sábado, março 21, 2009

SEMPRE A POESIA

(Recordando José Gomes Ferreira)



Prostituta fecunda
Que penetras na vida
De forma profunda.


Alento nas horas más,
Dita ou cantada
E instrumento de paz
Em cada madrugada.


Do nosso amor
Cheio de magia,
Há sempre parto,
Há sempre dor
E alegria.

AS PALAVRAS

I

Ah, as palavras...
-essas frágeis rosas,
que sustentam
o meu mágico poder!

Com elas amo
e digo a indizível
beleza do teu corpo.

Com elas reinvento,
hora a hora,
a vida e o mundo.


II

Sem as palavras,
não poderia cantar
a casta flor da laranjeira
nem as manhãs de verão.

E como poderia cantar
este país sempre embriagado de sol?


III


Com as palavras tudo faço.
Ás vezes,
até pinto o céu
melhor do que os pincéis
de Picasso.



DA POESIA

Há quem pense
que é muito fácil
este velho ofício
de versejar.


Há até quem pense
que Bocage,
quando desafiado,
respondia
imediatamente
com decassílabos
sonorosos
e exactos.


Sabem os que fazem
que a espontaneidade
é técnica,
trabalho,
tenacidade.


SEMPRE AS PALAVRAS

Com palavras constroem verdadeiros monumentos: precários, às vezes; às vezes, teimosamente resistentes. Alguns chegam até nós, vindos do fundo do tempo, frescos e incorruptíveis; outros, igualmente frescos, trazem a pequena mossa da corrupção em notas de rodapé.
Todos esses monumentos – de que os poetas são arquitectos e pedreiros, engenheiros, pintores, carpinteiros -, se falar pudessem, dariam conta de inumeráveis batalhas ganhas com galhardia e perseverança, desde o surgir da pura ideia até ao assentamento da última pedra.
Acreditai-me, ó gentes profanas!, que não é fácil recriar permanentemente o mundo com as humílimas palavras, para vo-lo servir pleno de harmonia em esplendorosas bandejas de oiro.

Manuel Barata, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lisboa, 2005

quarta-feira, março 18, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 18 de Março de 2009 – Nunca ninguém escondeu que a CGTP é uma organização sindical fortemente influenciada pelo PCP. E o facto só demonstra que o PCP sabe estar ao lado daqueles que lutam e sofrem neste e por este país, contra as políticas de direita que os sucessivos governos do centrão de interesses têm levado a cabo.

É preciso ter lata. No congresso fundador da UGT, que tem sido um modelo de organização sindical, não faltaram Mário Soares, Freitas do Amaral e Francisco Sá Carneiro; porém, fazem-se esquecidos e desentendidos, para lançar os ataques mais descabelados à Intersindical Nacional. Repito: é preciso ter lata!

O que maça esta gente não é a CGTP ter na sua direcção inúmeros comunistas. O que maça esta gente é o PCP e a CGTP terem esta grande capacidade de abnegação e luta. Estivessem ambos quietinhos e deixassem esta trupe fazer os seus números sem contestação e tudo estaria bem. Só assim se explica a “campanha negra” lançada contra a CGTP por este governo, nas últimas semanas.

Um governo dito socialista ….eheheh!!! O Parvo Joanes de Gil Vicente não diria menos.

segunda-feira, março 16, 2009

DO MEU DIÁRIO

Cotovia, 14 de Março de 2009 – Entre os discursos de Sócrates e os de Salazar, começa a não haver grandes diferenças. O comentário de Sócrates à manifestação da CGTP é sintomático de que este 1º ministro e secretário-geral do PS tem tiques de um autoritarismo inusitado, desde o 25 de Abril de 1974 até à sua chegada ao poder.

Quando o governante de turno não acha importante e interessante o argumento do número, mas privilegia, em abstracto, o argumento de que o que fez foi bom para o país, a matriz discursiva é já salazarenta. Sustentava a Constituição 33 que acima dos interesses individuais e colectivos se situavam os interesses da nação, que, naquele tempo, se grafava com maiúsculas.

