010 - Baltasar Garzón, o célebre juiz espanhol que quis julgar Pinochet e quis, digamos assim, julgar crimes cometidos pelo franquismo, foi suspenso por um tribunal superior espanhol.

Eu nunca foi amigo de juízes, ou melhor dizendo, nunca tive juízes entre os meus amigos e não lhes credito qualquer simpatia. No entanto, o juiz Garzón goza da minha simpatia, porque tem mostrado uma coragem muito grande, quando enfrentou ou pretendeu enfrentar poderes com poderes excepcionais.

Para dizer o que me vai na alma, aqui fica escrito que a suspensão do juiz Garzón é mais um episódio da Guerra Civil de Espanha, que, como é bom de ver, é prolongada com mais este episódio. Em bom rigor, a Espanha nunca chegou a chamar os bois pelos nomes e aceitou a transição pacífica para a democracia sob inúmeras condições, nomeadamente, a de não tocar nos crimes hediondos perpetrados pelo regime de Franco.

O juiz Garzón calculou mal a correlação de forças. Meia Espanha, digo eu, ainda terceria armas por Franco. É assim a Espanha, a nossa vizinha e irmã Espanha, que assassinou Lorca e condenou ao exílio milhões de espanhóis.

quarta-feira, maio 12, 2010

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 12 de Maio de 2010 – Há vários dias que não dou continuidade a este Diário. E não é por falta de assuntos. Acontecimentos extraordinários da minha vida pessoal, muito mais importantes que a crise e a visita do Papa a Portugal, têm-me impedido de lhe dedicar o tempo habitual.

A visita do Papa tem sido indiscutivelmente um acontecimento; porém, nada que não fosse esperado neste território republicano, de regime político teoricamente laico e de pretensa matriz socialista. Portugal é isto mesmo: um país de brandos costumes, cujos governantes não têm, nem nunca terão, a ousadia de Zapatero. E ali os vemos, nos seus postozinhos protocolares, a assistirem à missa, inabaláveis na sua fé católica, apostólica e romana.

Mas o meu ponto hoje não era este. Fui surpreendido, logo pela manhã, com a notícia de que Sarkozy se atrasou para conversar com outro e/ou outros estadistas, porque ele a sua esposa tiveram vontade de fazer sexo. Pobre Mundo, pobre Europa, pobre França!

É bom que os políticos tenham sexo, para não serem confundidos com os anjos, mas não políticos destes, que têm a lata de fazer e publicitar actos desta natureza. Este Sarkozy será uma excepção, mas é a prova provada de que a França é agora uma coisa sem grandeza, onde pululam sarkozys.

Estamos entregues a boa gente.

sábado, maio 08, 2010

" No me digan a mí
que el canto de la cigueña
nos es bueno para dormir"
Rafael Albertí
6


Continua o mundo desconcertado,
Um mar de mentira e hipocrisia.
Desde Camões, pouco terá mudado,
Continua a mandar a vilania.


Os ricos, ousados e poderosos,
Ditam suas injustas leis ao mundo.
Incapazes de gestos generosos,
Tudo submetem ao dinheiro imundo.


Vivemos um tempo de submissão,
Que ignora princípios e valores.
O estudo, a probidade e a razão,


Deram lugar às cunhas e aos favores.
E assim corre a vida desta nação,
De engenheiros, bacharéis e doutores.

Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA,Ulmeiro, Lx., 2005.





sexta-feira, maio 07, 2010

3



Ó lendária serra lusitana,
Alvíssima princesa celebrada!
Tua beleza eterna não engana
E renova-se em cada madrugada.


Por ti tenho um amor puro e constante
Que desde a minha infância perdura,
Quando te via altiva, lá distante,
Ó serra rigorosa, enorme e dura!


Eram outros os tempos... Os pastores
Desertaram, cansados, prá cidade.
Deram descanso às flautas. Permanece


A noite povoada de pavores
Muita melancolia, a saudade
E este amor que a beleza rara tece.

terça-feira, maio 04, 2010

10


Passou pelo mundo, excêntrico e atrevido, um argentino a quem os deuses, um dia, negaram a luz. Onde quer que ia, diz-se, inundava os sítios com preciosas pedras, que irradiavam mais luz do que muitos sóis.

Modestamente, dessas pedras disse que uma só, se boa fosse, lhe daria todo o contentamento que os humanos podem experimentar. Enganou-se! Feitos os necessários testes, os sábios confirmaram que todas aquelas preciosas pedras eram veras fontes de luz.

Hoje, há uma legião de fiéis que se esforça para ordenar e descrever para todas as línguas do mundo as tais preciosas pedras, que são também sábias e raras.

Normal não é; porém, às vezes, os humanos vingam-se dos deuses.
Barata, Manuel, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005.

domingo, maio 02, 2010

DO MEU DIÁRIO

MATA -CENTRO CULTURAL JOAQUIM MOURÃO
Santa Iria de Azóia, 2 de Maio de 2010 - A Mata, diga-se em abono da verdade, tinha uma toponímia, no mínimo, curiosa. Eu creio que o inventor da toponímia matense foi um senhor de nome Manuel Luís - a tuberculose levou-o tão cedo! – que era acordeonista e que com a chegada da electricidade à Mata, também se tornou electricista.

Que foi Manuel Luís o contratado para pintar os rectângulos e desenhar as letras, não tenho quaisquer dúvidas. Já no que à autoria dos topónimos concerne, tenho as minhas dúvidas, que não são muitas, porque a Mata não teve nenhuma rua Professor António de Oliveira Salazar, nem Almirante Américo Tomás, nem com qualquer outro nome sonante do regime deposto, em 25 de Abril. E este facto não deixa de ser extraordinário, se se atender à circunstância de os regedores e os membros da junta de freguesia serem pessoas alinhadas com o regime. Não escreverei aqui, até porque já dormem o sono eterno, o nome de nenhum dos servidores do salazarento regime.

A única rua que tinha um nome histórico era a 1º de Dezembro, porque as restantes tinham o nome dos santinhos da devoção do povo e outra do Espírito Santo. S. Pedro e S. Sebastião tiveram direito a rua e travessa e Santa Margarida, na sua qualidade de padroeira, teve direito à rua maior e mais larga, ainda que só o 25 de Abril a viesse a calcetar, bem como as restantes do Entrego, ou seja, todas as ruas da Mata situadas para além da Igreja Matriz.

Nos últimos anos a coisa mudou: já havia a rua Melo Sanches e também a Professor Lucas Falcão. Não vou discutir a justeza da atribuição daqueles nomes a ruas da Mata, porque ambos foram pessoas muito importantes e à Mata ligados. O segundo até era o meu padrinho do crisma e a boca de um afilhado deve manter-se calada, mesmo quando possa discordar de tal atribuição. A Torre do Tombo, se alguém lhe tivesse perguntado, provavelmente, daria uma excelente resposta. Mas como agora se diz, está feito, está feito e prontos.

Os últimos baptizados, o Centro Cultural e uma nova rua ou avenida, receberam o nome do senhor Presidente da Cãmara Municipal e de um senhor Botelho, de não sei donde; um, decerto, por ser Presidente e amigo da Mata; o outro, porque terá facilitado a construção da semicircular, que também dará continuidade à via que há-de ligar a Mata a Idanha-a-Nova, quando a ponte vier a ser feita. Boas razões, portanto.

O bom povo da Mata, que sempre foi muito ordeiro e obediente, premeia sempre, com imensa justeza, aqueles que lhe fazem bem. E desta vez… Desta vez, como habitualmente, tudo voltou a acontecer sem surpresas.