Ora a nação, digo eu, é o conjunto dos indivíduos que partilham um mesmo conjunto de valores, que pode ou não incluir o território, que pode incluir ou não a língua, que pode ou não incluir a mesma História, que pode ou não incluir as mesmas tradições, que pode ou não incluir a própria nacionalidade; mas havemos de convir que não há país sem território e sem Estado politicamente organizado, sem um povo que o ocupe e que nele sonhe e crie.

Parece-me arrogância – e arrogância da pior, que um qualquer comentador de TV e carreirista da política, embrulhado em múltiplos episódios nada recomendáveis como exemplo aos nossos filhos, se esteja nas tintas para uma parte significativa do seu povo, com o argumento totalitário de que o que está a fazer é para bem do país.

A política deste governo é tão boa para o país, como o terão sido os célebres projectos de arquitectura do mesmo autor, que a comunidade nacional já apreciou vastamente através da “internete”.

sábado, março 14, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 14 de Março de 2009 – Era dia de manifestação da CGTP em Lisboa, uma das maiores de sempre, dizem os jornais de hoje; porém, a notícia do dia foi a entrevista de Manuel Alegre à Antena-1, que já foi Emissora Nacional, no tempo em que os médicos de todo o mundo recomendavam a Binaca.

Eles e elas lá sabem porquê!

É evidente que estamos distantes do tempo em que se proclamava: “verdade é só uma; a rádio Moscovo não fala a verdade”; porém, estamos no tempo em que as tricas de um cidadão com o seu partido se sobrepõem a muitas dezenas de milhar de cidadãos, que, na rua, exigem uma nova política e melhores condições de vida para quem trabalha.

Na verdade, o grande acontecimento do dia de ontem, isto é, aquele que verdadeiramente conta, é a manifestação da CGTP, que é o prenúncio de outras grandes manifestações que hão-de realizar-se em 2009. 2009, que vai ser uma caixinha cheia de surpresas. Atrevo-me a vaticinar: muitas e grandes surpresas.



domingo, março 08, 2009

NARRATIVA

Um dia,
Tropecei num livro
E fiquei agarrado.

Ao primeiro,
Outros livros
Se seguiram.

Sentei-me então
E um a um
Fui-os folheando.

Lendo sempre,
Com a avidez
Dos amantes.

Deixei correr
O tempo,
Inexoravelmente.

E agora,
Só quero ficar
Sentado.

Até quando?

Até quando
É a pertinente
Pergunta.
GOSTA O POVO DESTA MALTA


Gosta o povo desta malta
De falajar fluido e forte;
Faz vénias aos da alta,
Aos do Sul e aos do Norte.

Vive sempre acocorado
Face à gajada do mando.
Fica em casa acagaçado,
Só reage de vez em quando.

Aceita o roubo e a pobreza
Como coisa natural.
E consente que a esperteza
Vá mandando em Portugal.

Venera beatos e santos
Aos quais roga protecção.
Adora rezas e prantos
E andar de chapéu na mão.

Um dia há-de acordar.
Precisa de um abanão
E aposto que há-de lutar
E à canalha dizer não.

Se lava ou não no rio,
É coisa de pouca monta.
Antes o qu’ria com brio,
Força, coragem e ponta!


sábado, março 07, 2009

DO MEU DIÁRIO

Eu até gosto do deputado José Eduardo Martins, que só conheço de ver debater com outros políticos, na SIC-Notícias. Tirando o sotaque alto beirão, ou seja, aquela zoada do s, o senhor é fluente, não comete erros de sintaxe e é afável, sem deixar de ser combativo.

O DN dedica hoje o “Editorial” a um caso, não sei qual, que terá ocorrido entre o já referido José Eduardo Martins e um tal Afonso Candal, que presumo seja filho daquele antigo deputado aveirense que uma vez afirmou que Portugal era governado pelos “lobies” gay, maçónico e católico.

A coisa terá sido grave para merecer um “editorial” do DN. Mas como o editorialista se perde em falsas considerações teóricas sobre questões parlamentares, fiquei sem saber o que efectivamente se passou.

E se calhar também não perdi nada.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 7 de Março de 2009 – A crise é séria e já atinge muitas famílias portuguesas. Nomeadamente, aquelas em que alguns dos seus membros já perderam o seu posto de trabalho. Tudo se agudizará nos próximos tempos e já há os que prevêem muita agitação nas ruas. Os sábios chegam agora à conclusão a que eu já tinha chegado há vários anos neste espaço e não sou pago principescamente para debitar opinião. E quando previ que tudo voltaria a resolver-se nas ruas, a questão não era de fé.

Com o advento do “reaganismo”, ou seja, do neo-liberalismo, concluiu-se que se tinha chegado ao fim da História. Ideia peregrina, sem dúvida, porque ninguém pode dispor, à moda de testamento de bens pessoais, para o futuro da humanidade. E o mesmo se poderá dizer da chamada morte das ideologias. Nem a História chegou ao fim, nem as ideologias passaram de moda.

Era bom que se tirassem todas as consequências da actual crise e que se responsabilizassem os apóstolos da saníssima e libérrima concorrência que, afinal de contas, nos conduziu a este beco. E não me venham agora com a “porra” do regulador não ter cumprido. O caso é de polícia e há que prender os ladrões, que, diga-se com toda a frontalidade, foram os apóstolos das desgraças presentes.

Quem, de entre tantos, terá a coragem de se acusar na praça pública?

DO MEU DIÁRIO

Apesar de pertencer à classe, confesso, com toda a franqueza, que não tenho nenhuma simpatia especial pelos trabalhadores da Administração Pública e Local. E não se trata aqui de qualquer falta de auto-estima. Esta minha posição radica no conhecimento que tenho da classe e dos seus defeitos e virtudes.

Porém, quando me saem na rifa figueiredos e quejandos, capazes de trucidar tudo e todos, digo cá para os meus botões: “alto aí pára o baile!”. Os funcionários públicos e da Administração Local foram admitidos pelos detentores do poder, ao longo de várias décadas, e executam as leis e os decretos-leis que a Assembleia da República e o Governo vão produzindo. Se são muitos e se há muitos à rédea solta, que se peçam contas aos dirigentes que o poder nomeia. O cidadão, que se queixa da burocracia, deveria, antes de mais, queixar-se daqueles que elege.

Durante o efémero Governo de Durão Barroso, D. Manuela Ferreira Leite lançou as piores críticas sobre os funcionários públicos. Dir-se-ia que a senhora, durante a sua breve passagem pelo poder efectivo, fez pior aos funcionários públicos do que todos os mandantes desde 1143. Pior, só mesmo os mandantes que lhe sucederam, porque apanharam a boleia e zás! Vai de cascar nos funcionários públicos, que a coisa rende, porque o povoléu não funcionário público gosta que casquem nos funcionários públicos.

Dentro de dois ou três anos, vou às Caldas e ofereço-lhes um Rafael Bordalo Pinheiro.

sexta-feira, março 06, 2009

DO MEU DIÁRIO

Confesso que Portugal me cansa, me entristece, me entedia. E no entanto, parece haver sempre um no entanto, na minha relação com este pais de clima doce e um povo sereníssimo. Sim, povo sereníssimo, porque se assim não fosse, há muito que tinha dado um grande estoiro.

Este país é o mesmo que suportou o manholas de Santa Comba e o pobre Santana Lopes; e suporta ainda, o arrogante e manhoso Sócrates. Este é um país que vive bem com autocratas e patuscos. Um país assim jamais ousará seja o que for e há-de ficar à espera de um qualquer Sebastião.

No fundo, Portugal é esta droga que tanto amo e sou.

*

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 6 de Março de 2009 – Portugal é um país esquisito. Neste rectângulo de clima ameno, ombreiam as grandes fortunas e a mais abjecta miséria. E a desculpa é sempre a mesma: o país tem poucos recursos; o país é pobre.

Não se diz, obviamente, que Portugal é um pobre país. E por que será que os tratantes, que vão chupando a teta da porca da pátria, nunca antepõem o adjectivo? Esta é, também obviamente, uma questão que os pobres professores de Português tentam explicar.

Portugal não é um país pobre. Portugal é um pobre país. Infelizmente, entregue a mariolas da pior espécie. Tenho dito!

quarta-feira, março 04, 2009

MOMENTOS

Do cimo desta torre,
Que ajudei a construir,
Vejo, para além do casario,
Uma magnífica ponte
Sobre um majestoso rio.

Subitamente,
Ocorre-me Cesário Verde
E também velhas crónicas navais.
Gama,
Nas horas de borrasca,
À divina providência implorando
E Albuquerque,
Pequeno
Mas firme no seu posto,
Praças e mais praças conquistando.


Do cimo desta torre,
Que ajudei a construir,
Observo agora o risco de fumo
Do último avião
E esqueço-me das velhas crónicas
E dos heróis das batalhas navais.


Para além do casario,
Vejo apenas
Uma magnífica ponte
Sobre um rio.

Uma ponte magnífica
E um rio...

COMO CATULO

Se eu fosse como Catulo,
Poeta de inspiração,
Em teu corpo, amor, havia
De gravar mil versos, mil!,
De grata recordação.

Com os dedos e os lábios,
Lascivos e enlouquecidos,
Nele havia de escrever
A mais pura poesia.

Disse bem, amor, havia!

domingo, março 01, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 28 de Fevereiro de 2009 – O segundo dia do congresso do PS ficou marcado pelas críticas aos partidos de esquerda, que estiveram a cargo de António Costa, ao BE, e de Augusto Santos Silva, ao PCP.

As críticas feitas ao PCP pelo inefável Augusto Santos Silva são um nojo. O que faz mossa a Santos Silva não é o facto de o PCP ter relações institucionais com o PC da Coreia do Norte; o que molesta este Silva é o facto do PCP fazer uma oposição consequente e continuada às políticas do desGoverno do PS. O que faz mossa aos portugueses não são as relações do PCP com o PC da Coreia do Norte; o que faz mossa aos portugueses são as políticas anti-sociais do desGoverno PS, que encurta diariamente os direitos de quem trabalha e dilata os dos especuladores.

Neste congresso temos de regresso os fazedores de promessas, que tentam reposicionar o PS à esquerda. Temos de volta os cartomantes e prestidigitadores do costume. Portugal merecia mais e melhor.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 28 de Fevereiro de 2009 – O segundo dia do congresso do PS ficou marcado pelas críticas aos partidos de esquerda, que estiveram a cargo de António Costa, ao BE, e de Augusto Santos Silva, ao PCP.

As críticas feitas ao PCP pelo inefável Augusto Santos Silva são um nojo. O que faz mossa a Santos Silva não é o facto de o PCP ter relações institucionais com o PC da Coreia do Norte; o que molesta este Silva é o facto do PCP fazer uma oposição consequente e continuada às políticas do desGoverno do PS. O que faz mossa aos portugueses não são as relações do PCP com o PC da Coreia do Norte; o que faz mossa aos portugueses são as políticas anti-sociais do desGoverno PS, que encurta diariamente os direitos de quem trabalha e dilata os dos especuladores.

Neste congresso temos de regresso os fazedores de promessas, que tentam reposicionar o PS à esquerda. Temos de volta os cartomantes e prestidigitadores do costume. Portugal merecia mais e melhor.